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AI, MANO
— Não acredito que está realmente levando isso adiante — Disse Qing.
Eu estava juntando em um saco de lixo as coisas que não guardaria enquanto conversava com minha irmã antes de uma de suas apresentações.
— Não é o que eu quero. Aqui me sinto seguro, mas é necessário para a minha sanidade.
— Ele não vai cobrar a multa por quebra de contrato de aluguel?
— Não.
— Que bom, porque poderia.
— Ele sabe por que vou me mudar. Wangji não faria isso comigo. Temos sido cordiais um com o outro desde a noite na cama dele, quando perdi a cabeça. Ele não está satisfeito, mas entende. E sabe que não pode me impedir.
— E o cachorro, como está?
— Drewfus está bem. Tenho ido vê-lo. Ele ainda está se recuperando, mancando, mas vai ficar bem, graças a Deus.
— Que bom. Quando você se muda?
— Em duas semanas. A casa nova ainda não está vazia.
Estou arrumando as minhas coisas sem pressa. Papai e mamãe vêm me ajudar com os móveis maiores no dia da mudança.
— Queria poder ir também, mas não vou ter folga no teatro por um bom tempo.
Fiz uma pausa antes de perguntar:
— Acha que estou sendo ridículo?
— Como assim?
— Mudar de casa porque não consigo controlar as minhas emoções. Em um mundo ideal, eu simplesmente aprenderia a lidar com isso, não?
— Bom, o que você sente por ele não parece ser fácil de controlar. Está se afastando de uma situação que seria dolorosa a longo prazo. E está tratando tudo de maneira direta e clara, em vez de inventar desculpas para ir embora. Isso é corajoso. Então, não, não acho que está sendo ridículo. Acho que o ridículo é ele.
Suspirei aliviado.
— Obrigado.
— Mais gente devia tratar os sentimentos com essa honestidade, mesmo que doa. — Ouvi uma voz do outro lado, alguém que chamava Qing pelo interfone. — Merda. Tenho que ir — ela disse.
— Obrigado por me ouvir, como sempre. Tenho que levar essa tralha toda para a caçamba de lixo lá fora.
— A gente se fala mais tarde, mano.
Quando voltei depois de jogar o lixo, uma voz me fez parar quando eu abria a porta do apartamento.
— Você deve ser  Wuxian.
Era a voz de Wangji.
Virei e, por uma fração de segundo, pensei que fosse Wangji. O cara no corredor era a cara dele. Tive que piscar algumas vezes antes de deduzir que era o irmão.
— Isso. Oi. E você é o Shizui.
Com um sorriso megabrilhante, ele disse:
— Pode me chamar de Shi.
Mas que delícia.
Havia mais deles.
— Shi. — Sorri. — É um prazer.
— O prazer é meu.
Olhando com mais atenção, ele não era exatamente a cara de Wangji. Shizui tinha uma beleza de astro de cinema, enquanto Wangji era mais rústico. Mas eram os mesmos olhos dourados e lindos, a mesma pele  (sem a tatuagem no braço), a mesma estrutura óssea, o mesmo porte e o mesmo sorriso sedutor. Meu Deus, que genética!
A porta se abriu. Wangji saiu segurando um acendedor para churrasqueira.
— Esqueci de te dar o...
A expressão de Wangji ficou sombria quando, desconfiado, olhou para mim, depois para o irmão. Ele engoliu a saliva.
— Já conheceu  Wuxian, pelo que vejo.
— Sim. E você não foi muito honesto, W. Você disse que ele era bonito, não falou que era um arraso.
— Vai com calma, ou vou ter que te mostrar o que é um arraso.
Opa.
Meu rosto queimava.
Shizui riu e pegou o acendedor, aparentemente indiferente à ameaça do irmão. Depois olhou para mim.
— Fiz você ficar vermelho.
Wangji reagiu rápido.
— Ele fica vermelho com tudo.
Pigarreei e olhei para ele.
— Os cachorros estão com o YuBin?
— Estão.
— Eu imaginei, está tudo muito quieto.
Wangji me encarou por alguns instantes, antes de Shizui interromper o concurso de encarada.
— Vamos fazer um churrasco no quintal. Devia ir jantar com a gente.
— Wuxian deve ter coisas melhores para fazer... tão perto da mudança.
Confuso, o irmão dele olhou para nós, de um para o outro.
— Que mudança?
