20. Fugitiva;

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—Solta a porra da arma. –Anita sentiu o frio metálico em si, encarando o retrovisor do carro lentamente. –Agora, Anita.

Os olhos escuros olhavam com um tipo de ódio ou indiferença tão grande que a delegada quase não reconheceu, suspirando e colocando a arma onde Verônica pediu.

—A do porta luvas também.

Antes que a delegada pudesse responder, a arma foi pressionada contra a mesma, a fazendo apenas obedecer. —Tá diferente...

—Cala a merda da boca. Sai do carro, agora.

Anita hesitou.

—Não tá ouvindo, caralho?! Sai do carro!

A delegada saiu e colocou as mãos pra cima, fitando o chão um tanto envergonhada de ser impotente numa situação assim, ainda mais com a Verônica... Era infeliz, ainda mais que não é a primeira situação de impotência com ela, porém, pode ser a última.

Verônica sentia sua mão tremer. Talvez de ódio. Vendo Anita ter seguido sua vida, continuar sendo uma pessoa "normal". —Vai ter um despache. Me conta sobre isso.

—Verônica...

—Vai morrer por isso? Tem certeza disso? Anita, dessa vez eu não tô brincando com a arma, eu vou estourar a tua cabeça.

Anita suspirou agoniada. –Não faz isso. Seja racional. Acha que eu sou mais valiosa morta? Se negociarmos, eu posso ver um jeito favorável pra nós duas.

—Para de mentir e desembucha, você só enrola. –Verônica empurrou Anita com a arma.

*

Anita encarava o chão bem ciente do que tinha acontecido. E de que seu corpo estava definitivamente moído. E que estava completamente fodida por abrir a boca. Olhou rapidamente no espelho do quarto de hotel, seu rosto com hematomas e cortes.

Não sabia o que iria fazer, ou como iria se safar. Quem diria que uma morena peituda ia acabar desse jeito? Com um suspiro, se deitou e encarou o teto, com medo de voltar para casa. A esse ponto, Verônica já agiu e as consequências vão chegar a Anita rapidamente. Pegando as chaves de seu carro, Anita pagou pela estadia e voltou para casa.

O que poderia ser pior, agora? Enfim, até a própria Verônica disse, a delegada não passa de uma vítima. De... Uma ferramenta.

Olhando o celular, tentando formar pensamentos coerentes ou algo que não a lembrasse de sua insignificância, Anita mandou uma mensagem para Verônica.

Eu vou cooperar. Pensou.

Ouviu sua porta abrir levemente, baixo e sútil, mas ouviu. Quando se virou, sentiu o impacto na sua cabeça e apagou quase de instantâneo. Doeu. Muito.

Dizem que antes de morrer, você ainda fica sete minutos com consciência, que vê a vida passar diante de seus olhos, essas bobagens. Anita só ouviu o som de seu próprio corpo caindo. Lembrou de Verônica falando coisas que lhe fizeram refletir. Lembrou de quem machucou.

Ela queria ajudar, ela tava disposta em ajudar, ela ia ajudar! A esse ponto, o que era de se esperar? Com o ruído de seus ouvidos e chiados indescritíveis, a loira jurou ouvir algum tipo de grito e estrondo, mas no que confiar? Afinal, quem sabe é o portão do purgatório e ela não está completamente no plano espiritual, ou algo assim.

Até... acordar novamente? Não. Isso tá errado.

Anita gemeu de dor ao sentir o corpo inteiro latejar, especialmente o pescoço. Seus dedos formigam e as luzes machucam os seus olhos, mas a única sombra do quarto é mais que visível. —Glória?... Que caralho é esse?...

OBSCURO - Veronita. (Em pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora