2° semana de um mês e dezesseis dias.18:50 pm
— Como assim você quer fazer uma caminhada agora? Sabe que horas são? Enlouqueceu de vez? Perdeu o juízo mais uma vez?
— O que tem? Quero andar um pouquinho.
— São quase sete horas da noite, você vai mesmo? Não pode ser amanhã de manhã?
— Não é uma floresta funda, logo na frente tem o mar, não dá nem tempo de se perder. Quero procurar a praia.
— Você não acha que é muito teimoso? Sei lá, não acha que essa sua cabeça é muito irreversível?
— Não vai acontecer nada demais. Daqui a pouco eu volto. Relaxa.
Ele se perdeu.
Já era a quarta vez que passava pela mesma árvore torta de folhas rosas. Ainda tentava se convencer de que conseguiria sair dali. Por isso, ainda estava calmo.
Nervoso, olhou ao redor, vendo uma densa neblina pelo meio da escuridão. Podia escutar ao longe, barulhos abafados de uma coruja. Sons de galhos quebrando surgiram atrás de si e com o coração acelerado, virou-se. Uma trovoada alta estourou pelo céu. Seu corpo tremia ao não ver nada.
...
— Giovanni?! — Idris chamo-o da cozinha, terminando de secar as últimas louças. Sentia-se estranho. Seu dedo ardia como se tivesse colocado a mão no fogo.
— Me? Diga, divo.
— Cadê Anastase?
— Foi andar um pouco.
As sobrancelhas pretas franziram-se, dando alguns passos contrários, para o olhar o relógio. Onze horas da noite.
— Aonde?!
— Na floresta, procurar a praia.
O prato que segurava, escapou de suas mãos e caiu com um estrondo no chão, espalhando pedaços de vidro por todo o piso. O barulho ecoou pela cozinha, tornando o ambiente silencioso. O moreno o olhou assustado, dando alguns passos para trás, o vendo passar por cima dos cacos, largando tudo para trás, calçar suas botas apressado e ir para fora de casa.
— Idris! O que foi?! — Giovanni gritou poucos metros atrás, o vendo pegar de cima da mesa de tralhas um machado e voltar-se para sua direção, como um canhão. — Anastase sabe se cuidar! Ele já vai voltar!
— Dentro dessa fazenda, ninguém sabe se cuidar! São onze horas! Aquilo é um breu!
Sua voz alta e impaciente soou distante. Não queria que o olhasse naquele momento. O que apresentava ali em seus olhos, não era para ser visto.
...
Uma gota escorreu por sua bochecha.
Não era possível. Começou a chover a cântaros e barrancos.
Em poucos segundos estava ensopado.
Gradativamente, o desespero tomou conta de cada parte de seu corpo. Sua respiração ficou descompassada e as pernas bambas. Levantou as mãos trêmulas, levando-as até o rosto, limpando a chuva e algumas lágrimas.
— Se acalma, Anastase! — Murmurou, reafirmando-se.
— Anastase! — Alguém o berrou do meio da escuridão.
Não enxergava nada. Perdido, olhava para os lados, tentando se achar. Não conseguia e da forma com que a escuridão avançava, temia que não poderia se localizar.
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Le Parfum.
ChickLitEm 1995, Idris Vaughn era único, inalcançável, inacessível e impossível. Reinava como uma estrela solitária no universo da moda. Era uma figura magnética, quase mítica, com olhos verdes tão profundos que pareciam um abismo inexplorado. Sua altura...