6 Horas da Tarde

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São seis da tarde. Através da janela próxima da escrivaninha do meu quarto, dá pra ver o sol vai deixando seus últimos resquícios no céu. O bairro onde eu moro é praticamente deserto, como se eu fosse o único residente. Mas é só o excesso de tranquilidade, já que todos os meus vizinhos são bastante reservados. Afinal, aqui é Lake City.

Termino meu dever de biologia molecular. Fecho o caderno e o livro do último ano escolar. Guardo a lapiseira, marcador e borracha dentro do estojo. Em seguida, ponho tudo de volta na mochila. Foi bom ter adiantado essa tarefa, pois não desejo ficar em maus lençóis com o Sr. Weber.

Levanto da cadeira e dou uma passada no banheiro pra levantar a tampa da privada, botar o pau pra fora e mijar. Lavo as mãos no lavatório e seco-as na toalha pendurada no gancho. Depois saio e pego as escadas, descendo para ir à cozinha.

Já durante o caminho, sou impactado pelo cheiro deliciosamente convidativo da lasanha de frango com azeitona da minha mãe. Ela está abaixada, tirando o pirex recheado e fumegante do forno. Trocamos sorrisos quando me encosto na bancada e assisto ela colocar a comida sobre uma capa térmica retangular com estampa de arbustos.

- Tô pronto pra queimar a língua - digo, apreciando iguaria.

- Vá com calma, querido. Primeiro vamos esperar que esfrie, e também, David vai comer junto com a gente - responde ela, pegando três pratos e alguns talheres de uma das gavetas do armário da bancada.

- Ele tá voltando pra casa agora? - pergunto, curioso.

- O turno dele acabou cedo hoje.

- Legal - gostaria de dizer à ela que isso é muito mais que um simplesmente "legal".

Ter David em casa é um luxo concedido à rapazes que tem quedas por homens mais velhos. Chega até mesmo à ser tentador. Isso procede desde que ele se casou com a minha mãe e veio morar conosco. No começo, confesso que não dei tanta bola pro fato de eu ter um padrasto. Ele nunca seria o meu pai, que faleceu a uns seis anos atrás, além de é claro, nenhum dos lados quererem isso. Acontece que com um tempo, eu fui entendo o por quê da minha mãe ter se entregado à um homem desses.

Eis o motivo: David Bourne é o homem que te deixa de quatro.

Talvez nem seja só por isso. Minha mãe e eu temos muito em comum e somos muito parecidos fisicamente. Começando pelo cabelo liso cor de areia, pele clara, baixa estatura, físico saudável e olhos da cor da casca de um abacate. Sem falar que herdei sua - nomeada pelos outros - beleza incomum, embora eu não considere isso o maior dos meus atributos. Quanto ao nosso gosto pra homens, sim, David é o melhor exemplo.

Passado alguns minutos, a viatura branca e escura do policial Bourne cruza a rua, dobrando pra subir na calçada e estacionando na garagem ao lado. A porta da frente é aberta e ele entra. Trajando a farda preta dos policiais da Flórida, David me dá seu olhar penetrante ao me ver e aperta a ponta do meu nariz.

- Tudo certo aí, rapaz? - pergunta ele, com sua voz grossa e firme.

- Sim, sim - respondo. - E você?

- Cagado de fome e essa lasanha tá pedindo pra ser devorada - ele seca a lasanha com os olhos cor de azul cinzento.

- Meu amor. Estávamos te esperando. O jantar está servido - anuncia minha mãe, voltando à cozinha após ter dado uma saída.

Ela lasca um beijo nele ficando na ponta dos pés. David a segura pela cintura. Ambos se prendem com ternura e sou obrigado à observa-los. Logo eu me vejo no lugar da minha mãe.

