Capítulo Cinco: Todos à bordo

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Caros leitores,

Peço-lhes compreensão caso sua leitura encontre erros gráficos, a pressa de publicar fez com que minha revisão, possivelmente, deixe a desejar. Mas tá legal, eu prometo.

Minerva.

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Verônica Santolini

Quarta-feira, 21h58, São Paulo, Casa da Verônica.

Não só a minha lata de lixo, mas também a mesa da sala de jantar estava repleta de garrafas vazias de água gaseificada. Algumas rolavam pela mesa e encontravam o chão numa queda não muito maior que um metro de altura. O gás da bebida deixava meu organismo por meio de arrotos tímidos e imperceptíveis. É claro, eles não seriam capazes de desprender minha total atenção da imensa papelada que espalhei pela parede da sala. O aspecto romântico de investigação clandestina que isso possui é, apesar de idealizado, uma injeção de dopamina e outros hormônios do prazer direto na veia. É como se um saxofone noturno estivesse me seguindo às espreitas da noite e a única evidência de sua presença fosse a lua cheia que refletia pela janela da minha varanda, driblando as cortinas e tornando a minha solidão pensativa em uma solitude bem sucedida.

Haviam fotos e textos grifados, com notas manuscritas conectando uns aos outros em post-its verde neon. Na mesa, as tampas se perdiam das canetas, cujas pontas estavam todas mastigadas e marcadas pela minha concentração ansiosa. A pequena Mel dormia no sofá há algumas horas, minha parceira canina não aguentara a investigação noturna e, portanto, adormecera no sofá da sala, entre o braço e o encosto almofadado do sofá. A respiração baixa da cachorrinha não me desconcentrava, muito pelo contrário, mantinha meu foco em ondas frequentes e estáveis. Vez ou outra os passos do vizinho de cima atreviam-se a atrapalhar seu sono nobre. No entanto, ela logo se devolvia ao seu cochilo leve e suspirava como se o dia tivera-lhe sido péssimo e desgastante, para dizer o mínimo. De fato, para uma yorkshire como ela, disputar o sol da varanda com algum gatuno de rua deve ser uma guerra diária, a qual ela luta indomavelmente.

Meus olhos namoraram esses papéis durante longas horas e ainda insistem em abraçar as palavras escritas como num vício insaciável. Eles, por meio desses abraços, estabeleceram hipóteses coerentes, embora não passem de hipóteses tidas em coincidências documentadas. E mais, não lhes citei, ainda, a minha mais promissora evidência, gravada em vídeo, sem cortes, nem combinados, na qual qualquer fala impensada pode significar uma confissão direta para o meu projeto: A entrevista da Main Thing com o alvo da nossa investigação, Lyra Alencar. Ouvi essa entrevista tantas vezes que meu cérebro já gravou algumas respostas da atriz em fitas, CDs, pendrives, todo tipo de arquivo de memória que ele deve usar para manter a informação no bolo de massa encefálica que ele é. Mas não irei subestimar o próprio processador, se dele há de surgir os planos e conclusões que preciso para que isso dê certo.

Suspirei, enfim. Peguei mais um pedaço da pizza, cuja caixa dividia o pouco espaço da mesa com as garrafas vazias de água com gás, e levei até a boca na mesma ação involuntária de sempre. O sabor do manjericão da generosa fatia marguerita, mais uma vez, agradou-me o paladar como uma recompensa por tanto esforço até então. Apesar de tanto, retornei o vídeo da entrevista mais uma vez ao começo, sujando a tecla de número zero com o pozinho da pizza pela milésima vez. Aquilo é fubá?

Puxei a cadeira grosseiramente, despertando Mel mais uma vez. Ela de espreguiçou no sofá e bocejou, arrancando, dos meus lábios, um sorriso e, do vídeo, a minha atenção. No entanto, no abanar de seu rabinho peludo, nenhum detalhe fora perdido. Quando ela caiu no cochilo de novo, a voz de Lyra reivindicou minha atenção à entrevista e ouvi, pela milésima vez, como se fosse a primeira. Ela respondia perguntas dos fãs sobre o filme e sobre detalhes superficiais de sua vida com o mesmo aspecto carismático e simpático de muitos artistas, porém, garantindo que o seu carisma à Lyra Alencar fosse único e reconhecido em todos os cantos.

Licor de Menta - Richard Ríos, Joaquín Piquerez e mais.Onde histórias criam vida. Descubra agora