Capitulo 7: aviação canela

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— Você havia dito que a música era boa. — Reclamei chateada observando um cara bêbado cantando "evidências" no karaokê.

— Calma, só começa as nove.

Nos duas estávamos sentadas do outro lado onde meu irmão estava, era um ponto estratégico a gente via eles mas eles não nos via. Até agora eles não notaram nossa presença.

Respirei fundo, tentando ignorar o som desafinado do karaokê ao nosso redor. Bea estava certa, ainda era cedo, e talvez a música ao vivo que ela prometeu realmente melhorasse as coisas.

Enquanto esperávamos, observamos o movimento ao nosso redor, rindo das cenas engraçadas e comentando sobre as pessoas que passavam pelo bar.

Estávamos distraídas tentando conter o riso vendo que o cara bêbado agora chorava enquanto cantava quando o garçom trouxe a bebida de Bea, mas estranhei quando ele entregou uma para mim.

— Moço, eu não pedi nada — Falei sendo gentil.

— Sim, alguém especial mandou te entregar. — Ele disse com um sorriso já saindo.

Alguém especial?

Olhei para minha amiga.

— Não olha assim para mim, só sai de perto de você para ir ao banheiro. — Olhei ao redor mas não conhecia ninguém além do meu irmão.

Esrou intrigada com a situação, nao sei quem pode ter enviado a bebida para mim. Olhei ao redor mais uma vez, mas não reconheci ninguém que pudesse estar por trás desse gesto.

— Isso é estranho. — Comentei, olhando para Bea em busca de alguma pista. Ela encolheu os ombros, tão confusa quanto eu.

— Talvez seja um admirador secreto. — Ela sugeriu, com um sorriso malicioso no rosto.

— Ou talvez seja apenas um mal-entendido. — Respondi, não querendo me deixar levar por ideias românticas sem sentido.

Provei a bebida e imediatamente senti o gosto do mais puro álcool e todas minhas suspeitas se confirmaram.

—Beatriz, custava ter me dito que foi você? — Falei sentindo a garganta queimar com a bebida.

— Gostou? — Ela disse sem tentar disfarçar.

— Muito bom. — Disse tendo que fechar os olhos com o gosto amargo que o segundo gole proporcionou, escutando sua risada escandalosa em seguida.

— Devia ter pedido um vinho.

— Você acha? — perguntei com deboche.

— O que posso fazer? Você socializa melhor depois de tomar uns golinhos, fica parecendo político em época de eleição.

Revirei os olhos, sabendo que Bea estava me provocando de propósito. Era verdade que eu tendia a ficar mais extrovertida depois de algumas bebidas, mas isso não significava que eu gostasse de ser manipulada pela minha melhor amiga.

— Muito engraçado, Bea. Você podia ter me dado um aviso antes de me fazer beber álcool puro. — Eu disse, fingindo estar chateada, mas secretamente achando a situação divertida.

Ela riu novamente, sem se desculpar pela pegadinha.

— Desculpa, mas eu não pude resistir. Você sabe como eu adoro te ver soltando a língua. — Ela disse, piscando para mim de forma travessa.

Bufei, mas não pude deixar de sorrir. Apesar da pegadinha, eu sabia que Bea só queria me ver feliz e se divertindo, se ela quisesse me embedar sem que eu soubesse ela teria pedido algo bem docinho. E afinal, não seria a primeira nem a última vez que ela me pregaria uma peça.

— Tudo bem, você ganhou dessa vez. Mas saiba que a vingança será doce. — Eu disse, levantando minha bebida em um brinde irônico.

Como não sou o tipo de pessoa que bebe com frequência, senti o efeito do álcool começar em questão de minutos, eu havia bebido metade do líquido do meu copo, preciso tomar devagar ou daqui a pouco vou perder a vergonha na cara.

— Aquela ali não é a Clara? — Bea disse e olhei para onde ela apontava.

Minha visão embaçou um pouquinho mas vi.

— A gente vai lá?

— Não, se não meu irmão vai descobrir que estou aqui.

Ela concordou e voltamos a conversar.

— Sabe o que a gente podia fazer?

— O que? — Falei.

— Cantar.

— Não.

— Por favor. Daqui quinze minutos eles vão encerrar o karaokê. — Por que tenho a impressão de que qualquer coisa agora seria uma boa ideia?

— Tá bom!

— Bebe logo então. — Ela falou e bebi o restante da bebida em um gole.

Ri da animação de Bea, sabendo que ela estava determinada a participar do karaokê antes que a noite acabasse.

— Tudo bem, vamos lá. Mas só se você escolher uma música fácil para nós duas cantarmos juntas. — Eu disse, aceitando o desafio com um sorriso.

Bea comemorou animada e começou a folhear o livro de músicas do karaokê, procurando por uma opção adequada para nós duas.

— Aqui está! — Ela exclamou, escolhendo "vagalumes".

Levantei-me da mesa, sentindo o efeito do álcool já começando a se manifestar, e me juntei a Bea perto do palco. O animador do karaokê nos deu um sorriso encorajador enquanto preparava a música, e logo a batida começou a tocar.

Começamos a cantar juntas, deixando as preocupações de lado e nos divertindo com a música. Não éramos as melhores cantoras do mundo, mas isso não importava. O que realmente importava era que a gente se divertia e que amanhã vou ficar vermelha de vergonha quando me lembrar dessa humilhação.

Terminamos a música e percebi que meu irmão, Matheo e Clara aplaudiam, meu sorriso sumiu no momento que percebi que meu plano de ficar quietinha no meu canto foi por água abaixo.

Desci do pequeno palco e Bea me puxou em direção ao pessoal graças a Clara que fazia gestos para que a gente fosse até ela.

— Não esperava encontrar vocês aqui, meninas! — Clara disse abraçando bea e eu ao mesmo tempo.

— Digo o mesmo! — Bea disse parecendo uma miss simpatia.

Me sentei na primeira cadeira disponível que vi, que era ao lado do meu irmão e de Matheo.

— O que faz aqui, jacaré? — Felipe perguntou, ele sempre me chama assim quando me encontra sem querer fora de casa.

— Mas você é chato, hein? — Falei vendo Bea se sentar ao lado de Clara, só então percebendo que a desconhecida de mais cedo ainda estava sentada do lado do meu irmão e me olhava, sorri e ela sorriu de volta.

— Veio de quê? — perguntou Felipe.

— Aviação canela. — Falei ouvindo alguém sufocar uma risada e percebi que era Matheo. — Mas já que a gente se encontrou, hoje é por sua conta, tá?

— Nem pensar.

— Sim, senhor.

— Não, senhora.

— Senhorita. — corrigi.

— Tenha dó de mim, você só me dá prejuízo.

— Quem tem dó é piano, já eu estou pouco me fudendo.

Matheo soltou uma risada diante da nossa troca de farpas, enquanto meu irmão apenas revirou os olhos.

— Ela fica uma gracinha quando está bêbada. — Bea disse apoiando sua mão no rosto, parecendo uma mãe orgulhosa.

— Eu não estou bêbada. — Retruquei claramente alterada.

Continua...

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