Meu padrasto é um homem excepcionalmente bonito. Ele pode não levar muito à sério uma rotina atlética, mas seus braços, pernas e peitorais são musculosos, exceto a barriga. Com seu buchinho sobressalente, David ostenta um corpo de papai, daqueles que me rouba o fôlego e me deixa excitado. Esse homem nunca dispensa suas geladas cervejinhas, suas pizzas e seus hambúrgueres. E nem deve negar.

O que mais nele me faz tremer é aquele seu cabelo liso castanho escuro penteado para trás, suas sobrancelhas grossas e seu bigode cheio.

- Preciso de um banho. Depois eu venho comer - ele se desgruda dela e me fita com uma carranca fingida. - Vê se não vai detonar minha lasanha.

Mostro-lhe o dedo do meio e ele ri enquanto sobe as escadas. O celular da minha mãe vibra e ela se retira pra atende-lo. Após instantes, ela volta com uma cara um tanto quanto tensa.

- Preciso ir à Clearwater - ela diz.

- O que? - reajo, surpreso. - Por que?

- Meu pai tá no hospital.

- O que aconteceu com o vovô? - agora o negócio é realmente sério, penso ao saltar de susto.

- Nada grave. Ele só se machucou durante conserto do gerador no porão. Parece que ele tropeçou num dos degraus da escada e caiu. Tava um pouco escuro e não deu pra ele ver. Foi o que a mamãe me contou.

Ela dispara feito um tornado até a sala de estar, pegando sua bolsa rosa iogurte e as chaves do carro. Permaneço imóvel, sem ter o que fazer. Melhor não atrapalha-la. Eu sei que não foi um acidente de alta gravidade, mas é o pai dela. Eu entendo. E por eu gostar muito do vovô Garnier, eu faria o mesmo.

- David - ela o chama.

- O que houve, Megan? - ele desce as escadas com o cabelo grudado na cabeça, com o peito peludo molhado e com uma toalha amarrada no quadril.

Puta que pariu! Esse cara quer me matar do coração! Juro pelo meu tesão que eu mamaria ele agora se não fosse essa emergência de família.

Ela explica ao meu padrasto sobre o ocorrido. Ele compreende e diz para ela manter a calma. Se ela quiser chegar até Clearwater, o recomendado é que ela não dirija nervosa.

- Tudo bem. Eu só peço que cuide do Kyle. Mesmo que ele já tenha 18 anos, me preocupo que ele fique sozinho. Você aqui com ele me deixa mais confiante por ele estar seguro.

- Tá certo - responde ele. - Olha. Cuidado na estrada. Não ultrapasse o limite de velocidade. O Sr. Garnier vai sair dessa. Ele é um homem forte.

- Vai sim.

Ela abraça e beija o marido. Depois ela me toma nos braços e estala os lábios em minha bochecha. Com um aceno de despedida e dizendo tchau, ela passa porta à fora.

Ouço o ronco do motor e as rodas se distanciando. Silêncio. David e eu estamos à sós.

Quando ele entra na cozinha daquele jeito pós banho, medito o quão imprevisível isso tem sido. É bem provável que ela volte no dia seguinte, pois Clearwater fica praticamente a 3 horas de Lake City e já é quase noite.

- Então, rapaz - meu padrasto pega um prato de cerâmica verde escuro e se serve uma fatia avantajada de lasanha. - Tem alguma coisa pra fazer agora à noite?

Balanço a cabeça.

- Não.

- O que acha da gente de divertir?

Ele me lança um olhar enigmático, que pode ser interpretado de diversas formas. O que ele tá sugerindo. Que tipo de diversão seria essa? Meu ritmo cardíaco acelera. Engulo em seco. Um tremor sucumbi as minhas pernas. Seja lá o que David estiver tramando, por curiosidade, acabo dizendo:

- Tô dentro.

Como resposta, ele sorri, satisfeito, abocanhando uma garfada da comida.

Padrasto Selvagem (Conto Gay) - Macho Sujo SafadoOnde histórias criam vida. Descubra agora