Helicóptero

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 Os últimos acontecimentos foram uma merda, Pete deixava transparecer sua frustração a cada coisa que dava errada, a cada estresse que a equipe passava. O último ataque provou ser o pior, eles quase perderam duas pessoas de uma só vez, a criatura havia ficado ainda mais insistente, não os dando pausa e não os deixando motivos para continuar investigando dentro da base.

Já tinham feito e pego o'que queriam, documentos, equipamentos e informações tiradas de dentro do local só tornaram as coisas ainda piores para os sobreviventes, mas deixaram Peter levemente mais estressado e defensivo mediante a toda situação.

Foi durante a caminhada na neve densa que todos do grupo analisaram e tiraram suas próprias conclusões da situação que estavam. Pete sabia que apesar da índole, crenças ou objeções de cada um do grupo, o mesmo resultado apitava na cabeça de cada um deles, Micael estava escondendo alguma coisa e a história precisava ser tirada a limpo, eles já sabiam o'que estava de errado, mas queriam ouvir da boca do homem que os enganou.

O "zelador" não iria excitar em expor o motivo de estar aqui caso fosse necessário, ele tinha mais de um motivo para isso naquele momento, a segurança dos civis que o acompanhavam, principal dos dois indivíduos que estavam à sua frente. Um homem de cabelos loiros e olhos verdes, que segurava firmemente as mãos de uma garotinha de cabelos castanhos agarrada a uma pelúcia esquisita — ela o chamou de Creeper.

A energia estava de volta, toda a torre de comunicação estava visível e um pouco mais aquecida do que o lado de fora, apesar do local destruído. Assim que chegaram uma discussão se deu início entre Benito, Luis e Micael, deixando o restante do grupo apenas como espectadores. Emi estava agarrada na lateral de Diego, soltando breves soluços durante toda a conversa e as ameaças.

— Eu só preciso que alguém me coloque lá em cima, assim arrumamos o sinal e saímos daqui! — foi a frase de Micael após a ameaça feita por Benito e Luis.

Quando todos os demais se recusaram, Diego se propôs a fazer a ação, mesmo que não estivesse nem um pouco feliz em oferecer aquele suporte. Pete e Emi também protestaram contra Ideia do brasileiro estar fazendo aquilo, mas Luis estaria com ele, pronto para acabar com a vida do seu falso salvador caso tentasse algo contra o grupo.

Foi necessário um pouco mais de pressão acima de Micael para que ele finalmente abrisse a boca, expondo a verdade, mostrando oque ele pensava e demonstrando o motivo de fazer as coisas que fez. Tudo oque saiu da boca daquele homem fez Pete enxergar vermelho, a raiva que cresceu em seu peito não era nenhum pouco humana.

Um sentimento fervente em seu peito, sentia como da primeira vez que usou um ritual de ódio em si mesmo em um combate o qual estava a beira da morte. Ele detestava o paranormal, mas aquilo foi o único jeito que achou de sobreviver, mas aqui estava ele, na frente de um lunático que estava apaixonado por uma criatura monstruosa que mataria inocentes ou qualquer ser vivo à sua frente.

Você é louco... — Pete sibila em um murmurio por estar com os dentes travados, suas mãos tremiam de ódio por cada coisa que ouviu daquele homem.

O combatente arrancaria o outro braço se fosse necessário, quebraria ambas as pernas e o jogaria para o lobo inocente que aquele lunático admirava. Mas ele não fez nada, se segurando para não pegar sua própria arma e atirar contra aquele homem, ele precisava estar pronto para proteger as duas pessoas que agora estavam atrás de si — a segurança de Diego e de Emi...e do restante do grupo eram mais importantes.

— Ele realmente é maluco — Jeffrey aponta, iniciando uma linha de concordância dos outros dois companheiros.

Diego permaneceu quieto, se concentrando em estar com Emi naquele momento, se recusando a pensar em mais mortes, não que ele quisesse Micael com eles após ouvir toda aquela ladainha sem nexo dele, mas ele sente que já provou muito do gosto da morte por um dia.

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Era um caos, e mesmo mediante ao caos Pete não conseguia desviar o olhar de um dos sobreviventes, aquele que lhe salvou e se manteve ao seu lado, acreditando e depositando fé nele. Diego era muito ágil e rápido, conseguindo acompanhar toda a corrida com muita facilidade, além de ter descido da torre utilizando de uma manobra complicada — ele se recordava de uma conversa qualquer, no qual o brasileiro contou que treinava parkour, apenas se utilizando de vídeos postados em redes sociais.

Esse fato foi interessante, a facilidade de Diego de aprender e se adaptar, ele daria um soldado incrível se fosse devidamente treinado.

Fogo e gritos anormais estavam por toda sua volta, enquanto todos corriam em direção ao helicóptero, suas passagens para sair daquele ring de monstros.

Pete e Diego trabalhavam juntos para conseguir avançar em frente, mantendo Emi firmemente nos braços do zelador, segurando-a enquanto usava todas as suas energias para correr e avançar o mais rápido que conseguisse. O brasileiro seguia logo ao lado, guiando eles pelo caminho para chegarem no ponto seguro, enquanto Emi permanecia agarrada com força contra o careca, sempre obedecendo os comandos para ir de um braço para outro ou não olhar para o caos que os cercavam.

Várias vezes Pete temeu o pior, sentiu o medo penetrar seus ossos quando as criaturas que brigavam ao seu redor vieram para cima do grupo — ele sentiu medo pela garota que estava em seus braços, sentiu pânico todas as vezes que Diego quase era atingido pelas garras das criaturas.

Todos haviam chegado no helicóptero, Emi havia ficado nos braços do brasileiro, permitindo que por vontade próprio Pete ficasse para trás, garantindo que todos estivessem em segurança antes dele mesmo chegar ao destino.

Foi por um fio que o soldado não ficou para trás, o helicóptero já havia subido quando ele agarrou as escadas da nave e a escalou com toda a força que lhe restava, seu corpo estava exausto após tudo, mas ele não poderia desistir agora. Assim que ele estava no topo, não foi um militar que lhe estendia a mão e sim um homem dos olhos verdes mais brilhantes que Pete já viu — ele nem teve tempo de os admirar quando foi puxado para dentro da aeronave e um par de braços o circular e o puxar para baixo.

Levou o'que apareceu minutos para que todos se acalmassem, demorou para que Pete finalmente percebe sua atual posição, praticamente estando sentado no colo de Diego, com os braços do outro homem circulando seu tronco, enquanto seu rosto estava na curvatura do pescoço. Eles estavam seguros, esse fato foi uma alavanca para que inconscientemente Pete deixasse o cérebro entrar em curto circuito, seu peito ardia em chamas e subia para se espalhar por todo o rosto até as pontas de suas orelhas, ele estava se sentindo um maldito adolescente.

— Por que ficou para trás? — Um sussurro muito baixo faz Pete se afastar do homem menor, vendo Emi, agarrada na lateral de Diego — você queria ficar?

O coração do soldado parecia uma pedra caindo do alto direto em um rio congelado, a voz embarganhada da garota era como uma faca afiada.

— Eu precisava garantir que vocês estivessem seguros, eu não iria ficar para trás, garota — Pete tenta dar-lhe um sorriso reconfortante, tenta.

Deixando um soluço escapar, Emi rasteja e se espreme entre os dois adultos, obrigando os mesmos a mudarem de posição para acolher a garota em seus braços.

— Não faça mais isso — Emi se aperta contra Pete, escondendo o rosto úmido no cachecol laranja — não quero perder mais ninguém

O soldado levanta o rosto, encontrando o loiro já olhando em seus olhos, os dois expressavam uma mistura de tristeza e alívio, um mix de sentimentos intensos e inexpressivos. Todos estavam longe do perigo, eles sobreviveram ao perigo, mas ainda tinham um longo caminho para percorrer depois dali.

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