ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ ㅤ ㅤ ㅤ ㅤ ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ ㅤ ㅤ ㅤ ㅤ caput 01

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O espelho embaçado do banheiro era seu altar.

Irmã Perséfone não orava ali. Ela adorava. A própria imagem. O reflexo devolvia o que ela já sabia — pele impecável, olhos que queimavam sob cílios espessos, e uma boca tão rubra que parecia mais um fruto proibido do que algo capaz de pronunciar orações.

Ela deslizou os dedos sobre os lábios pintados de vermelho, sentindo a textura aveludada do batom, como sangue contra o branco de sua pele imaculada. O contraste era como uma obra de arte que apenas ela podia apreciar. Sabia que não poderia usar aquilo fora de seu quarto. Mas ali, sozinha... era seu segredo. O único pecado que realmente gostava de cometer.

Perséfone abaixou as mãos, tocando a renda do sutiã branco, os dedos se demorando na alça fina, antes de deslizá-los pela curva acentuada da cintura. O hábito, embora leve e fluido, não escondia tudo. Ela conhecia as curvas de seu corpo melhor do que qualquer um, e sabia que os olhos dos outros, mesmo no mosteiro, mesmo sob o manto da pureza, não eram cegos. Eles viam. Eles desejavam. Embora não admitissem.

Ela girou, deixando que seus olhos percorressem o espelho uma última vez, mas desta vez eles desceram. O olhar caiu sobre o traseiro curvado, firme, perfeito. Um sorriso quase perverso dançou em seus lábios. Gostosa.

— Deus criou isso — ela sibilou provocativamente para si mesma — Ele não faria algo assim para ser ignorado, certo?

A pergunta não precisava de resposta. Ela continuou perdida na intensidade de sua própria beleza quando, de repente, uma voz a fez congelar:

— Estamos atrasadas para o sermão do Padre Charlie.

Perséfone piscou e ergueu os olhos no espelho, pegando o reflexo de Irmã Megan parada à porta. O sorriso nos lábios de Megan era tudo, menos santo. Havia algo perverso na maneira como os olhos dela se estreitaram, como se estivesse saboreando cada segundo de Perséfone ali, perdida na própria obsessão.

— Ele já deve estar esperando — Megan acrescentou, inclinando a cabeça, o cabelo preso reluzindo sob a luz fraca. — Não podemos fazer o padre esperar.

O tom de voz era doce demais. Melado demais. E havia alguma coisa naquele sorriso... que insuportavelmente carregava algo nas entrelinhas, algo que Perséfone reconhecia, mas não queria admitir. Megan também tinha seus pecados, seus desejos secretos que ela escondia tão bem quanto a própria Irmã Perséfone. Havia algo perigoso nela, como se cada palavra fosse uma lâmina que cortava mais fundo.

— Você acha que ele se importa se estamos atrasadas? — Perséfone quis saber, arqueando uma sobrancelha, sem o menor interesse em esconder sua própria vaidade. Ousadamente, ela cruzou os braços, destacando ainda mais as curvas dos seios. Sabia que Megan a tinha pegado no ato, mas, por algum motivo, isso não a incomodava. Em vez disso, ela se sentia poderosa.

Megan riu baixinho, um som suave e, ainda assim, cheio de algo quase... diabólico.

— Ah, eu não acho que o problema seja estarmos atrasadas — disse, seus olhos brilhando. — O problema é como você vai fazer o padre esquecer que estamos atrasadas.

Megan se aproximou, parando atrás de Perséfone, seus olhos passando pelo reflexo da outra no espelho, exatamente da mesma forma que ela havia feito momentos antes.

— Sabe — Megan continuou, o sorriso nunca desaparecendo — acho que ele precisa de uma... distração. Algo que o faça se lembrar por que o pecado é tão difícil de resistir.

Perséfone não desviou o olhar do espelho, A ideia de seduzir o padre era uma centelha que acendia algo muito mais profundo dentro dela, um desejo que estava longe de ser purificado pela fé.

— E se eu te disser que estou mais do que disposta a ser essa distração? — Perséfone jogou, o olhar penetrante, desafiando as expectativas de qualquer um que pudesse imaginar que sua beleza fosse apenas superficial.

O silêncio que seguiu entre as duas não era vazio. Era cheio de entendimento, de um desejo que ultrapassava as regras do mosteiro. Dentro delas, o que antes era domado agora gritava por liberdade, e a única coisa que ambas compartilhavam era a excitação de jogar com o proibido.

O pecado, afinal, não era algo a ser temido.

Era algo a ser explorado.

SAGRADO PROFANO  |  Charlie MayhewOnde histórias criam vida. Descubra agora