27- Um erro

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Sangue....

Muito sangue...

Foi a primeira coisa que percebi a deitar o garoto no sofá novamente, mesmo estando desacordado soluçava em dor. Havia um corte extenso que vinha do ombro e descia até mais ou menos os seu umbigo, este estava claramente aberto, e foi responsável por soltar tanto sangue.

Entretanto, não parecia tão profundo, então não atingiu algum órgão vital apenas pareceu bem...Mas bem doloroso. Como eu iria cuidar disso agora?!

Dei mais uma olhada e conclui se ele continuasse a soltar tanto líquido ele talvez ficasse fraco...Então enrolei-o com uma coberta jogada no chão e subi rápido atrás de algum curativo.

Eu preciso de algo...Rápido!

Corro para banheiro em busca de algum kit médico, observando a gaveta cheia de coisas ficar cada vez mas bagunçada. Logo, acho a famosa caixinha branca com a cruz vermelha em cima.

Volto para Tsukasa...Bem, ele parece estar respirando.

Pego o seu corpo...Mole, mas seguro com força para não escorregar e assim começo a passar as fitas em seu torso, tomando o cuidado para não provocar dor na ferida.

Após isso, dou uma boa olhada examinando...O sangue parou de escorrer tanto, mas ainda manchava o pedaço de tecido sobre si. Desastroso.

Pego sua pequena mão e coloco-a em meu rosto...Isto foi tudo culpa, eu não deveria deixar isto acontecer....Porém: Como? Eu nem ao menos estava consciente e totalmente fora de controle sobre meu próprio corpo. Aconteceu tão do nada, tão ligeiro e doloroso...

Eu espero que Tsukasa me perdoe.

Não que eu mereça ser perdoado, obviamente. Acabei de quase matar a pessoa que mais se importa comigo...A única que está ao meu lado durante o dia dia. Eu trai sua confiança, eu o machuquei como um animal feroz.

Eu sou um idiota, ser demônio é coisa de idiota. Humanos não fazem isso, certo?

Eu sou um monstro, eu deveria saber disso no momento em que passei a respirar nesse mundo, mas me dei conta tarde demais. Tsukasa apenas está comigo por pena e eu sei disso, se eu soubesse oque aconetceria pelo menos naquela época...Eu não insistiria tanto para que ele ficasse.

Deito o seu corpo no sofá e logo depois faço o mesmo com o meu. Estou apavorado, não sei oque fazer...

Eu deveria ligar para alguém?

Deveria sentar num canto e chorar encolhido?

Eu apenas quero que ele fique bem...

Sinto meus olhos se encarregarem e as lágrimas escorrerem pela bochecha...Eu fiz isso! E agora Tsukasa provavelmente não confiará em mim dnv.

Seguro sua mão gélida e mole contra meu peito, tentando para as gotas que desciam sem proporção...Acorde, por favor, eu só te peço isso. Me perdoe loirinho...

Eu deveria saber como controlar isso, mas simplesmente foi tão momentâneo, de repente....Eu queria apenas poder voltar no tempo e me trancar no banheiro momentos antes de tudo isso acontecer. Faço carinho em seus cabelos, suas bochechas, seus braços...Mas nada dele acordar...

Pelo menos tenho a certeza de que ele está vivo, já que é possível notar sua respiração-por mais que um pouco descompassada, o jeito que seu peito subia e descia lentamente, o corpo ainda quente, por mais que a expressão estive tão fria...

Me entrego aos prantos, desabando contra meu próprios joelho, abraço a mim mesmo, tentava consolar este silêncio que passou a ser preenchido por pequenos soluços chorosos.

Eu machuquei a pessoa mais importante da minha vida...A única que se importou verdadeiramente comigo...Uma das únicas que eu se quer conhecer.

Família.

Tsukasa era a coisa mais perto que eu tinha de família...Miku? Eu acho que ela nunca se importou comigo de verdade, sempre fui eu e eu contra a solidão. Irônico né? Fui tirado de minha própria família e arrastado para uma dimensão onde tudo que me restou foi passar uma infância sozinho.

