33- Bem vindos ao "lar"

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O cheirinho de grama molhada..o ar limpo, o sol brilhante e as arvores de folhas bem verdinhas, isolado do exterior, apenas algumas pequenas construções: Um mercadinho, casinhas de madeira, uma escola, um barzinho e, é claro, vários boizinhos, vacas e galinhas por todo lado.

Que saudade tinha eu do exterior, que eu nem se quer sabia que tinha! A vida na cidade se tornou tão rotineira e barulhenta que esqueci toda essa paz e silêncio...Vejo os olhos do garoto ao meu lado se iluminarem, como se visse a vida pela primeira vez-Oque é mais ou menos oque está acontecendo....

-Aqui é tão lindo!-Falou olhando para todos os lados- Tão verde...Incrível! Mas vocês humanos tem uns bichos muito esquisitos!

-Como assim?- Indaguei, carregando uma mala de rodinhas, que tremia a cada pedrinha que passava, dificultando um pouco a caminhada e até mesmo a conversa por conta do barulho.

-Esses bichos pequeninhos com um treco esquisito na cara e perninhas curtas...Esses grandão com chifres....Eles são demônios também?!

-Não Rui....Esses são bois! E aqueles pequeninhos são galinhas!- Aponto para uma ovelha- Aquela pelidinha ali é uma ovelha...A nossa roupa é feita dos pelos delas, que chamam lã

-Uau...Interessante...!

-Como você não sabe o nome desses bichos? Nunca viu na TV ou algo do tipo-Debochei, chutando algumas pedrinhas no caminho afim de evita-las

-Eu já vi...Mas eu não me lembro de falarem o nome de nenhuma delas...

-Você é tão inteligente para certas coisas e tão burro para outras-Revirei os olhos- Eu acho que eu vou comprar aqueles livrinhos de neném pra você, pra ver se você aprende o básico!

-Ou!

Ri histericamente, logo após, um silêncio se estabeleceu, confortável, andavamos um ao lado do outro. Nos afastamos das construções pequenas e caminhamos ainda mais para longe, numa estradinha de barro pisateada por uns breves minutos, até pararmos em frente a uma mureta.

Mureta de madeira de qualidade, meio molhada, meio mofada, sempre esteve assim, o portão já estava meio aberto, como quem esperava uma visita, e bem, cá estava a visita!

Abro o portãozinho e dou espaço para Rui passar, fechando-o logo após, logo na nossa frente, estava aquela casa! A casa que eu cresci dirante toda minha vida. É tão estranhamente bom voltar para cá, tantas memórias-Boas e ruins- voltam como um flash na minha cabeça, apenas de respirar sinto o aroma que vem da cozinha.

Me lembro de brincar com Saki e Toya na rua antes do almoço, e assim que estava quase pronto, eramos notificados com o cheirinho bom que vinha da janela. Na hora, largavamos tudo que estavamos fazendo e corriamos até o banheito lavar as mãos que normalmente estavam emporcalhadas de terra, e então sentavamos na mesa, comportadinhos, quietinhos e com as perninhas inquietas debaixo da mesa, esperando pela comida.

Eu me lembro de amar a batata gratinada, já Toya, quando vinha almoça conosco, gostava do peixe, e Saki...Bem, ela sempre foi esfomeada..Então metia qualquer coisa pra dentro e ainda raspava o prato!

Ah, e por falar nela:

-Tsukasa!!!- Sou recebido pela voz fina familiar, a loira se levanta do vão elevado dentre a porta e o chão do pátio e vem correndo na minha direção, braços bem abertos, preparada para um abraço apertado- Você finalmente chegou- Assim ela fez, um abraço de urso que parecia querer explodir minhas tripas para fora, como eu já estava acostumado.

