Capítulo 35

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Enid acordou muito cedo naquela manhã, sentindo uma estranha onda tomá-la. Nem era próximo da lua cheia, o que poderia justificar a vontade quase selvagem de extravasar o excesso de energia pela floresta.

Ela deixou Wednesday dormindo sobre a cama de casal, dando um beijinho no ombro da mulher dormente antes de vestir a calça legging roxa e a camiseta cor de rosa neon. Depois, desceu as escadas da casa silenciosa, sendo recepcionada pelo cachorro deitado em frente da porta de entrada.

"Também acordou cedo, big boy?" - questionou para o cão, recebendo um bocejo em resposta - "Que tal corrermos pela floresta?" - aparentemente a sugestão interessou Satã, pois o cão imediatamente se levantou.

Enid escreveu um bilhete, somente por desencargo, caso Wednesday sentisse sua falta ao acordar. Finalizado, saiu pela porta acompanhada do fiel companheiro, parando na varanda para um alongamento breve antes de iniciar uma longa corrida pela floresta que cercava a propriedade da Família Addams.

O sol despertava de maneira preguiçosa pelo horizonte, diferente da licana que corria cheia de disposição pelos caminhos embrenhados através da floresta de pinheiros. Numa certa altura, Enid parou e respirou profundamente o frescor da manhã, porém captou o fétido cheiro de carniça misturado ao perfume dos pinheiros. Era sutil, mas inegável que algum bicho estava morto dentro da floresta.

Ela aguçou os sentidos licantrópicos, não demorando para captar o pequeno som vindo de dentro da floresta. Em sintonia com sua dona, Satã virou a cabeça para a direção de onde o barulho vinha, Enid imediatamente ordenou.

"Não ataque." - ela começou a caminhar com passos suaves para evitar fazer qualquer barulho estridente.

Não demorou até Enid chegar próximo ao enorme tronco de árvore caído sobre o chão da floresta, próximo dele o odor de carniça ficava cada vez mais forte. Ela tapou o nariz, mas seus olhos azuis olharam com tristeza a cena diante dela.

"Coitadinho..." - disse ao ver o corpinho do gato preto, deitado sobre as folhas secas.

Satã se aproximou para cheirar o gato, mas foi impedido pela mulher lobo.

"O pobrezinho não parece ter sido atacado..." - quando decidiu se aproximar para ver melhor o que aconteceu, Enid ouviu novamente o barulho que havia chamado sua atenção, dessa vez o som estava mais perto, o que fez Satã latir - "Quieto! Vai assustá-lo!" - novamente ordenou.

Os olhos azuis procuraram pelo tronco caído, avistando o brilho da luz refletida pelo outro par de olhos lhe encarando. Enid sorriu, sentindo o coração bater acelerado, se agachando para não assustar o bichinho curioso.

"Ei... Está tudo bem, filhote. Eu não vou te machucar..." - garantiu, esticando a mão em direção do tronco onde o filhote de gato estava escondido.

Enid foi respondida pelo miado estridente do gato preto, o pequenino se escondeu mais para dentro do tronco, porém manteve o olhar atento na estranha que havia lhe encontrado.

"Sinto muito por sua mamãe, mas tudo ficará bem agora. Eu prometo."

Satã ficou quieto atrás da dona, deitado sobre as folhas num sinal que não representaria qualquer risco. Enid esperou pacientemente até que o gatinho deu os primeiros passos para fora do esconderijo, farejando o ambiente até chegar ao dedo indicador da licana, cheirando em sinal de agradecimento.

Quando Wednesday acordou naquela manhã, rapidamente percebeu que a cama estava vazia. Ela olhou para o lado, confirmando que a companheira não estava mais no quarto e, ao julgar pelo silêncio atípico, provavelmente estava fora de casa.

A vidente se levantou para mecanicamente iniciar a rotina de higiene matinal, na sequência deixou o quarto indo rumo a cozinha. Antes parou no quarto de Ártemis, abrindo a porta para verificar que a filha dormia profundamente sobre a cama em forma de caixão, um presente peculiar do abuelo Gomez para o aniversário de seis anos de sua netinha predileta.

Cara MiaOnde histórias criam vida. Descubra agora