O pior: Ela nem teve a competência de tentar me levar de volta para o inferno, quer dizer, eu estou aqui por um erro, que não foi meu, mas que custou literalmente minha vida toda. Porque não me devolver?

Eu fui inútil para ela de qualquer forma, já que não consigo realizar qualquer fosse o plano maluco dela. A
É como se eu fosse um brinquedo que veio estragado, mas ao invés de de trocar na fábrica por outro ela simplesmente decidiu me guardar num fundo do armário.

Num espaço que ela não liga, não olha, não tem nada de importante, apenas um lugar para deixar as coisas inúteis como eu. Abandonado com o seus próprios pensamentos, esperando que ela voltasse e brincasse comigo ou simplesmente mudar para um lugar onde ela me visse.

Mas isso nunca aconteceu, e eu fui deixado por anos e anos com os mesmos pensamentos e as mesma perguntas de sempre, me levando a criar respostas para, quem sabe, tentar confortar a minha própria mente. Pois  agora eu estou bem, eu já entendo qual foi o propósito de eu estar aqui, entendo a situação.

Imagine aquela época, onde eu era apenas uma criança de sete anos, uma criança confusa, sozinha e que chorava todas as noites sem entender oque faltava para ela ser feliz.

Eu não entendia porque eu estava chorando, pois nunca entendi o sentimentos de alegria ou tristeza, não tinha como dizer ao certo oque era aquele vazio que restava dentro de mim. Foi mais ou menos com 10 anos que ganhei uma televisão, pequena, mas era uma televisão.

Pode parecer bobo, mas eu me apeguei tanto a televisão...Foi a primeira vez que eu pude ver o mundo lá fora, entender meus sentimentos, minhas ações, era como se as peças que faltavam na minha cabeça fossem se encaixando. Foi vendo as pessoas na TV que eu aprendi como me comportar, o meu jeito de falar, o meu jeito de vestir, aprendi a escrever. Eu procurava tudo, absolutamente tudo, era minha única forma de saber a verdade.

Foi então que eu descobri oque faltava para cobrir aquele vazio: Atenção e afeto.

Coisas que uma mãe, um pai, um parente ou simplesmente um amigo daria para mim, mas eu sempre estive isolado.

Eu nunca tive isso, e tenho inveja de quem tem ou já teve a oportunidade de receber amor.

Eu só quero ser amado, eu só quero que alguém cuide de mim, se preocupe comigo, que lembre que eu existo, que não me jogue de escanteio.

Eu quero ser tirado do armário, eu queria ser um brinquedo completo e funcional, para que alguém pudesse brincar comigo ou dizer que eu sou seu brinquedo favorito.

Quero ser abraçado, quero conversar, quero ouvir, quero sair para passear, quero viver....

Até mesmo um brinquedo é mais vivo que eu.

-Hm....Rui?- Sinto um calafrio novamente, vendo os olhos claros piscarem lentamente, se acostumando com a claridade.

Eu suspiro aliviado, agarrando o seu corpo com todas as forças, sinto meu rosto arder e cada vez o choro percorrer:

-Tsukasa! V-Você finalmente acordou! Eu...Me desculpa, eu não sei oque houve eu não sei porque eu só...foi de repente, nada que eu fale vai justificar e você tem o total direito de ficar bravo comigo! Se quiser você pode ir embora...Eu entendo!

-Rui...-As íris focavam nas minhas, tremiam confusas.

Mas eu sinto os braços envolverem e retribuirem com um aperto, se aconchegando sobre mim. Pela primeira e única vez sinto esse vazio sendo preenchido por ele....

Eu te amo, Tsukasa Tenma.

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<3 (Amo fazer personagem sofrer)

Bjs do Henry!

☆&quot;Querido&quot; Demônio | Ruikasa☆Onde histórias criam vida. Descubra agora