O sorriso tampava seu rosto, algumas pequenas lagrimazinhas se formando no canto dos olhos. Logo atrás, vejo uma mulher de cabelos compridos até a cintura, sorriso carismático, um pouco mais alta que minha irmã, porém mais grisalha, me recebe com a voz rouca:

-Vocês chegaram! É tão bom te ver denovo filho!-Me abraçou em sequência, logo direcionando seu olhar para o demônio ao meu lado- E você seria?-Perguntou gentilmente.

Saki se vira para ele, confusa, como se acabassse de notar que ele estava aqui-coisa que provavelmente aconteceu:

-Eu sou Rui Kamishiro, amigo do Tsukasa- Cumprimentou em um rapido aperto de mãos- É um prazer conhecê-la

-Eu que diga!-Respondeu carismático. Assim que se defez do aperto de mão, se virou para mim e sussurrou-Todos os homens da cidade grande são bonitões assim?

-Mãe!-Dei um tapinha em seu ombro, forçando uma caranca emburrada- Mas não, não são todos

-Não são todos oque?

-Esqueça Rui, Esqueça- A mulher se fez de sonsa- As coisas de vocês já estão lá no quarto! Separei um colchão para um de vocês dois dormirem...Levem as malas lá e se apressem pra almoçar, fiz batata recheada hoje

  Vamos entrando todos na casa, passando primeiro pelo hall de entrada- Que ainda possui uma samambaia estupidamente grande pendurada-Passamos pela cozinha cheia do cheirinho agora denominado como batata, minha mãe acaba ficando por lápara terminar as coisas, pela escadaria não muito longa e por fim, chegamos a segunda porta a esquerda:

-A casa de vocês é muito bonita!-Elogiou o demônio, dando uma bela entrada antes de entrar no quarto

-Obrigada!-Respondeu Saki, animada- Eu separei um cantinho no armário para vocês deixarem as malas!

Abro o guarda roupa e, realmente, lá havia um espacinho para nós, começo a ajeitar as coisas até que

-Rui- Chamou a loirinha

-Sim?

-Como conheceu o Tsu?

Puta merda.

Nós nos esquecemos de nos preparar para esse tipo de pergunta.

Eu e ele nos entreolhamos, sem saber oque responder, ele abre e fecha a boca várias vezes, tentando formular algo, procurava alguma resposta em mim, que estava dez vezes mais confuso:

-N-Nós...Hmm...Na faculdade, óbvio!- Respondeu

-Legal! Vocês são colegas?

-Exatamente...!

-Vocês parecem ser bem próximos...Quer dizer quando vocês estavam vindo eu vi o jeito que vocês estavam conversando...E só pelo fato de Tsu ter te trazido pra cá...Não é uma coisa que amigos fariam...

-Oque quer dizer com isso?

-Vocês estão namorando?

  -....

  -....

O silêncio preenche o espaço.

Não tenho nem mesmo coragem de olhar para cara de Rui nessa situação! Apenas fecho a porta do guarda roupa com todas as minhas forças, num boom ensurdecedor. Sinto meu rosto esquentar e gaguejo:

-Ó-Óbvio que não! E-Eu não gosto de-

-O almoço está pronto!!

Berrou a mulher no andar debaixo:

-V-Vamos almoçar!-Pigarriei quase gritando empurrando os dois até a cozinha.

Consiguia ver uma leve decepção no Rui, e uma intragancia em Saki, mas decido ignorar por agora- Pelo meu bem e pelo bem da minha sanidade mental!

Desço as escadas e chego na cozinha e me deparo com o dono do aroma saindo do forno, quientinho, prontinho para ser devorado! Abro um sorriso largo, caminhando em direção a mesa e me desprendendo das duas vítimas que arrastei comigo...Puxo minha cadeira na mesa, fazendo aquele barulinho chato e, quando finalmente vou sentar, paralizo, pois eu vejo ele.

Ele....

Oque...Oque ele está fazendo aqui???

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☆"Querido" Demônio | Ruikasa☆Onde histórias criam vida. Descubra agora