Capitulo 4: Ferrari por um fusca

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— O teu olhar paralisou meu coração, tua beleza... — Parei com a cantoria vendo duas figuras paradas me encarando.

Meu irmão e o amigo que esbarrei na semana passada estavam parados bem atrás de mim.

Porra, achei que já tinha superado a vergonha que eu tinha passado, não queria ter que olhar para a cara dele tão cedo.

— Estão aí a muito tempo? — Pergunto sentindo meu rosto queimar de vergonha.

— Tempo suficiente para ver esse seu showzinho. — Felipe falou.

Percebi o garoto alternando o olhar entre meus seios e meu rosto, com os lábios comprimidos. Por que... ah mas que merda, havia me esquecido que estou apenas de sutiã.

Encarei o garoto que pareceu se tocar do que estava fazendo, arqueei uma sobrancelha como uma pergunta silenciosa, ele repetiu o gesto me deixando sem saber o que fazer.

— Já te falaram que você parece uma lagartixa dançando? — Felipe perguntou.

— Como é? — Falei quebrando o contato visual com o garoto.

— E ainda bem que você não é cantora por que passaria fome. — ele disse se apoiando na pia com um copo na mão e só então reparou o que eu vestia. — Ei, Olhos para cima, irmão! — Ele disse para seu amigo que me olhava novamente. — e você — ele apontou para mim — vai vestir algo decente agora!

— Você não manda em mim, sabia? — Respondo, odeio que ele me dê ordens, meu ego nunca quer me deixar obedecer, mas como ele tem razão na situação eu obedeço.

Subi, tomei um banho quente para acalmar os ânimos e, mais importante, para dar um tempo ao meu rosto vermelho de vergonha. Decidi que não deixaria aquele encontro constrangedor estragar minha noite.

Vesti algo decente, pelo menos aos olhos de Felipe, o que significava uma camiseta folgada e um shorts confortável. Desço as escadas, pronta para encarar a situação com mais confiança. Felipe e seu amigo estão na sala, rindo de alguma coisa enquanto jogavam.

Vi a porta da sala se abrindo e vi Rafael e minha mãe entrando, o braço de Rafael nos ombros dela. Quando os amigos do meu irmão vão parar de cantar minha mãe?

— Eu já tinha botado para fora de casa, o moleque já vai fazer vinte anos, tia! — Ele disse e percebi que ele falava do meu irmão.

— Você tem vinte e mora com sua avó, Rafael. — Minha mãe disse sorrindo.

— É diferente, tia. — Ele tirou o braço do ombro dela e segurou sua mão —Mas assim, com todo o respeito, você está linda hoje! — Ele girou ela arrancando uma risada dela.

— Para de cantar minha mãe, seu idiota! — Felipe disse finalmente tirando o foco do jogo na TV.

— Para Felipe, ele só está sendo gentil. — Ela disse ainda com um sorriso.

— Gentil vai ser o murro que eu vou dar nele pra aprender a ficar esperto.

— Está vendo como ele me trata, tia? Eu dou amor e carinho e ele me trata assim, com essa ignorância. — Rafael se vitimizou.

— Vocês são piores que gato e cachorro. — Minha mãe apoiou seu braço na cintura e Matheo a comprimentou com um sorriso— Matheo! Estava sumido hein garoto? A família está bem?

As vezes sinto que minha mãe gosta mais dos amigos do meu irmão do que nós que somos realmente filhos dela.

— Está todo mundo bem. — Ele disse parecendo ser o garoto mais educado e simpático do mundo, coisa que sei que não é apenas pelo fato dele andar com meu irmão e Rafael.

É aquilo né, me diga com quem tu andas que direi quem tu és.

— Vou subir e tomar um banho, podem ficar a vontade.  — Ela disse passando por mim.

— Daqui uns dias vocês dois terão que me pedir a benção, hein? — Rafael provoca.

— Minha mãe não vai trocar uma ferrari por um fusca, Rafael. — Falei.

— Será?

— Cara, você tem que parar com isso. — meu irmão diz.

— Por que? Está com medo que eu vire seu padrasto? — Meu irmão simplesmente arremessou o chinelo no garoto, acertando Matheo.

— O que eu tenho haver com isso? — Matheo disse jogando o chinelos de volta em Felipe.

Deixei os meninos na sala e fui para a cozinha. Eu até iria para o quarto, mas eu queria ouvir a conversa deles.

Quando fomos jantar eu fui a primeira a pegar comida e corri para o sofá, aproveitando que os meninos tinham saído de lá.

Já fui logo colocando mais um episódio da  série que eu estava assistindo pela segunda de vez apenas para alimentar minha obsessão pelo protagonista que havia voltado.

Não se passou quinze minutos e os meninos surgiram.

— Você está assistindo isso de novo? — Felipe perguntou. — Não enjoa não?

— Não. — Respondo dando de ombros.

Rafael se jogou no sofá ao meu lado, enquanto Felipe ocupava o outro lado.

— Pelo menos é melhor do que aquela novela mexicana que você costumava assistir. — Comentou Rafael, roubando uma batata frita do meu prato. Revirei os olhos.

— Aquela novela era um clássico, vocês é que não entendem arte. — Felipe riu e mexeu nos cabelos.

— Ah, entendo perfeitamente. Era a arte de te deixar ainda mais dramática do que já é.

Bufei, fingindo indignação, enquanto comia.

— Vocês são uns insensíveis. — Falei focando na TV.

Enquanto comia percebi que esse Matheo é estranhamente quieto. Ele está na minha casa há horas e não me disse uma palavra sequer. Acho que a única palavra dele direcionada a mim foi um "desculpa" na semana passada.

E por que raios eu estou querendo ficar de papinho com ele? Se ele não quer falar comigo é menos um pra torrar minha paciência.

Voltei a prestar atenção na série e em poucos segundos notei algo; o protagonista tem uma coisa em comum com Matheo, os dois são muito altos, o protagonista tinha 1,93m e Matheo chega perto.

Olhei rapidamente para Matheo que mexia em seu celular, notei seus braços, e bom, ele é forte ou então a sua camisa está muito apertada nos biceps.

Comecei a comparar os dois e percebi que de fato eles possuíam uma leve semelhança. Será que sem perceber fiz uma lei da atração? Pena que não tenho chances.

Quando olhei para Matheo novamente ele já estava me olhando, acho que ele percebeu que eu o olhava a todo momento. Foquei novamente na TV, mas senti seu olhar em mim, o olhei novamente  e ele ainda me observava. Mas que diabos?

Continua...

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