— Ele vai se mudar para outro apartamento.
— Aqui no prédio?
— Não. Do outro lado da cidade — Wangji respondeu.
Shizui parecia chocado.
— Por quê?
Eu respondi:
— É uma longa história. Preciso mudar de ritmo.
— Wangji não falou nada.
Wangji ainda olhava para mim quando disse:
— Não tive chance.
— Bom, se vai se mudar logo, tem mais um motivo para jantar com a gente.
Eu estava curioso.
Queria jantar com eles.
— Sabe... passei o dia encaixotando e separando coisas.
Não tive tempo para pensar no jantar, então acho que vou aceitar.
Shizui acionou o acendedor.
— Legal. Faço uma espiga de milho assada maravilhosa.
— Ele adora uma espiga — Wangji provocou.
Balancei a cabeça diante da disputa cômica e perguntei:
— Posso levar alguma coisa?
— Só sua beleza — Shizui respondeu. — Ficou vermelho de novo.
— Na verdade, acho que vou levar uma bebida. — Eu precisaria, com certeza.
Passei no apartamento para pegar uma garrafa de vinho e trocar de roupa, e fui encontrar Wangji e Shizui no quintal.
Segui as colunas de fumaça atrás do prédio, onde eles haviam montado uma churrasqueira com chaminé e três cadeiras estilo Adirondack. A noite era perfeita para um churrasco, fria e seca com o sol se pondo.
E pude acrescentar cavalheirismo à lista de qualidades de Lan Shizui.
— Wuxian, deixa eu abrir a garrafa para você.
Ele era encantador. Não era à toa que Wangji parecia ter faíscas nos olhos quando viu o irmão abrindo meu vinho e servindo a bebida na taça que eu tinha levado.
— Senta aqui, assim a fumaça não vai no seu rosto. — Shizui apontou a cadeira onde estava sentado antes.
— Obrigado. — Sorri e olhei para Wangji com a intenção de começar uma conversa.
— Perdeu a chance de fazer uma piada sobre mim e fumaça. Está perdendo o jeito.
Ele ainda parecia irritado quando levantou o olhar da churrasqueira.
— Que foi?
— Deixa pra lá.
Shizui bebeu um gole de cerveja e gesticulou com a garrafa.
— Ah, é mesmo. Ele me contou que você quase pôs fogo no prédio.
— É verdade. Essa é uma piada recorrente entre nós .
Confirmei.
— Ah, isso quando Wangji encontra o senso de humor.
Evidentemente, hoje não é um desses dias. — Ele levantou o indicador. — Ah, falando em fumaça, trouxe uns cubanos.
— Eles vêm jantar também?
Shizui riu.
— Ai, que fofo.
Wangji não conseguiu conter um sorriso.
— Charutos, Wuxian.
— Ah.
Shizui tirou um saquinho com os charutos do bolso interno da jaqueta.
— São para depois do jantar. — Ele olhou para mim.
— Quer fumar um comigo mais tarde?
— Nunca fumei charuto.
— Estes são os melhores. Montecristo. Você precisa experimentar.
— Ah, talvez.
— Aliás, Wangji está fazendo dois tipos de carne. Uma foi temperada por mim; a outra, por ele. Vai ter que dizer qual delas é melhor. Não vou contar qual é qual.

Quanta sacanagem na minha cabeça. Vou experimentar a carne dos dois. Maravilha.
Tira a cabeça da sarjeta, Wuxian!

— O que é isso, mais uma edição da disputa da pizzaria? — Ri.
— Você sabe disso?
Wangji finalmente se juntou a nós.
— Sim, contei para ele como te enchi de porrada naquele dia e não vou pensar duas vezes para fazer de novo, se for preciso.
— Mas que mau humor, Wangji — Shizui provocou antes de olhar para mim.
— E aí, quando se muda?
— Em duas semanas.
— Decisão irrevogável?
— Sim. A pessoa que mora no meu novo endereço já deve ter saído de lá nesse tempo. Aluguei um caminhão, e meus pais vêm me ajudar.
Wangji abriu uma cerveja e disse:
— Pode falar que não precisa.
— Por quê?
— Eu vou fazer sua mudança.
— Não precisa.
— Nós dois podemos ajudar — Shizui falou. — Seus pais nem deviam fazer esse tipo de coisa.
Wangji olhou para ele de um jeito que dizia que estava irritado com a oferta.
