Em sua madrugada sombria e de calafrios, Verônica acordou de seu pesadelo com breves batidas em sua porta. Já delirou antes, não sabia se de fato estava acordada, mas não tinha o que fazer.
Sonhara com sua morte eminente, ou melhor, seu ceifador, de olhos claros e lindos cabelos louros, que lhe olhava com desdenho de sua posição alta, tanto de poder quanto de ego. Pegara sua arma, checando a munição e destravando. Com passos lisos e quietos, abriu a porta repentinamente, apontando sua pistola quase como instantâneamente.
—Nossa, muito bom te ver também. –Disse Anita.
De fato, era bom. Não que Anita fosse anti higiênica, porém, o cabelo colado no rosto da morena com traços de suor, a camisa larga descendo pelo seu ombro definido e clavícula chamativa, a calcinha boxer apertada em suas coxas e consequentemente a glock apontada para sua testa... davam algo a se dizer. Além de "não atire, por favor."
—O que você quer? Sabe que horas são?
—Eu... Sonhei com você e fiquei pensando... É melhor eu te dar fragmentos da verdade do que você achar na força bruta e acabar soterrada em algum alqueire abandonado no sul do país. –A loira disse, olhando o chão e a casa familiar. –Ainda sou bem vinda?
—Não. Faz um tempo.
—Que pena. Vai querer ouvir?
—Teve disponibilidade pra bater na minha porta essas horas, consegue falar tudo aí. –Verônica fitou a mulher e sua arma novamente, leu os números de série. De fato, não é um sonho, não é possível que seja tão realista.
—Que petulância.
—Tá tentando me seduzir com vocabulário? Não sou professora de português.
—Vai pra porra, Verônica. Vou entrar, abaixa a arma.
Melhor. Pensou a morena, permitindo a passagem da outra, que se acomodou no sofá. A escrivã trancou a porta e guardou a chave dentro de sua calcinha.
A delegada franziu o cenho.
—Tá no meu corpo. Tenho uma arma. Você não vai pegar tão fácil.
—Olha... Na verdade...
—Cala a boca, Anita. Não vou transar com você, veio aqui pra se redimir.
Anita suspirou. Queria se redimir exatamente para voltar a fazer isso, mas talvez falar isso em voz alta não fosse a melhor opção, ainda mais considerando que desejava as afeições de uma mulher que parecia ter saído de um estado de psicose.
—Acho que percebeu que eu não estou sozinha em toda essa situação, sim, escrivã? –Fora respondida com um aceno de cabeça. –Bom, acontece que ocasionalmente, sua família não tem um passado muito aceitável, especialmente não comigo. Não quero entrar em detalhes. E você tem a tendência insuportável de se meter onde você não deve, daí você se fode porquê é burra.
—Sabe que tá falando isso de si mesma, né? Porquê o maior problema em que eu me meti foi você. Quase literalmente. –A morena disse quase sem reação, segurando um sorriso malandro.
—Fica quieta. O caso era sim uma armadilha pra me livrar de você de um jeito fácil, mas você conseguiu sobreviver, então te tirei a força. Daí, na balada, eu... decidi mandar o assassino pra casa. E... Daí eu matei seu outro assassino. –Anita suspirou. –E o meu "líder" não vai gostar nada disso. Porquê, infelizmente, eu não vou a única que começou a tentar te matar, a ideia nem foi completamente minha, só apoiei na hora porquê você só me enche o saco.
—Não vai entrar em detalhes sobre mais nada?
—Não vejo necessidade, acho esse contexto o suficiente pra você. Você podia fazer a boa, se fingir de morta, mudar de nome e estado. Ia aliviar pra nós duas. –Cruzando os braços, a loira sugeriu, o tom quase sarcástico indecifrável.
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OBSCURO - Veronita. (Em pausa)
RomanceA vida pacata de Verônica não era mais tão entediante desde seu divórcio, que aprofundou a mesma em seu trabalho. Entre essas e outras, a presença da Delegada Berlinger era necessária em grande parte, já que mesmo contando com sua facilidade e boa c...