Éric - O despertar

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"O meu corpo não respondia ao meu chamado, existia uma certa turbulência ao meu redor e mesmo com a dormência impregnado no meu cérebro, era possível ouvir barulho de luta e pessoas a falar.

A sensação morna ainda continuava no meu corpo, como se me estivesse a curar, e a dor desapareceu. Mas, a minha consciência ia e vinha, me fazendo vaguear por mundos imaginários dentro da inconsciência.

A última vez que despertei, apercebi-me que eu estava algures, mas nunca onde eu estivera antes à espera do meu irmão. Dei uma vista de olhos rápido ao meu redor, embora eu ainda estivesse tonto pela inconsciência, vejo-me cercado por alguns indivíduos que me eram totalmente desconhecidos.

Uma criança estava à minha frente, com os seus olhos escuros a brilhar intensamente e um sorriso nos seus lábios carnudos se abriu. Dois homens, um de cada lado, me observavam cautelosamente.

  - O que fazemos com ele? - perguntou o mais robusto ao mais magro.

  - O mesmo de sempre obviamente, ela sempre nos mete em cada situação inusitada que até dói. - o mais magro tocou no seu ombro enquanto fazia uma careta. - É que doeu trazê-lo de volta.

   - Tens sempre dor. Às vezes penso que estás a fingir para não colocar a mão na massa.

  - Estás a insinuar que eu não gosto de trabalhar? - perguntou o magro

  - E se estiver?

  - Já chega! - a menina levantou a sua voz e o silêncio pairou no ar como uma pedra de gelo. - Temos coisas mais importantes para pensar nesse exato momento.

  - Temos que levá-lo de volta.

Eu olhei para aqueles dois homens e, com certeza, existia alguns pontos de interrogações a pairar por cima da minha cabeça pois, um deles sorriu que nem um burro estúpido enquanto salientava o óbvio.

  - Ele não está a entender nada.

  - É melhor assim. Mas, se eu estivesse na pele dele eu também não entenderia. - disse o robusto

  - Vamos levá-lo. É melhor voltar para aquela vida miserável do que ficar nesse limbo.

A verdade é que eu não sabia de que vida miserável eles estariam a referir. Mas, logo pensei que poderia ser a minha própria vida miserável o motivo para aquela conversa.

Suspirei frustrado.

Porque será que me sinto impotente nesse exato momento, como se a minha vida estivesse na balança? Ao dizer isso lembrei-me da dor fumegante que sentia instantes antes. Talvez esteja realmente na balança.

  - Que merda… onde raios estou?

  - Finalmente falou. Eu ia jurar que aquele anjo tinha-te comido a língua juntamente com o coração. - respondeu o robusto com uma ironia cortante que nem uma faca bem afiada.

  - Anjo? Que merdas está por aí a falar.

  - Aquele anjo.

Apontou o mais magro para um homem algures deitado.

  - Se é um anjo, então para onde foram as asas? E, ele não deveria ter uma aparência…  digamos, menos humano?

  - Boa pergunta. Groove, para onde foram as asas do gajo?

O tal Groove, olhou de soslaio para mim e virou a cara para o gajo mais magro, levantou uma sobrancelha e respondeu;

  - Theodore, obviamente arranquei-as. Ela fica com o gajo e eu com as asas. Tão simples quanto isso. 

Obviamente, mais pontos de interrogações apareceram a pairar por cima da minha cabeça. Estes gajos só podem estar a gozar com a porra da minha cara. Pensam mesmo que vou cair nessa conversa afiada a cerca de anjos?

Olhei para a menina à minha frente, não lhe daria mais que onze anos. Ela, intrigada, arqueou as sobrancelhas, como se estivesse de alguma forma a ler os meus pensamentos. Pelo menos, por um momento, tive essa percepção que, de imediato, coloquei de parte. Nenhuma criança ou adulto tem capacidade para ler a mente humana.
Os olhos fixos em mim, me fizeram vacilar e colocar em causa essa mesma situação.

Ou talvez tivesse capacidades sobrenaturais.

Sem menor pudor comecei a rir às gargalhadas pela minha própria imaginação fértil.

  - Qual é a piada? -perguntou a menina.

  - Nada, apenas coisas da minha cabeça.

  - Pensei que estivesse a rir da minha cara. Eu sou a Hélika. - disse ela a estender a sua mão num cumprimento. - Prazer em conhecê-lo.

  - Prazer. - estendo a mão receoso, não sabia o que esperar daquela menina e nem daqueles dois homens.

Assim que toquei na mão da Hélika, a minha visão ficou turva, e tudo ao meu redor ficou distorcido. A minha cabeça pendeu sonolenta, a inconsciência veio como uma almofada de ar fresco para assim, me levar de volta."

Ascensão De Ethel: Caminhantes do Ontem Onde histórias criam vida. Descubra agora