VIII : QUE A GUERRA ACENDA.

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[ 27 de ABRIL, 1453 ]
CASTELO REAL DOZZILIANO,
COREIA DO SUL

O trono estava vazio, sujo de sangue e poeira. As cortinas da sala dançavam, balançando com o vento quente que rondava o reino destruído.

As coroas não estavam mais onde deveriam, e os monarcas eram dados como mortos. O príncipe, perdido, como se tivesse tornado-se pó diante da própria história.

Dozza morria mais a cada manhã que se passava, lenta e dolorosamente.

Haviam soldados vermênianos em cada entranha do castelo, prontos para proteger, prontos para matar. Os escravos, antes apenas criados, ainda sofriam em suas mãos, desejando a morte todos os dias. Não comiam, não bebiam, apenas existiam.

Quando não podiam suportar, morriam sob as paredes, e os corpos eram jogados ao mar. Tantas histórias e sonhos tomados pela guerra, tomados por Linyah, a qual carregava sangue inocente nas unhas finas.

Shin Jun-seo, por sua vez, encarava o reino pela janela do quarto do rei destronado, e o oceano rugia para ele, tremendo longínquo. Via as almas perdidas vagando pelas estradas, buscando por comida, escondendo-se das pontas das flechas e dos cortes das espadas.

Não possuía nenhum resquício de vida em seu olhar profundo, e seu coração escuro batia raivoso. Sua alma era horrível.

Então, rompendo o murmúrio das ondas, batidas repentinas na porta foram ouvidas. O coreano respirou fundo, soltando um grunhido impaciente, logo olhando para o relógio de ouro e bronze que descansava em sua mão direita.

— Entre — deu permissão.

— Com licença, meu senhor — um soldado apareceu, e sua armadura refletiu ao sol. Fez uma reverência breve. — Está tudo pronto.

— Ótimo.

Um sorriso torto surgiu nos lábios do homem como uma lua crescente, e ele pôs o relógio caro no bolso do casaco. O soldado abaixou a cabeça quando o Shin passou por ele, mostrando submissão – afinal, se não o fizesse, perderia o pescoço, a alma, o corpo e o coração. Era como viver numa ditadura, a qual não teria fim.

A poeira dançava nos corredores, e as paredes tinham as marcas das lâminas das espadas, como arranhões em uma pele fina. O silêncio gritava, e dos fundos do castelo, ouviam-se berros, pedidos de socorro, súplicas desesperadas. Os escravos estavam sendo torturados nas masmorras enquanto Jun-seo caminhava por cima de suas vidas, alguns metros a cima de suas cabeças. Imploravam misericórdia, mas jamais a obteriam.

Com uma fileira de guardas a postos, Shin seguiu seu caminho, passeando pelos ossos do palácio, afim de chegar até o antigo escritório do rei Dong-yul, seu appa. Como um trovão distante, as portas se abriram, e o sol que banhava o cômodo atingiu, em cheio, o rosto do homem.

Ele, enfim, adentrou, e seus olhos fundos percorreram a estrutura do lugar maltratado. As armaduras, antes bem alinhadas, estavam no chão, quebradas e sujas. As espadas e outras armas, partidas, com as lâminas inutilizáveis. Os livros, rasgados e lançados ao piso, cobertos por poeira e teias de aranha. A passagem secreta que havia entre as prateleiras estava, ainda, aberta, bloqueada por mais teias e sujeira.

Antes, abrigava as três coroas, escondendo seu brilho, protegendo sua linhagem, eternizando sua memória e segurando sua glória. Agora, estava vazia. Sem sonhos, sem histórias. Vazia.

A mesa do rei pegava mofo, sendo consumida por cupins aos poucos. Sua cadeira, deitada no chão, como um corpo sem vida. A grande janela que descansava atrás da mesa, trazendo luz e a imagem do vasto oceano, tinha os vidros quebrados, exalando o vento quente que cercava o reino para dentro do escritório. As cortinas estavam sujas, sendo mordidas por traças e engolidas por poeira.

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⏰ Última atualização: Feb 01 ⏰

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𝐓𝐡𝐞 𝐎𝐮𝐫 𝐏𝐫𝐨𝐦𝐢𝐬𝐞 II | 𝗛𝘄𝗮𝗻𝗴 𝗛𝘆𝘂𝗻𝗷𝗶𝗻.Onde histórias criam vida. Descubra agora