14. Você mudou, tá diferente;

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Verônica não consegue explicar a frustração que sente, não consegue explicar que sabe bem que Anita está mentindo porquê já viu entrevistas, interrogatórios, conhece sua voz e expressões, mas não sabe explicar que isso fere o pouco que acreditava ter concordado com a delegada, sobre lhe deixar dizer como realmente era a situação. Eram mentiras atrás de meias-verdades e palavras incertas, e, honestamente, do que isso valia?

Verônica tipicamente não gosta de agredir pessoas sem razões e entende que sentimentos não são razões o suficiente para poder agredir alguém, mas, merda! Qual o problema de Anita?

—Entende? São só organizações diferentes e você coincidiu de estar lá, eu pago pra me protegerem e, na época, eu tinha uma stalker. –O sorriso amarelo da loira provocou uma reação de asco no rosto de Verônica.

—Anita, eu sei que não parece, mas agora, exatamente agora, sua vida está, de fato, em risco! Eu tô com uma arma carregada e tô falando pra você contar a verdade.

—É a verdade!

Verônica não precisou falar nada. Não dessa vez. Pois sua ação foi o suficiente.

Com a arma engatilhada e encostada na cabeça de Anita, a morena sentiu a delegada engolir em seco.

—Te defender me pôs em risco, Verônica.

—Tentar me matar duas vezes não te pôs em risco?

—Três. –Anita disse, logo após pigarreando.

—Três?! Tem uma a mais e eu nem tô sabendo?!

—Deixa pra outro dia? Quando essa arma não tiver na junção das minhas sobrancelhas?

Com um suspiro frustrado, Verônica tirou a arma da cabeça da outra e apontou para seu pé. —Vai perder um dedo.

—Pedicure mais barata.

Com um tapa de leve no rosto, mesmo assim doído, Anita entendeu que já era hora de parar com as piadas e provocações. Talvez ela realmente tivesse cavado a própria cova simplesmente por... algum distúrbio mental que lhe atraia a coisas que poderiam te matar e lhe davam raiva. Ou seja, Verônica Torres.

Como explicaria a situação de Matias e continuaria segura? Verônica é um tropeço em seu caminho e essa informação nas mãos dela pode ser perigosa de mais. Mas se não contar, vai ser pior pra si. Não acredita que a escrivã iria atirar ou lhe machucar, mas iria investigar sobre. O pouco de informação que a morena tinha era suficiente pra diversos gatilhos de como chegar a informação mais importantes e isso sim, era perigo.

Mas por que era perigo? Afinal, o que é a simples, divorciada e vulnerável Verônica Torres no olhar de Matias, Dóum e Brandão? Uma pedra, um desconforto simples, fácil de lidar. Então o que causava essa agonia em Anita? O que lhe doía tanto? Qual era o problema?

Mordendo seu lábio impaciente, a ponto de machucar, a loira fingiu não saber o que lhe causava desconforto em revelar tudo isso.

Era Verônica.

Sempre seria Verônica.

Anita odeia Verônica.

E odeia mais ainda a ideia de lhe ver em perigo.

Consegue lembrar seu desespero vividamente no dia que viu Verônica ser atacada em sua própria casa, pelo seu próprio capanga. O olhar de Verônica, o olhar de derrota, isso lhe abalou. Talvez seja bobagem, mas Anita estaria sentindo empatia pela primeira vez em muito tempo, ou afeto por alguém que não era obrigatório. Que, na realidade, era a última que merecia seu afeto.

Não aguentava pensar que Verônica teria esse mesmo olhar, mórbido e desistente, mas futuramente e sem ter como ser salva. Afinal, Anita era forte, mas não relevante. Era protegida, mas não necessária. É comum imaginar isso, ainda mais por ter abatido um de si por ela. Por Verônica.

OBSCURO - Veronita. (Em pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora