Pequenos incêndios por toda parte

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Notas da autora:

Boa noite, pessoinhas lindas, tudo bem por aí?

Nesse clima de todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite e de gratidão pelas 3 mil leituras desse romance errático, trouxe o famigerado capítulo do aniversário (mas o aniversário existe só para consignar em ata, rs).

Aline, obrigada por acompanhar o meu processo de escrita e por me apoiar sempre.

Falsa Medeia, obrigada pelos comentários e pelo incentivo.

Obrigada por acompanharem esse meu devaneio literário

Boa leitura, e um cheiro no pescoço :)

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Pra pedir silêncio eu berro

Pra fazer barulho eu mesma faço

Ou não

Mas pegar fogo nunca foi atração de circo

Mas de qualquer maneira

Pode ser um caloroso espetáculo

Rita Lee - Jardins da Babilônia


Nova Primavera, 5 de janeiro de 2024.

Narrado por Irene:

- O que v-você disse? - O timbre rouco da mais velha trouxe as palavras embaralhadas ao meu canal auditivo.

Como em uma valsa triste, girei nossos corpos, levando a carne de Agatha ao contato com o lençol gelado, tão gélido quanto nossas dermes ao perderem a contiguidade causadora da febre que nos fazia delirar em prazer.

Posicionei meu corpo para fora da cama e peguei meu robe de seda preto. Repousei a peça sobre minha pele e finalizei o ato com um nó marcado na cintura. A lágrima tímida deixou de ser solitária e a água salgada que escorria pelos meus olhos molhava a minha face ainda rubra pelo que antecedera.

- Nada disso faz mais sentido. - Repeti com a voz embargada de quem tem um nó do tamanho do mundo na garganta.

Com pequenas descargas elétricas invadindo meu sistema nervoso, comecei a me mover pela suíte, zanzando de um lado para o outro, como quem espera um par em uma dança solo. Os pensamentos intrusivos pareciam me dominar e minha mente inquieta se fazia repleta da única coisa que eu tentava evitar.

De costas para a cama, levei as mãos em direção aos meus cabelos e as deslizei da testa à nuca, percebendo a maciez dos fios bagunçados.

- Irene... - A mão atrevida da Rainha do Chá tocou meu ombro antes que eu pudesse sentir o ardor de sua presença junto a mim.

Eu havia perdido completamente o controle da situação. Merda. Como eu poderia me desvencilhar do bote da serpente? Como eu poderia fugir do desejo latente, pulsante, de sentir as presas da víbora em meu pescoço? Como poderia negar o prazer de sentir seu veneno percorrendo minha corrente sanguínea e levando meu sopro de vida embora?

- Olha pra mim. - Agatha tatuava seus dedos em meus ombros, na intenção de me fazer encarar a natureza enigmática em seus olhos verdes.

Me virei como um tufão, mantendo a espinha ereta e limpando meu rosto molhado.

- Não é por mim que eu aceitei isso, é por você. - Confessei. - É porque VOCÊ - apontei o indicador direito pra ela. - quer se vingar. Vingança essa que eu até agora não entendi o porquê.

Vou te amarrar na minha camaOnde histórias criam vida. Descubra agora