- Capítulo 14 - Nada Tanto Assim -

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"Eu tenho pressa e tanta coisa me interessa, mas nada tanto assim."

Comecei a dirigir pela cidade, mas quase todos os lugares me lembravam o Edu. Passei em frente a minha antiga escola. O prédio havia sido reformado, mais precisamente restaurado, sem perder as características clássicas. Não pude evitar visualizar todas as vezes que ele me esperou, encostado displicentemente no carro, o sorriso aberto para mim.

Mais adiante estava a praça. O banco onde tantas vezes nos sentamos pra namorar estava ali, embora não pudesse precisar se os nossos nomes ainda estavam rabiscados dentro de um coração. A quadra, onde eu treinava, com ele me observando, parecia um pouco abandonada, embora alguns meninos jogassem futebol. Tentei não olhar para o lugar em que ele costumava sentar para me ver jogar, entretanto foi impossível.

Revi também o local que antes era a sorveteria e agora abrigava uma locadora de DVD, passei também em frente à lanchonete do Edu que deveria estar fechada àquela hora. Ela estava mais moderna, a cara dos jovens de hoje em dia. Ainda devia ser o principal ponto de encontro da cidade. As lembranças jorravam cada vez mais fortes na minha mente, e eu saí da cidade, acelerando o carro.

– Vamos ver o que você pode fazer, belezinha! – Falei com o carro antes de colocar o cinto, ligar o som bem alto e pisar fundo no acelerador.

Eu sempre amei velocidade, dirigir rápido tinha o poder de me acalmar, mas há muito tempo eu não fazia isso.

Lembrei da minha primeira briga feia com Edu, justamente por causa disso. Passamos quase uma semana sem nos ver porque eu corri demais na volta de uma viagem e ele gritou comigo.

Depois da fase da raiva comecei a sofrer com a falta dele, mas não ia dar o braço a torcer. Pensava nele quando o telefone tocou. Eu não me movi para atender e alguns segundos depois a Estela apareceu no meu quarto, abrindo a porta de uma vez.

– Monstra, telefone.

Fiz uma careta e levantei para atender, praguejando em pensamento, pois eu não queria falar com ninguém.

– Oi? – Falei irritada.

– Lua?

– Edu? – Me surpreendi. Ele nunca tinha ligado para minha casa antes.

– Oi! Vieram instalar o telefone hoje, eu estou ligando para inaugurar! – Falou alegre e sem resquícios de mágoa.

– Como você conseguiu meu número?

– Descobrir o telefone da casa de alguém nessa cidade não é nada difícil, principalmente da casa do prefeito. – Brincou e eu sorri – O que você está fazendo?

"Estou emburrada sofrendo com saudade de você" – Pensei.

– Nada! E você?

– Vem aqui em casa que eu te mostro.

– Agora?

– Por que não?

– Certo, já eu chego aí.

– Um beijo, amor. – Como meu namorado era lindo!

– Outro. – Respondi flutuando.

Desliguei e corri para o banheiro, eu queria ficar linda e cheirosa, para descontar os dias que passamos longe. Coloquei uma blusinha de alcinhas branca e uma saia comprida solta, cor de chocolate ao leite, que era da mamãe no seu tempo de hippie e eu amava. Prendi meus cabelos numa trança de lado e calcei uma rasteirinha que amarrava na perna e praticamente voei para a colina. Ele me esperava sentado na cadeira de balanço da varanda, e sem pensar duas vezes eu encostei a moto e corri, sentando no colo dele e abraçando-o forte.

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