Capítulo Sete: Decolagem

22 1 1
                                    

Sábado, 20h31, São Paulo, Carro da Verônica, próximo à portaria do condomínio onde mora Joaquín Piquerez.

Penélope Alles

Esta, sim, era uma verdadeira noite brasileira de sábado. Céu limpo, poucas nuvens vagavam com a brisa calma e agradável, apesar da poluição local. Era uma noite perfeita para um jantar com boa companhia, vinho tinto e jazz suave, uns amassos debaixo de alguma sacada e chegar em casa tarde querendo voltar no tempo e fazer tudo de novo exatamente da mesma forma, caso o date e os amassos debaixo da sacada não resultassem numa noite mais calorosa.

Ah, que bela noite brasileira de sábado! Para mim, o momento ideal para sair com a minha melhor amiga não muito mentalmente estável, tomar coquinha zero gelada e água com gás, comendo um cento de salgados crocantes e quentinhos no carro, ouvindo algum cantor gay de MPB famoso ou algumas baixarias (ou melhor, putarias) em ritmo bate estaca. Tudo isso enquanto aguardamos alguém, que talvez nunca apareça, chegar no prédio de seu suposto namorado, no entanto, entretidas olhando os nossos "quase algo" e os namoros polêmicos que andam assumindo.

"Essa moça que a gente pegou os salgados hoje caprichou, né?" - Verônica comentou.

De fato, os salgadinhos estavam ótimos!

- São ótimos mesmo. - concordei - e eu amo esses espetinhos de frango!

"Todos os que tem aqui são ótimos, a bolinha de queijo 'tá derretendo! Quem é essa moça? Você precisa me passar o contato dela."

- O nome dela é Isabela - eu respondi, pegando, dessa vez, uma bolinha de queijo quentinha e muito bem recheada -, mas se você procurar, é "Bela Salgados".

A descrição a respeito das coxinhas e bolinhas de queijo se prolongou pelos próximos cinco minutos. Com o celular em mãos, enviei o contato da moça para Verônica e deslizei os olhos sem muita importância entre as mensagens que haviam, as quais estavam me esperando por algumas horas e, outras, por alguns dias. Não à toa, visto por último e visualização são duas coisas que já me desfiz há muito tempo. É como se meu contato fosse uma parede branca e silenciosa.

A noite manteve-se calma e tranquila por mais algum tempo além desse. Tomamos nossas bebidas, comemos os salgadinhos e até mesmo alguns doces que compramos antes de parar o carro aqui. À medida que o tempo passava, nossas esperanças de encontrar algum sucesso na noite de hoje iam se esvaindo vagarosamente, o que tornava nossa espera muito mais cansativa.

20h40, 20h47, 20h59, 21h12...

- Verônica, e se ela não chegar... Estamos aqui desde sete e meia, não temos garantia nenhuma se ela realmente virá!

"Calma, amiga, tenha fé no impossível, vai dar tudo certo."

Às vezes, tenho vontade de bater nela.

Suspirei. Peguei, novamente, o celular, cuja bateria estava se perdendo junto ao tempo e minha esperança, mas, para ela, ao menos havia a solução de recarregá-la no power bank. Vendo meu cansaço aparente e inevitável, Verônica fez o mesmo. Ela sabia que era loucura estarmos ali daquela forma. No entanto, ela tinha uma motivação muito forte ali, embora eu me recuse a acreditar que era somente motivação. Além disso, ela é louca. Loucura nos leva a lugares muito mais distantes que a motivação.

Ela suspirou novamente e observou a rua na qual estávamos estacionadas. Não havia muito movimento nesse instante, porém, eventualmente, um carro ou outro passavam por ali efemeramente em apesar de levantarem pó, não deixavam rastro. As luzes dos postes iluminavam até onde nossos olhos alcançam e se perdiam entre as árvores robustas e majestosas, cujas raízes estouravam as calçadas e levantavam terra e rochas. A avenida que nos trouxe até aqui, em contrapartida, estava mais movimentada e igualmente bem iluminada não só pelos postes, mas também pelas luzes dos restaurantes lotados, outdoors com publicidades e os faróis flamejantes dos automóveis. Quanto à Verônica, sua esperança se fora e seus olhos, sóbrios, desapontados e apagados diante das luzes vibrantes da cidade, queriam ir pra casa diante de tamanha frustração.

Licor de Menta - Richard Ríos, Joaquín Piquerez e mais.Onde histórias criam vida. Descubra agora