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"Quando o amor verdadeiro chega à vida da gente, mesmo que ele não dê certo, deixa marcas permanentes".
Autor desconhecido
Se naquele momento eu pudesse realizar um desejo qualquer, não tinha dúvida de qual seria: que a música alta do MP4 que soava em meus ouvidos preenchesse a minha cabeça e permitisse que eu esquecesse o mundo ao meu redor, nem que fosse por alguns minutos. Apenas o suficiente para que durante alguns instantes eu não tivesse que pensar em nada, que minha mente ficasse absolutamente vazia, que meus medos fossem trancados num canto escuro e remoto e que uma folha nova cobrisse as páginas da minha vida, escondendo os meus erros. Queria tudo isso, mas queria, principalmente, que a palavra culpa fosse abolida do meu vocabulário.
Infelizmente, isso não era possível, já que a melodia acabava por lembrar justamente do que eu teria de enfrentar dali a algumas horas. E isso era assustador.
Sempre fui prática, realista, persistente. Eu persegui o meu sonho, eu batalhei por ele, consegui. E estava onde eu queria, fazendo o que gostava e recebendo por isso. Eu estava bem. E estava feliz.
A quem exatamente eu queria enganar? A mim mesma, admito. Tanto tempo, incontáveis pessoas, impensáveis mudanças. Nada adiantava, a ferida abrira mais uma vez. E doía. Eu já nem sabia mais o que tentar. Pontos, curativos, cola biológica, ervas medicinais, tratamentos "alternativos"? Nada adiantara. Uns a fizeram parar de sangrar. Outros a deixar de doer permanentemente, mas ela ainda estava lá. E voltara a latejar. Por isso tentei de todas as formas forjar uma desculpa para permanecer em Londres, mas nenhuma delas foi suficiente para convencer a mim mesma. Porque no fundo eu sabia que precisava voltar, sabia que não poderia fugir a vida toda do meu passado, embora quisesse e tivesse tentado fazer isso durante todos esses anos.
Eu olhava para o horizonte, enquanto me vinha à mente tudo que vivi naquela cidade, que eu já amava mesmo antes de chegar até ali. O cotidiano movimentado de Londres me recebeu num momento tão difícil e complicado, do qual eu achava que dificilmente me recuperaria um dia. Mas eu estava ali. Recuperada? Na medida do possível. Com o restante, não mão me importava muito, pois era naquele lugar frio e um tanto formal, que me sentia bem, livre e segura. Era o mais importante.
Desci da imensa roda gigante e encontrei um homem com os braços cruzados à minha espera:
– Você está atrasada. – Reclamou com uma voz tranquila.
– Eu sei, simplesmente não dá para ir embora sem passar aqui mais uma vez.
– Não sei o que você vê nessa geringonça. – Retorquiu olhando para London Eye, o enorme e lindo ponto turístico que eu mais adorava.
– Nem eu. – Respondi tristonha, fitando o monumento uma última vez antes de dar as costas. – Só sei que sinto uma paz muito grande aqui... Vou sentir falta de Londres.
– Eu também, mas precisamos ir. Temos um longo caminho pela frente. – Finalizou e tentei me resignar.
– Como o Theo está? – Perguntei enquanto andávamos até a estação de metrô.
– Extremamente animado com a viagem. Não para de fazer perguntas nem um único segundo.
– Posso imaginar. – Respondi com um sorriso fraco, porém sincero. – Pensei que ele não fosse dormir a noite passada. De cinco em cinco minutos perguntava se já era de manhã.
Horas mais tarde, quando demos as costas para o apartamento em que vivemos pouco mais de três anos na capital da Inglaterra, não pude evitar um estremecimento pelo meu corpo e um nó na garganta.
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Novo Horizonte - AMOSTRA
Chick-LitNovo Horizonte foi o primeiro livro que eu escrevi, lá em meados de 2008. Escrevi e deixei engavetado, ou melhor, arquivado numa pasta do notebook. Um dia, decidi publicá-lo numa comunidade do orkut feita pra isso, e ele foi bem recebido. Mas apague...