32- Trem peculiar

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Plim

"Atenção passageiros, o trem três meia cinco chega em alguns minutos. Por favor se dirijão ao local de embaque marcado"

Plim

A voz soou monótona, um tanto quanto repetitiva...Afinal, em apenas meia hora, diversos trens iam e viam para a capital. Era um final de semana um pouco nublado, ou seja, não haviam muitas pessoas indo passar em outros lugares.

Entretanto, ainda havia um amontoado de gente. Era triste ver as expressões dos homens cansados, tendo que ir trabalhar em plena manhã de sábado em outra cidade...Mas também haviam um sorrisinhos alegres aqui a li. Por estar lotado, o barulho estava estramamente alto, as pessoas costumam gritar para conversar em lugares lotados como esse, criando assim um ciclo vicioso.

Agora, eu não sei se demônios tem alguma sensitividade auditiva maior que  a de humanos...Mas era de fato triste olhar para Rui naquele estado. Encolhido, tampando as orelhas com as mãos finas, seu olhar tremia pelo salão, ansioso.

Meu corpo se encontra contra o seu num abraço apertado, numa intenção de aliviar esse nervosismo do de cabelos roxos, mas não parecia adiantar...Ele, que geralmente era tão falador, não havia falado nem se quer uma palavra dentre esses trintas minutos, apenas se encolhia como uma criancinha prestes a chorar.

Ele me lembrava de Saki quando mais nova...Que chorava noites e dias pensando em sua doença incurável. Seu pequeno corpo agarrava o meu e fungava, oh, como era injusto! Eu era uma criança...Eu não entendia oque de fato estava acontecendo, mas tentava ao máximo conforta-lá, saindo no meu quarto de fininho na madrugada e indo para o quarto da garota para ver como ela estava.

Eramos apenas duas crianças, sabe? Tentando viver a sua infância do melhor jeito possível, mas era difícil ter que se preocupar tanto...Um dia aleatório poderia ser simplesmente o ultimo de Saki, sem mais nem menos, nem um adeus, só a morte.

Me pergunto como ela está agora...

-Rui...Se levante, nós temos que ir- Sussurrei perto da orelha, o citado estremeceu e levantou com cuidado, tirando as mãos dos ouvidos e agarrando a grande mala roxa.

-Onde que a gente embarca?-Falou, se abaixando para que eu pudesse escutar

-Me segue

E foi assim que fomos parar numa filinha, nem um pouco reta, aliás. Na nossa frente, um garotinho jogava em algo que parecia ser um gameboy enquanto se agarrava no vestido da mãe.

Ele deu uma breve olhada séria para mim e para Rui...Mas antes que falasse alguma coisa o barulho alto dos trilhos e dos apitos se fizeram presente. O trem parou na nossa frente, era como nos filmes! Vermelho escuro, com um telhado preto, fumacinha saindo da chaminé...Estava um pouco velho e enferrujado em algumas partes...Mas era bonito de ver...

O demônio brilhou os olhinhos olhando para o veiculo, neste momento, a fila começou a andar e entramos ao pouco. Não era tão espaçoso quanto parecia ser por fora, mas não deixava de ser confortável! Me arrasto pelo corredor procurando pela minha cadeira, e antes que eu pudesse me sentar primeiro, Rui protesta:

-Eu quero sentar na janela!-Implorou

-Não...Eu que vou!

-M-Mas eu nunca fui na janela!- Falou num falso tom choroso

-E?-Contrarie revirando os olhos

-Eu quero ir!

-Mas eu cheguei primeiro!

-Independente, eu quero me sentar-

-Ei vocês ai, os outros querem se sentar também-Soou uma voz raivosa, parecida com uma de uma idosa

  Me viro para traz, encarando a fila de pessoas rancorosas que fitavam a a pequena confusão entre mim e ele,  sinto minhas bochechas esquentarem de vergonha:

-P-Perdão-Murmurei constrangido, empurrando o demônio para o banco da janela- Em cada coisa que você me mete!- Sussurrei, logo me acomodando ao seu lado.

Ele sorriu vitorioso, sua mão se agarra na minha e em um tom brincalhão ele responde:

-E sabe que mais eu "te meti"?-Sugeriu aspas com a outra mão, esse seu ato malicioso me faz ficar ainda mais vermelho

-Cala a boca Rui!

-Uiii, me cala!

Reviro os olhos, me ajeitando no lugar e colocando a mala amarela que eu carregava para baixo do banco-Sei lá quem teve essa ideia, mas é simplesmente uma das coisas mais uteis que eu já vi, ou talvez eu esteja exagerando- O homem copia meus movimentos, apesar de sua mala ser umas três vezes menor que minha, podendo facilmente caber entre seus pés:

-Engraçado você estar todo atrevido assim...Nem parece que tava todo ansioso ontem, que tava se tremendo que nem vara verde!

-Ou...Foi desesperador né? Você tem que concordar....!

-Você estava tão desesperado assim pelo o meu-

-Olha mamãe, são os gays de novo!

Sou interrompido novamente...Puta merda, o mundo ama me interromper não é mesmo!?

Olho para o lado e vejo o mesmo menininho de antes, apontando com seus dedinhos gordinhos e sujos de bolacha para nós, como se acabasse de ver uma espécie rara de bicho em um zoológico. A mulher ao lado dele esconde a cara entre as propias mãos-Certamente bem mais limpas e magricelas do que a do menino- Vermelha de constrangimento:

-D-Desculpa senhores! Meu f-filho não sabe oque fala...!

-Como assim eu não sei?- Perguntou inocente, se virando para a mãe

-Mas ele está certo senhora, nós realmente somos-Respondeu o de cabelos roxos, sorrindo de orelha a orelha.

-R-Rui!

Simplesmente era como se minha alma saísse do corpo e voltasse de novo, não sei se ao certo se estava pálido ou vermelho, só sei que um arrepio percorreu minha espinha e eu apenas pude retrucar:

-N-Não ligue para ele...Está tudo certo!

-Oh!-Disse, agora usando a mão esquerda para cobrir a boca- Parabéns pelo casamento!

Ela ignorou totalmente meu pedido de ignora-lo

-Casamento? Como assim casamento?

-Vocês...Não são casados?

Esta vai ser uma longa.... viagem!

☆"Querido" Demônio | Ruikasa☆Onde histórias criam vida. Descubra agora