5. Divórcio ou carência?;

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Verônica suspirara sentada ao lado de Nelson, encarando a tela de seu computador. Depois de algumas semanas, parou completamente de falar com Anita ou tentar continuar no caso, já que não fora mais perseguida.

—Verô... Cara, você precisa esvaziar a cabeça. Fala comigo, o que tá acontecendo? –Nelson soou, preocupado.

—Ah, Nelson. É tudo. Minha cara tá voltando ao normal agora, o divórcio, faz tempo que não vejo as crianças. –Ela suspira.–Sinto falta de poder... ter alguém pra quem voltar a noite.

—Que acha de ir comer um podrão hoje?

—Porra, Nelson, você é o cara.

*

Verônica deu mais uma mordida e sentiu suas veias entupirem com tanta gordura, virando um copinho plástico de coca. –Eu juro, isso aqui é muito mais gostoso com refri do que com cerveja.

—Real. Mas fala aí, poxa. O que tá rolando? –Nelson fala, com a barba suja de molho.

—Ah, eu sinto falta das crianças. Sabe, de ter algo bobo pra chegar em casa e ver, como os vídeos estranhos que eles vêem na internet, ou... As brincadeiras engraçadas. Sinto falta de ser mãe.

Verônica se lembra de Lila na sua época questionadora, perguntando onde as nuvens iam, até a infeliz pergunta de por que pessoas matavam. Lembra de Rafa quando caia e se ralava, se acalmando apenas com as palavras da mãe e fazendo bico pelo remédio ardido. Não pode evitar de sorrir ao lembrar desses momentos bobos.

—Mas o combinado era um mês com ele e um mês com você, não? –Indagou o outro.

—Ah, mas é complicado, né? Ainda mais por causa da minha profissão. A gente mudou pra todos os finais de semana comigo, mas ainda trás falta. Pelo menos, eu consigo me acalmar. Esse fim de semana foi muito bom, comemos besteiras, vimos filmes de adolescente. É bom se perder nesse mundinho. Rafa me disse do garoto que ele tá interessado. –A morena sorriu. –Tudo é uma experiência.

—Que bom. Pensa, tá evoluindo. É duro, mas ainda tem seus momentos bons. –Disse o homem, dando uma golada em seu copo de refri. –Vi que você e a Anita nem tão se olhando mais. A briga foi feia?

—Oh, meu Deus. Nelson do céu. –Ela suspira.–Eu não te contei. Não tive tempo. Realmente, deu merda. Mas outro tipo de merda.

Verônica pensa no dia do beijo. O desespero que sentiu quando o seu corpo se aqueceu e sentiu um leve frio na barriga só de beijar a delegada. Imaginara que era o calor do momento, o medo, a vulnerabilidade. Afinal, não existia mulher que a morena mais odiasse que a própria Anita Berlinger. Pensara que suas veias queimando e os seus olhos vidrando na loira era reação do ódio animalesco, mas se provou errada ao sentir o simples toque da mesma. Era ridículo.

Mas não era errado. Frustração tem que ser liberada. Verônica não era a mais certa nisso, não. Lembra de, em brigas com Paulo, algumas acabavam resultando em ambos concluindo na cama. Outras em dormirem separados, já teve vezes que até ela foi para o sofá. Até a mais recente e crítica. Não consegue entender onde as coisas foram tão erradas. Só lembra de começar uma discussão boba e olhar nos olhos de seu marido, que um dia via a compreensão. Depois de certo tempo, percebeu que usava os olhos de Paulo para encarar os seus próprios, e aí começou a desandar.

As coisas mudam, como ela mudou. Sempre pensou nisso, em ter uma família, um emprego bom, uma boa relação. E um dia, esses pilares não eram mais os principais. Talvez nunca tivera sido. Seu amor pelas crianças era incondicional, mas pelo seu marido, ela viu apagar. Não haviam mais borboletas. Verônica se sente horrível de lembrar que em suas últimas semanas, usava de sua relação para poder se aliviar do peso e estresse. Lembra de ter relações e logo em seguida ir para o banheiro se lavar. Era doentio.

OBSCURO - Veronita. (Em pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora