Díade

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Notas da autora:

Boa tarde, pessoinhas lindas, tudo bem por aí?

Começo agradecendo vocês por permanecerem aqui, por comentarem e por participarem desse romance tortuoso.

Aline e Falsa Medeia: um beijo especial pra vocês!

Alerta spoiler: este capítulo é permeado por dor e sofrimento.

Boa leitura, e um cheiro no pescoço :)

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Mas se o destino insistir em nos separar

Danem-se os astros, os autos, os signos, os dogmas

Os búzios, as bulas, anúncios, tratados, ciganas, projetos

Profetas, sinopses, espelhos, conselhos

Se dane o evangelho e todos os orixás

Serás o meu amor, serás, amor, a minha paz

Chico Buarque – Dueto


Nova Primavera, 9 de janeiro de 2024.

Narrado por Agatha:

A noite interrompia o dia ardendo minhas entranhas tanto quanto a dose de whisky que descia rasgando minha garganta arranhada pelos gritos que eu havia calado. Eu era incapaz de estimar quantas horas eu tinha dormido desde aquela noite ou quantos copos do líquido âmbar me consumiram goela abaixo numa tentativa torpe de me embriagar.

Além do recado dado por meio do incêndio na Fazenda, Irene conduzia-se em completa ausência na minha vã existência. O silêncio taciturno da mulher berrava mais alto do que os meus pensamentos e sentimentos vociferando incessantemente as perguntas que eu ainda não sabia responder.

Era inegável que Irene era uma mulher pra lá de sofisticada. Os 30 anos ao lado de Antônio a doutrinaram para sê-lo, entretanto, não podemos esquecer que suas raízes emergiam do Naitendei, evocando a entidade profana que adormecia dentro dela. Irene era uma mulher inigualável, esplêndida, irrepetível e desencadeava calafrios em minha espinha dorsal.

Estar com aquela mulher estava longe de ser uma experiência neutra. Até porque neutralidade no amor não existe. Nós havíamos naturalmente constituído uma díade. Ela era a antítese de tudo que eu sempre sonhei, mas, ao mesmo tempo, ela era o que eu mais desejava. Ela era única, singular, um exemplar feito sob medida para mim, dotada do ônus e do bônus que isso trazia. Esse era o meu sentimento mais honesto, o que eu sequer tinha coragem de admitir a mim mesma.

Uma coisa não se pode negar, por mais inusitada que a solução pudesse parecer, o chá afrodisíaco era um bom plano. Ter Irene na palma da minha mão, dançando a música que eu tocava, flutuando sob o meu comando, obedecendo a mim, era uma jogada de mestre. Foi sagaz. Foi subversivo. Foi errático.

Aspirei o ar quente e úmido do anoitecer na intenção de encher meus pulmões com uma coragem que não veio e bati na porta da casa dela mesmo assim.

Irene abriu a porta como quem aguardava ansiosamente a minha chegada, não para me receber com beijos e carícias, mas com todo o ódio e o rancor que ela estava cultivando por mim, e que eu nem mesmo sabia o porquê. A mais nova mantinha os braços cruzados, como se quisesse se defender de algo que ainda não conhecia. O olhar preciso acompanhava cada movimento meu, fitando meus passos inseguros porta adentro.

Vou te amarrar na minha camaOnde histórias criam vida. Descubra agora