Capítulo 1

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Uma garota entrou pelo supermercado empilhada de pessoas que faziam compras. Olhou discretamente para o segurança que estava com os seus olhos fixos no ecrã. A garota sabia que ele estava a vigiar as imagens das câmaras de vídeo vigilância, espalhadas pelo supermercado. Mas não se deixou intimidar. Foi na direção das frutas e pegou uma caixa com uvas com a decepção no seu olhar escuro.

   - Que pena, não estão em promoção. - disse ela para consigo mesma.

Logo a seguir, seguiu o caminho para onde estavam os cremes e o sérum faciais. Tirou um sérum. Não era caro mas também não era barato. A garota remexeu no seu bolso e contou as moedas que lá estavam. Não chegavam para as duas coisas. Com um olhar altivo sussurrou.

  - Não tenho dinheiro que chegue para os dois. - ela sorriu e com uma maestria invejável ela tirou o sérum da caixa e escondeu na manga do seu casaco.

Enquanto andava na direção da caixa ela olhou para o segurança que a observava. Admirado pela beleza da menina mas sem imaginar que enquanto ele babava pela beleza dela, ela roubava mesmo debaixo do seu nariz.

A garota pagou as uvas e saiu sabendo que não foi descoberta. Suspirou de alívio ao sair do supermercado.

  - Eva tiveste coragem? - disse o rapaz que estava à sua espera na porta com um cigarro entre os dedos.

  - Martim, claro que ela não teve coragem. - disse outra garota sentada de cócoras. Os seus olhos azuis reluziam na direção da Eva.

  - Tens pouca fé em mim Gatlyn, - Eva se dirigiu até o rapaz e tirou o cigarro da mão do mesmo - aqui está!

Ela estendeu as suas mãos e mostrou as duas coisas, o sérum e as uvas. Rapidamente Gatlyn levantou-se.

  - Roubaste as duas coisas?

  - Claro que não! Só o sérum. - disse Eva enquanto fumava o cigarro.

  - Isso não vale. - gritou Gatlyn - tinhas que roubar duas coisas e não comprar uma e roubar outra.

  - Fala baixo Gatlyn. - interveio o rapaz que estivera calado até ao momento.

  - De qualquer forma perdeste a aposta, Martim. - disse Gatlyn enquanto colocava uma mecha do seu cabelo ruivo atrás das orelhas.

  - Não perdi nada. Ela roubou. Isso que interessa. - retrucou ele

Eva revirou os olhos chateada com os dois colegas.

  - Não acredito no que estou a ouvir. Vocês fizeram uma aposta enquanto eu estava lá dentro.

  - Claro! Eu sabia que não terias coragem de roubar na totalidade. - afirmou Gatlyn

  - E roubei. O sérum conta.

  - Mas compraste as uvas. - disse a ruiva

Eva deu mais uma passa no cigarro e atirou o resto no chão esmagando-o com os seus tênis.

  - Vamos embora. - disse Eva aparentemente chateada com os amigos.

  - Não fiques chateada Eva. Foi apenas uma aposta estúpida. - disse Martim com a intenção de se redimir perante a amiga.

  - Não estou chateada - mentiu a Eva.

Os três caminharam enquanto comiam as uvas, pouco se importando que não foram levadas. Ao chegar perto da casa de Gatlyn os dois se despediram da garota. Eva e Martim se seguiram na mesma direção enquanto viam a amiga entrar em casa.
Os dois moravam no mesmo prédio e no mesmo andar.  O andar térreo, mas precisamente. Eles subiram as escadas em silêncio. Eva tirou as chaves do seu bolso e se dirigiu à primeira porta, quando ouviu a voz do amigo.

  - Não tinhas que fazer àquilo. - disse o Martim.

Eva se virou para o amigo.

  - Não gosto de perder, tu sabes disso.

  - Gatlyn as vezes vai longe demais. Não tinhas que roubar.

  - Não queria perder.

  - Foste corajosa. Mas podias ter sido pega.

  - Mas não fui. - Eva sorriu para o amigo. - Não te preocupes.

  - Nos vemos amanhã? - perguntou Martim

  - Sim. Na mesma hora do costume.

Eva abriu a porta e entrou, enquanto ouvia o amigo a fazer a mesma coisa.

  - Cheguei! - gritou ela para anunciar a sua presença.

O seu padrasto estava sentado à mesa enquanto a sua mãe estava a colocar a comida na mesa.

  - Onde estiveste essas horas todas? - perguntou o padrasto, nada satisfeito com a entiada.

  - Não é da sua conta. - respondeu Eva.

  - Enquanto estiveres debaixo do meu teto, a ser sustentada por mim, tens que me dar satisfações do que fazes.

Pois é. Ela era sustentada pelo seu padrasto. O que fazia o homem sentir que ela tinha a obrigação de lhe dizer tudo o que fazia. Ou quase tudo. Eva sorriu para si mesma ironicamente. E virou para o padrasto.

  - Não tenho que te dar satisfações nenhuma, Anton. Não és o meu pai. - retrucou Eva.

  - O teu pai está se a cagar para ti.

Aquelas palavras feriram o orgulho de Eva. Era como se o homem à sua frente tivesse cravado uma faca nas suas costas. E doeu!

  - Não vamos discutir. - disse a Rosa, mãe de Eva. - Amor tenha paciência com ela. Já sabes como são os adolescentes.

  - Você passa a mão na cabeça dessa garota por isso que ela faz o que quer. - disse o padrasto de Eva.

Eva nem sequer se deu ao trabalho de sentar a mesa. A fome se tinha sumido ao ouvir as palavras do padrasto. Palavras essas que eram como uma faca a enfiar no seu peito. O que mais lhe incomodava, era saber que eram verdade aquelas palavras. O seu pai a abandonou quando era pequena e nunca mais soube dele.
 
  - Filha, não vais jantar?

  -  Não.

  - Eva, não comeste nada o dia todo. Anda comer. - insistiu a mãe.

  - Não tenho fome, mãe. Perdi a apetite.

  - Mas Eva… - Rosa foi interrompido pelo marido.

  - Se ela não quer comer, pois que não coma. De qualquer forma ela não merece. - cuspiu o padrasto

Eva se dirigiu para seu quarto. Batendo a porta atrás de sim.

  - E não bates com a merda da porta. - gritou o padrasto.

Eva atirou-se na cama e ficou deitada de costas a olhar para o teto. As palavras do seu padrasto a deixou transtornada. Onde estaria o seu pai naquele momento? Porque nunca entrou em contato com ela? Porque ele sumiu da sua vida? Tantas perguntas afloraram na sua mente mas ela não tinha respostas para elas.

Tirou a roupa e decidiu ir tomar um duche rápido. Depois disso, vestiu o pijama e deitou-se na cama. O sono veio rápido.

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