3° semana de um mês e dezesseis dias.
02:00 am
Era madrugada e mais uma vez não conseguia dormir. Suas noites eram um inferno, agitadas, perturbadas e turbulentas. Virava de um lado para o outro inquieto, nenhuma posição era confortável.
Não dormia.
Saiu do quarto sem bater a porta. Giovanni, pelo menos dormia bem, como em todas as noites durante as semanas que estão na fazenda. Caminhou devagar com suas pantufas de patas de dinossauro, evitando fazer barulho ao caminhar pelas madeiras do piso e da escada.
A luz da sala estava ligada e era a única. Sinceramente ficou apavorado, eram duas da manhã, a casa era no meio do nada, estava silêncio e aquela bendita lâmpada acesa. Era medroso e estava tremendo.
Corajosamente, desceu o último degrau segurando uma das pantufas, pronto para arremessá-la em quem fosse que estivesse ali.
E realmente a tacou. Fez um barulho seco e oco.
Quando abriu os olhos, pode ver Idris que estava sentado no sofá lendo. O livro no colo e a pantufa sobre ele.
Ela o acertou.
Na cabeça.
Em cheio.
— Aí meu Deus! O que eu fiz?!
— Você jogou isso em mim?
A voz dele não tremeu, não exaltou ou rangeu. Permanecia tranquila e baixa. Não sabia se era a raiva excessiva. Não sabia se era calmaria ou apenas o recuo do mar, antes do tsunami.
— Eu achei que era um ladrão.
— Ladrão na minha casa?
A calma era aterrorizante.
— Estamos no meio do nada. Eu não conheço ninguém aqui. Não sei nada sobre esse lugar, é tudo escuro e sombrio. Essa casa estala e eu não consigo dormir! Sei lá! Tá?! Eu saí do meu quarto por que não queria acordar o Giovanni e fiquei apavorado com a luz acesa.
— Mas faz sentido tacar uma pantufa de olhos fechados? E com o frio que faz aqui, esse pijama era sua melhor...opção?
O que vestia para dormir era um conjunto caríssimo. Demorou décadas para terminar de pagar. Era uma blusa enorme de abotoar listrada, rosa e preta, com um short do conjunto. Não era uma roupa de frio. Mas usava meias coloridas que iam até o joelho.
— Por acaso está me julgando? Sabe quanto isso custou? Sabe o quanto tempo demorei para pagar? Sou uma pessoa luxuosa, não sou feito para esse ambiente. Tá bom?
— Então por que não vai embora? — Ele cruzou as pernas, ajeitando o livro no colo, colocando a pantufa no chão. — Você é livre para desistir.
Não era momento, mas a pequena abaixada que Idris deu nos óculos de leitura, a roupa preta, larga e confortável, junto com o roupão de veludo vermelho, conseguiram o deixar mais gostoso.
Tinha até esquecido o que ia falar.
— Perdeu a língua, Anastase?
— An?
Odiava se sentir abobado por causa dele.
— Não vai responder a minha pergunta?
— Eu sou mais persistente do que pareço! Sou chato! Eu falo demais, penso demais, me irrito demais e depois ainda me arrependo de tudo que falei! Fiz um inferno naquela empresa pra vir para cá! Normalmente nunca desisto, imagine agora!

VOCÊ ESTÁ LENDO
Le Parfum.
ChickLitEm 1995, Idris Vaughn era único, inalcançável, inacessível e impossível. Reinava como uma estrela solitária no universo da moda. Era uma figura magnética, quase mítica, com olhos verdes tão profundos que pareciam um abismo inexplorado. Sua altura...