— Bem, muito obrigado. Meus pais virão do mesmo jeito, provavelmente, mas podemos usar a força dos braços masculinos para as coisas mais pesadas.
— Por que vai se mudar mesmo? — Shizui perguntou.
Eu não respondi. Não passaria essa vergonha na frente dele.
Ele sentiu a minha apreensão.
— Tudo bem. Não precisa explicar. Não é da minha conta.
— Não é. — Wangji falou antes de se levantar de repente.
— Acho que a comida está pronta. — Dava para cortar a tensão no ar com uma faca de churrasqueiro.
— Não esquece de servir para ele um pedaço de cada tipo de carne — Shizui lembrou.
Wangji distribuiu porções de cubinhos e fatias de carne,
Milho e vegetais grelhados em três pratos de papel.
Eu levantei para pegar o meu.
— O cheiro está maravilhoso. Não acredito que nunca tínhamos feito um churrasco aqui.
— Bom, tecnicamente, não permito churrascos no prédio.
— Ah, é verdade. Bom, felizmente, tenho um lance com o síndico. — Sorri. — Isso é legal. Obrigado por terem me convidado.
A expressão no rosto de Wangji suavizou e acabou se transformando em um sorriso.
— Você não se deixou intimidar pelo meu humor horroroso. Fico feliz por estar aqui.
— Eu também.
Nós três comemos em silêncio por um tempo, até Shizui me colocar na berlinda.
— E aí, qual carne achou mais gostosa? Os cubinhos ou as fatias?
Olhei para os dois irmãos lindos e de sorrisos iguais e não consegui não dar risada da competição. Bebi um gole de vinho, cruzei as pernas e me recostei na cadeira, fingindo ponderar como se essa fosse uma decisão difícil. Na verdade, o sabor das fatias de carne era fenomenal se comparado aos cubinhos.
— As fatias ganham. Ficaram deliciosas.
A expressão vaidosa de Wangji revelou que essa era a receita de tempero dele. Shizui balançou a cabeça e bebeu o restante da cerveja, enquanto Wangji gargalhava. Fazia sentido que minhas papilas gustativas gravitassem na direção da receita que ele preparara. Tudo em mim era atraído por esse homem, pelo jeito.
Ouvi as histórias que Wangji e Shizui contavam sobre a infância em San Jose.
O clima pesou um pouco quando Shizui perguntou:
— Tem falado com a mamãe?
— Não falo há alguns dias, por quê?
— O médico receitou um remédio novo. Ela disse que dá enjoo. — Ele hesitou.
— Tudo bem falar desse assunto na frente do Wuxian?
— Sim, ele sabe sobre a depressão. — Wangji esfregou os olhos e suspirou. — Vou ter que trazê-la para cá, mesmo que ela não goste. Talvez no fim de semana. — Ele olhou para mim. — Minha mãe não dirige.
— Eu não sabia.
— Ela dirigia, mas começou a ter ataques de pânico cada vez que pegava a estrada. Um de nós tem que ir buscá-la quando ela vem ver a gente.
— Ela nunca mais foi a mesma depois que nosso pai morreu — Shizui explicou.
— Eu sei. Wangji me contou.
Wangji mudou de assunto:
— E aquele charuto?
Shizui abriu o saquinho plástico.
— Vai fumar um também, Wuxian?
Dei de ombros.
— É claro.
Ele cortou a ponta dos charutos e deu um para Wangji e um para mim. Esfregando-o entre os dedos, aproximei-o do nariz e senti seu aroma picante, mas terroso. Shizui se aproximou com o acendedor de churrasqueira e acendeu meu charuto.
Chupei a fumaça e tossi.
— Você não tragou, não é?
— Só um pouco.
— Não. — Shizui pegou meu charuto e o levou à boca, puxando a fumaça devagar e soprando-a em seguida em meu rosto.
— É só saborear por uns segundos e soltar.
De repente, fiquei muito vermelho. Tinha alguma coisa nas palavras dele que sugeriam uma conotação sexual. Quando olhei para Wangji, vi que a cara feia e ameaçadora de antes havia retornado.
— Quanto mais longo e grosso é o charuto, mais intenso
Ele é — disse Shizui.
— Isso vale para muitas coisas, o que é uma pena para você, maninho — Wangji comentou antes de aspirar a fumaça do charuto.
Shizui riu.
— Cala a boca, porra.
