Capítulo Nove: Passageiro suspeito à bordo.

19 2 1
                                    

Sábado, 22h11, São Paulo, apartamento de Joaquín Piquerez.

Joaquín Piquerez

"Estou ficando com fome, por que temos que esperar por ela pra pedir logo uma pizza?" - O rapaz perguntou, martelando os botões do controle e sem tirar seus olhos da TV, cuja tela refletia nosso tão familiar campo de futebol, mas em pixels e com jogadores digitais - "Além disso, ela 'tá demorando demais..."

- Ela já está chegando... - Respondi impaciente - E nós vamos esperar por ela, sim!

O garoto ao meu lado havia acabado de fazer, ainda que em habilidades de video game, um belíssimo gol de bicicleta quando o interfone tocou e eu, imediatamente, pausei o jogo.

"Oh, filho da puta!" - Ele esbravejou.

Olhei para o interfone, esperando dele uma segunda chamada e ele supriu a minha expectativa. Levantei-de do sofá, tão macio e confortável como uma nuvem fofa de manhã ensolarada, e fui, determinado, até o aparelho barulhento.

- Pois não.

"Senhor Joaquín, ela já está subindo!"

- Tudo bem, obrigado, Edmundo.

Devolvi o interfone ao gancho, preparado para recebê-la assim que chegasse. No mesmo minuto, batidas leves e familiares acariciaram minha porta. Era possível sentir uma lembrança olfativa de seu perfume e imaginar sua silhueta por trás da única barreira que separava o meu apartamento do mundo exterior. Hoje está quente, ela estará usando camiseta ou um vestido? Seu cabelo estará preso ou solto? Seus pés calçarão tênis ou sandálias?

Sem hesitar mais do que já fiz, destravei a porta e abri, sendo surpreendido por alguém que já esperava, mas não deixa de ser sempre uma surpresa. Lá estava ela, tão radiante quanto a aurora de uma manhã de primavera, tão brilhante como um céu estrelado repleto da ausência de nuvens.

Diferente do que pensei, ela estava coberta por peças simples, mas que tinham um excelente caimento em seu corpo, a começar pela camisa de linho branca, livre de qualquer mancha ou dobra indesejada. As mangas da camisa estavam puxadas até seus cotovelos e as abotoaduras estavam desfeitas, o que tornava aquilo ainda mais quente, mas ainda remetendo ar fresco aos olhos de quem a vê. Em contrapartida, parcialmente coberto pela camisa, o short jeans parecia ser do tipo que encurta quando ela se senta e cobraria dela um cuidado a mais para que não fosse transformado em uma doce vulgaridade. Na verdade, quão doce pode ser sua vulgaridade a ponto de tornar qualquer um tão diabético... Quanto aos seus pés, estes não davam a qualquer chão o luxo de ser acariciado pelos seus passos. Aquele chinelo papete dela tem sido o melhor e o favorito de seus calçados, eu suponho, uma vez que ela não os tira do pé.

"Vai me chamar pra entrar ou vai ficar encarando meus pés, Joaquín?" - Lyra lançou para mim, tendo, em seu sorriso, o mais brilhante de todos os astros celestes.

Corei. Sorri. Ela riu como quem não quer nada. Ela tem esse jeito de quem saiu de um filme.

- Acho que prefiro encarar os seus pés... - Eu respondi, dando-lhe espaço para entrar e ela o fez. Seu primeiro passo dentro da casa foi acompanhado de uma mãozinha leve pairando sobre meu ombro. Levei, sem dúvida ou demora, minha mão livre até sua cintura, buscando seus lábios para oferecer-lhes um beijo. No entanto, encontrei a pele suave da lateral de sua face e o aroma tropical de seu protetor solar, cujo brilho instalou-se perfeitamente sobre as células da mulher.

"Oh, tem mais alguém hoje?" - Lyra perguntou, assim que avistou a presença incomum na sala.

Meu beijo carimbou suave sobre sua bochecha feito uma pena viajante carregada pela ventania e, logo, ela afastou-se de mim, dando espaço para que sua convidada também entrasse.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jul 09 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Licor de Menta - Richard Ríos, Joaquín Piquerez e mais.Onde histórias criam vida. Descubra agora