O que seria diversão na linguagem de David Bourne? São várias coisas. Tipo tomar uma cervejinha, jogar uma partida de poker, assistir a um jogo imperdível dos Tampa Bay Rays, falar sobre mulheres, sendo esse último o inexistente na minha lista. Afinal, não somente ele, mas todos sabem que eu gosto de falar sobre homens. Não é por escolha. É por ser minha zona de interesse.
Uma vez meu padrasto e eu batemos um breve papo sobre homens, especificamente sobre o que me atrai neles, qual meu tipo preferido e se eu era bom de chegar com um cara caso eu estivesse doido pra pegar. Na boa, eu acho que ele poderia estar me investigando só pra saber se ele era o meu gosto. Nem fodendo eu diria uma palavra se quer sobre ser afim dele. Cortei essa e nunca mais falamos sobre homens, levando em conta que David é hetero, o que sempre me desanima quanto minhas chances de ficar com ele.
De qualquer forma, deixo isso de lado. Como a lasanha com ele combinando de jogar um verdade e desafio daqui à pouco. Tiro a louça suja pra lavar na pia enquanto ele vai até a sala de estar e liga o aparelho de som num volume moderado que não incomode a vizinhança. A casa adquire uma atmosfera alegre ao toque de Right Down The Line. A parte mais engraçada é ter que ouvir ele tentando imitar a voz cantante do Gerry Rafferty.
Ouço o toque da campainha. Imediatamente enxugo as mãos num trapo e corro para chegar até a porta. Suspiro, aliviado.
- Espertinho ligeiro - diz David, já saindo de perto.
- Vai vestir uma roupa, despirocado - respondo, grato por quem quer que seja não ter que vê-lo só de toalha.
Abro a porta e recebo apenas o vento na minha cara. Observo ao redor, mas nenhum sinal da pessoa. Confuso, aguardo mais uns segundos. Nada. Isso não passa de um trote de algum arrombado babaca que passou por aqui.
Bato a porta e volto pra dentro.- Quem era? - pergunta meu padrasto, na sala.
- O fodido invisível.
Passo pela cozinha novamente e paraliso próximo da pia. Chego mais perto da janela, decido ver mais de perto. Abaixo do crepúsculo que cobre a rua, do outro lado da pista, uma figura parada olha em direção de casa. Um homem. Não consigo enxergar os detalhes do rosto dele. Apenas dá pra distinguir as roupas, que na verdade é um escuro macacão brim de obras. Logo ele se vira e vai embora pra esquerda.
Aquilo gerou uma estranha sensação dentro de mim. Não sei explicar. Acho que seria um gatilho de alerta.
- Kylezinho - odeio quando David me chama assim. Nunca gostei que usassem o meu nome no diminutivo. É irritante.
- O que? - caminho até ele.
Ele tá sentado na poltrona do canto, estirado. Isso significa pernas arreganhadas e braços deitados nos apoios do assento. Em uma das mãos, há uma garrafa de cerveja aberta. O gole que ele dá faz seu pomo de Adão se contrair. Naquele seu olhar, descubro um sábio predador.
- Verdade ou consequência?
Dentre as duas opções, eu escolho começar pelo morno, até que fique mais quente.
- Verdade.
- Você já quis ficar com alguém que estava em um relacionamento com outra pessoa?
Engulo em seco depois dessa. Ele não sabe, só deve estar cogitando que sim. Porra. Eu poderia negar, mas não seria tão interessante pro jogo. Além do mais, ele não perguntou pelo nome desse alguém.
- Verdade.
- Posso saber quem foi?
- Minha vez - sorrio de canto.
Ele aponta o dedo pra mim com aquele olhar que diz "espertinho".
- Verdade ou consequência? - indago.
- Consequência.
Medito cautelosamente. O que eu posso ordenar que ele faça? Isso é bem excitante, quase como brincar na cama com um lobo. Bom. É arriscado ir muito longe, sendo que ainda estamos no início. Tenho que pegar leve.
- Jogue essa bebida fora - refiro-me a garrafa de cerveja.
Ele ri e me encara como se eu tivesse feito uma piada.
- Essa foi valendo?
- Sim, mas se não tiver... Coragem. Posso mudar o desaf...
- Nem que eu perca uma das minhas bolas - dito isso, ele cumpre o desafio. Porém, de outra maneira.
David vira a garrafa sobre a cabeça, derramando todo o líquido recendendo a álcool, que escorre pelo seu rosto, molhando seu cabelo, seu bigode, seu peito peludo, sua barriga, até chegar na toalha. Fico boquiaberto, tentando processar o que acabei de ver. Já entendi. Se ele fosse desperdiçar cada gota, não seria no chão.
- Minha vez - ele larga a garrafa no chão e remove o excesso de umidade do rosto com a mão. - Verdade ou desafio?
- Desafio - dou um desconto.
- Tire a minha toalha.
Mas que porra é essa agora? Não. Ele tá tirando onda comigo.
- Tá falando sério?
- Tô sim. Não fica com medo - diz ele.
- Por que eu teria?
Ele tá achando que eu vou recuar por receio de vê-lo pelado. O filho da puta mal sabe que um dos meus sonhos é tê-lo nu na minha frente. Sendo mais detalhista, ele estaria de pernas abertas, mãos na minha nuca e com o falo pulsando na minha boca. Maldito do caralho. Que vontade eu tenho de bater nele. Não vou corresponder ao que ele pensa. Pelo contrário, vou aceitar o desafio.
Caminho a passos firmes até ele, que levanta e espera pelo meu ato. Cara a cara, meu padrasto e eu não dizemos nada além de nossas respirações. E sem aviso prévio, arranco o pano da cintura dele.
Ele tá de cueca box preta.
- Te peguei - ele ri da minha cara.
Arremesso a toalha na fuça desse cacetudo desgraçado.
- Vou tomar um pouco de água.
- Espera, espera - ele me segura antes que eu saia. - Uma última vez. Agora é com você. Manda brasa.
- Ok. Qual dos dois?
- Consequência.
É isso. Uma combustão de ousadia se apodera do meu coração. Ando lentamente até me sentar no sofá. Olho pra ele estendendo um ar de mistério impenetrável. Estou frustrado. Eu queria ter visto sua nudez. Ou será que isso não é verdade? E se ele... Estivesse... Dando um toque pra eu violar a linha do limite? Isso é minha imaginação falando ou um indício de sacanagem vindo dele? O jeito de eu descobrir é eu dizendo pra ele...
- Tire essa cueca.
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Padrasto Selvagem (Conto Gay) - Macho Sujo Safado
RomanceEm Lake City, o jovem estudante Kyle Garnier terá que passar uma noite em casa com o seu padrasto e policial, David Bourne, enquanto sua mãe, Megan, viaja para visitar o pai em Clearwater. O que ela não sabe é que seu marido só queria uma oportunida...