Quando comecei a entender como se fumava um charuto, me reclinei na cadeira e olhei para o céu enquanto soprava círculos no ar.
Em meio ao silêncio, senti que os dois olhavam para mim.
Shizui foi o primeiro a falar:
— Tem alguma coisa muito sexy em um homem fumando charuto.
— Sério? Um homem? Ou esse homem? — Wangji disparou.
— É verdade. Depende do homem.
Um silêncio desconfortável pairou no ar.
A pergunta que Shizui fez em seguida me pegou de surpresa:
— Vai fazer alguma coisa hoje, Wuxian?
— Hã... não.
— Quer ir ao Diamondback’s?
Eu sabia que esse lugar era um bar e boate não muito distante do prédio e que lá sempre havia música ao vivo e dança.
Olhei para Wangji procurando alguma indicação. O irmão dele estava me convidando para sair só com ele? Estava dando em cima de mim? Wangji ia deixar? Ele se importava com isso, ou as ameaças de confronto eram só consequência da natureza competitiva dos dois?
Acho que era isso que eu queria descobrir quando disse:
— Deve ser divertido. Quero.
— Legal.
Wangji não falou nada. Só continuou me encarando enquanto soprava anéis de fumaça.
Levantei, ajeitei a blusa e dei o charuto para Shizui.
— Vou tomar um banho e trocar de roupa, então.
— Boa ideia. — Ele sorriu.
Voltei ao apartamento meio nervoso. O que eu estava fazendo? Não ia mentir: estava magoado por Wangji não ter falado nada quando Shizui me convidou para sair. Sem saber exatamente com o que havia concordado, eu me sentia meio inquieto.
Me troquei depois de me olhar no espelho sai do meu apartamento.
Com uma risadinha nervosa, bati à porta do apartamento de Wangji.
Shizui abriu a porta com a mesma calça jeans e camiseta preta que havia usado lá fora. Ele tinha molhado o cabelo e devia ter passado perfume, porque dava para sentir no ar.
Como dava para sentir a tensão e a testosterona.
Vi Wangji apoiado à bancada da cozinha. Ele também estava com o mesmo jeans escuro, mas havia trocado a blusa e agora vestia uma camisa cinza que realçava o peito. E estava de touca. Eu adorava quando ele usava a touca e deixava o cabelo aparecendo na frente. As mangas estavam enroladas, deixando à mostra a tatuagem do antebraço. O olhar furioso surtia o efeito esperado em mim. Estava me fazendo pensar na ameaça daquela noite em que mandei a mensagem depois de beber, a de me empurrar contra a parede e trepar comigo com raiva. Ele estava tão lindo que até esqueci por que eu estava ali enquanto o encarava.
Shizui se aproximou de mim por trás.
— Vamos?
— Sim.
Quando eu já pensava que Wangji nos deixaria ir, ele começou a nos seguir em direção à porta.
Eu me virei.
— Não sabia que você ia.
— Não ia, mas mudei de ideia.
Nós três andamos em silêncio para o Diamondback’s, que ficava a três quarteirões do prédio.
Era noite de música dos anos 1980 e 1990. Não tinha banda, só um DJ. Quando entramos, ele tocava “2 Become 1”, das Spice Girls, e eu me lembrei de quando cantava essa música na frente do espelho com minhas irmãs.
Shizui se inclinou para mim.
— O que vai beber?
— Você já sabe que ele gosta de vinho branco — Wangji resmungou.
— Talvez ele queira outra coisa.
Esses dois estavam falando sério?
— Uma taça de Chardonnay seria ótimo.
Shizui foi buscar as bebidas e eu fiquei com Wangji. Foram três minutos longos e nada confortáveis até o DJ começar a tocar “Burning Down the House”, do Talking Heads.
— Se você não estivesse aqui, eu pensaria que você pediu essa música, Wangji.
— É só uma coincidência engraçada.
Puxei a camisa dele de um jeito brincalhão.
— Legal que decidiu vir com a gente. Eu achei que não viria.
— Ah, alguém tem que ficar de olho nele.
— Nele ou em mim? — Wangji não respondeu, e eu continuei: — Seu irmão é um cara legal. Vocês dois são muito parecidos.
— Nenhum de nós é tão legal assim. Shizui é meu irmão, e eu o amo, mas confio nele perto de você quase tanto quanto confio em mim. E isso significa bem pouco.
