Capítulo Três: Passagens

25 1 0
                                    

Penélope Alles

Sábado, 20h35, São Paulo, Casa da Verônica.

A efervescência de um sábado de trabalho muito movimento fora uma experiência comum para mim e para Verônica. Num sábado a noite, quando os jovens aventureiros saem de suas tocas eufóricos em busca de algo que lhes sirva como uma injeção de endorfina depois de uma semana em abstinência, nós duas, sem um único pingo de energia, podemos estar juntas para uma única finalidade: comer uma barca de sushi e atualizar os capítulos das fofocas que chegam até nós. Especialmente do lado dela, já que trabalha com isso.

A comida ainda não havia chegado, embora estivéssemos famintas e raivosas pela demora. Nada diferente num sábado de São Paulo, o que é irônico quando estamos vivendo numa das maiores metrópoles do mundo. Apesar de tanto, estar com Verônica observando essa monotonia passar inúmeras vezes torna o processo um pouco mais divertido e ameniza o peso que ele realmente tem.

"Você assistiu à reportagem de hoje cedo no aeroporto?' - Os passos da loira de banho tomado coloriram o silêncio vazio da casa.

Ela andava descalça, mas com os pezinhos em dia, dentre tantas coisas que somos, mal cuidadas não é uma delas. Embora nus os pés, vestia um pijama de tecido fino, um achado do Brás, bem ajustado ao corpo, roupa que, outrora, se queixara de ter encolhido na primeira lavada. Na cabeça, enrolou uma toalha, visto que os cabelos recém lavados ainda prendiam, entre seus fios, muitas partículas de água. Estando nós duas de banho tomado e bem vestidas para passar a noite dormindo entre travesseiros e cobertores, era possível sentir um resquício do perfume agradável do sabonete a impregnar o ar em nossa volta.

- Escutei de longe, por quê?

"O pessoal está ansioso com essa menina... Estão preparando tanta coisa."

- Será verdade que ela está saindo com o Piquerez?

"Não tenho certeza, mas é do que mais se fala por lá. Querem dar um jeito de descobrir na entrevista com ela."

- Ah, mas eu não acho que ela diria algo como isso, não! - Eu ri. Verônica, às vezes, se ilude com as possibilidades que são colocadas à mesa.

"Será que não, irmã?" - Eu não disse? - "Eu acho que ele contaria sim" -

- Claro que não, irmã, se eles estão saindo, eu acho que eles apareceriam juntos algumas vezes pelo menos.

"Ah, mas isso demora, quase nunca vejo fotos dela em público."

- Mas se ela quer promover o filme, ela precisa ser vista. - eu insinuei o óbvio.

"É, tem razão..."

No mesmo instante no qual Verônica concluiu minha hipótese, o interfone tocou e, imediatamente, ainda que de supetão, despertou um raio enérgico na loira, devido à chance de ser nossa barca de sushi chegando depois de tanta demora. Verônica deu passinhos rápidos até a porta, adjacente ao interfone, e, tirando-o do gancho, atendeu:

"Boa noite... Sim, sim, pedi comida japonesa... Pode mandar subir, obrigada!" - Ela sorriu e, logo em seguida, devolveu o telefone ao gancho, encerrando a chamada.

"Amiga, será que se a gente seduzir o motoboy, ele traz mais comida pra gente?"

(...)

Aquela maravilhosa e suculenta pilha de sushis se desdobrava em muitos sabores entre Verônica e eu. Havia os clássicos de peixe cru e até mesmo os mais modernos, fritos e com Doritos ou couve. Ainda que fôssemos grandes amantes de um japa, ainda não compramos aqueles pratinhos específicos para colocar shoyu ou tarê e, por essa razão, estávamos usando pratinhos de sobremesa para comer. Ao menos temos os hashis.

Licor de Menta - Richard Ríos, Joaquín Piquerez e mais.Onde histórias criam vida. Descubra agora