Shizui voltou com as bebidas e me deu o vinho antes de entregar uma cerveja a Wangji.
— Ouvi meu nome?
— Só estava comentando que vocês são muito parecidos.
Depois de alguns minutos, começamos a ouvir “Diamonds and Pearls”, do Prince. Shizui tirou a taça de vinho da minha mão.
— Adoro essa música. Vem dançar comigo, Wuxian. — Eu não saí do lugar, e ele insistiu: — Vem.
Por que não?
Deixei Shizui me levar para a pista. A mão dele estava nas minhas costas. As luzes piscavam à nossa volta. Ele me enlaçou com um braço, e eu passei o meu em torno de seu pescoço.
Enquanto dançávamos, tudo ficou bem claro: embora a versão mais jovem e deliciosamente mais gostosa de Wangji estivesse demonstrando interesse por mim, eu não sentia mais que um arrepio comum provocado pelo corpo dele colado ao meu. E essa era a prova definitiva de que minha obsessão por Wangji era mais que física. Ele tinha um clone que nesse momento mostrava um interesse romântico por mim, e tudo que eu queria era a versão mal-humorada que continuava de cara feia no canto, aquela que havia me rejeitado várias vezes.
Estava conectado a Wangji de um jeito que nem entendia, ligada a como ele me fazia sentir, ao jeito como eu sabia que ele me entendia, à maneira como seu coração batia por mim.
A dança estava ultrapassando os limites. Quando a música finalmente acabou, pedi licença para ir ao banheiro e respirar um pouco. Estava sozinho enxugando as mãos, quando a porta se abriu atrás de mim. Meu corpo paralisou quando ouvi a voz grave e penetrante vibrando na minha nuca.
— Gostou dele?
Virei-me devagar para enfrentar o olhar incendiário de Wangji e sussurrei:
— Quem me dera!
— Não está se comportando como se não gostasse. Ou está encenando uma das suas fantasias de ménage?
Agora ele estava me deixando bravo.
— Está com ciúme?
— É, estou — ele respondeu por entre os dentes.
— Supera.
— Olha quem fala. Você não me superou.
Minha voz era tensa.
— Estou tentando.
— Está tentando me superar... ou me pegar?
Queria bater nele.
— Vai se foder. Agora, de repente, você me quer, só porque acha que estou a fim do seu irmão?
— Não, Wuxian. Eu sempre te quis, desde o momento em que bateu na minha porta e disse que eu era o demônio. Mas hoje... isso está me deixando louco. Não consigo raciocinar. Neste momento... só preciso sentir o gosto da sua boca, sentir você gemer na minha língua de novo.
De repente, ele me puxou.
— Ai, meu Deus — murmurei com a boca tocando a dele quando ele agarrou minha cintura, os lábios cobrindo os meus. Wangji me beijou com intensidade, e seu hálito era uma mistura de charuto e cerveja quando sua língua invadiu minha boca. Eu não conseguia mover a língua com a velocidade necessária, não conseguia absorver todo seu sabor.
Senti a força de sua ereção contra o meu corpo, e a dureza entre minhas pernas se tornou avassalador. Eu estava molhado, pênis pulsando. Todo meu corpo vibrava pronto para explodir.
De repente, ele parou de me beijar. Ofegantes, ficamos nos encarando com os olhos cheios de desejo. Wangji me agarrou pelo cabelo, puxou minha cabeça para trás e beijou meu pescoço. Beijou devagar, deixando os dentes deslizarem por minha pele. Depois chupou a região perto da base do meu pescoço. A dor era eufórica. Eu sabia que ele tentava me marcar, deixar em mim um sinal que mostraria claramente a Shizui a quem eu pertencia. E a verdade era que só um homem me tinha de coração, corpo e alma, e esse homem era Wangji.
Me fode.
Por favor.
Me fode aqui mesmo.
A voz de um cara nos assustou.
— Com licença! Vocês não podem ficar aqui. Tem que sair já.
Merda.
Wangji recuou e piscou algumas vezes, como se saísse do estado de transe em que estava.
— Desculpa.
Foi tudo que ele disse antes de sair do banheiro .
E foi isso.
Cinco minutos depois, eu me juntei a eles no bar. Wangji estava bravo de novo. Era como se o incidente no banheiro nem tivesse acontecido. Tudo voltou ao normal...  até alguém bater à porta do meu apartamento naquela noite.
Não era quem eu esperava.

.....

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