As Criações de Um Deus

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Bergen olhava para tudo ao seu redor. Não existia nada naquele universo. Ethel perdia muito tempo com os humanos do que a criar novos planetas e os seus respectivos habitantes. Somente tinha criado aquela ralé humana e dava demasiado atenção aos Caminhantes do Ontem.

Sem pestanejar abriu as suas mãos e criou um mundo de planetas com as suas respectivas estrelas, sóis e luas. Não pretendia criar seres vivos. Isso ele deixaria para a Deusa daquele universo, pois ele gostava de criar objetos não inanimados, mas Ethel por outro lado, gostava de seres vivos e se deleitava a criá-los. Esses a fascinavam de uma forma que ele próprio nunca entenderia. Cada um com os seus respectivos gostos. Pensou ele para com os seus botões. Sem querer, acabou a intrometer-se no trabalho da Ethel e na sua criação. Tudo culpa do maldito Groove e da sua aposta estúpida.

Estupidez a dele em pensar que poderia ser páreo para Groove num pulso de ferro. Perdeu vergonhosamente aquela estúpida aposta.

Nem tudo é mau. Havia benefícios em ter perdido, pois assim teve a ousadia de entrar no universo Etheliana sem pedir permissão a própria. Não que isso fosse bom, pois ela não gostava de ter outros Deuses a meter o nariz na sua escória humanoide. Mas ele era assim. Podia andar por aí sem se sentir culpado. A desculpa a dar seria os planetas, sóis e as estrelas que ele tinha acabado de criar. Por último ele se deleitou a ver a vista diante de si. Segundo a imaginação de Bergen, toda aquela criação feita por si mesmo, eram magníficos.

Estalou os dedos e os sois e as estrelas começaram a sua ebulição que os fazem, de alguma forma, ficarem vivos.

Tinha perdido um dia humano a trabalhar naquele universo que nem sequer era seu. A verdade é que Ethel não ficará contente ao ver as mudanças que foram feitas. Mas, apostas quando são perdidas entre os Deuses, eles são obrigados por todos na órbita a cumprir o prometido, para que tudo continuasse com a sua graça.

O seu trabalho estava pronto, nada mais faria por aquele dia. E assim Bergen se virou e viu o que outrora fora um anjo, pois a marca de um anjo expulso, que ele tinha dado, tinha sido substituída pelo de um demônio, e as delicadas asas tinham sido arrancadas. Mas isso não o impedia de flutuar pelo ar. Não voava, mas, teletransportar-se e saltitava pelos céus e terras, de universo em universo até o seu destino. Com certeza, alguém dera essa função depois dele ter perdido a capacidade de voar.

Lucas estava com o seu ar altivo, esse foi o novo nome escolhido pela Ethel, tal como era suposto.

- Tudo correu como o planeado?

A criatura a sua frente riu-se vigorosamente;

- Obviamente que sim, por quem me toma.

- Por um demônio. Obviamente. - salientou Bergen com o sarcasmo bem presente na sua voz. - Viraste mais um na ralé escória dela.

- Haha, isso não será um problema. Pelo contrário, ganhamos algo com isso.

- Só vejo mais outro anjo que se tornou numa ralé* [escória, restos, deixado de parte, pejorativo grupo de pessoas que fazem parte daquela que é considerada a camada mais baixa da sociedade] . Não era isso o objectivo.

A ironia na sua voz deixava Lucas desconcertado, pois fez de tudo para ser aceito por aquele Deus ingrato e mesmo assim ele só lhe dava patadas*.[maltratar, ignorar]

Lucas suspirou cansado e chateado pela forma como Bergen o tratava, virou-se com intuito de ir embora e sair da frente daquele ingrato. Milênios a servi-lo para quê? Para depois ser expulso só por ter aceite ser o protetor de uma menina que se intitulava como a sua irmã? Que mal tinha querer ajudar os Caminhantes do Ontem? Que mal tinha em querer ser livre daquilo há que ele chamava de escravidão moderna entre anjos e Deuses?

Servir os Deuses nunca foi tarefa fácil.

Enquanto Lucas estava na sua divagação, Bergen observava com atenção o seu comportamento para concluir que aquele anjo tinha se tornado num traidor. Sem falar nada que chamasse a sua atenção para ele, Bergen levantou a sua mão colocando-a a centímetros do ex anjo.

Lucas só teve tempo de sentir um ligeiro movimento do ar a sua volta, antes de se virar e ver aquilo que por um momento receou ser o Armagedom. A energia do Deus a sua frente o puxou até ele e o fez colidir com os seus braços fortes. Sem pestanejar o seu corpo foi projectado contra o chão rijo. Uma explosão de energia iluminou as mãos de Bergen, este tinha a intenção de acabar com o miserável naquele segundo, mas alguém se intrometeu. Os cabelos negros da pequena Helika, esvoaçante, se movimentou até Lucas quase como num piscar de olhos humanos mas não num piscar de olhos do Deus Bergen. Dois seres do sexo feminino estavam a sua frente. Uma, caminhante do Ontem, usava o teletransporte para se movimentar como uma Deusa, enquanto a outra o fazia porque era uma Deusa.

Ethel e Helika estavam mesmo diante de si, com os olhos rígidos postos naquele Deus. E uma mão se viu no último instante, se movimentando tão rápido quanto a dele. Ethel lhe retribuiu o soco que ele tinha dado em Lucas. Mas o Deus era forte e conseguiu se aguentar, manteve de pé a custo. Pois um soco de uma Deusa se equiparara à de um Deus. Pois, não existia distinção na força entre os sexos. O que os distinguiam era a idade entre os Deuses. E Bergen era da mesma idade que Ethel.

- BERGEN - gritou Ethel enraivecida. - o que pensas que estás a fazer dentro do meu universo.

- A construir, tenho tido muito trabalho a criar os planetas, sóis e as estrelas. Esse universo está um bocado… abandonado. - terminou ele.

- Esqueceste que este lugar me pertence.

- Não. Mas, alguém tem que fazer alguma coisa. Este lugar está praticamente vazio. Tens te desleixado, Ethel.

- Não podes construir nada sem a minha explícita autorização e muito menos destruir nenhum anjo, demônio ou humano dentro do meu domínio.

- Ops! - respondeu Bergen irônico - Esqueci-me que a Deusa da ralé aparecia em socorro dos seus recém recrutados para a sua causa perdida. Andas com muita sorte nos últimos dias, Lucas.

Lucas não se dignou em responder a provocação daquele Deus. Ele já não fazia parte da sua jurisdição a partir do momento que Ethel o reclamou como seu ao ir em seu socorro.

Com uma gargalhada bem sonora, Bergen foi-se embora do universo de Ethel. Deixou a deusa, o recém demônio e a Helika a sua própria sorte. Afinal, estavam melhor sozinhos do que mal acompanhados pelo Deus.

Algures, tinha alguém a observar tudo aquilo com um olhar de quem via tudo como um déjà vu, mas noutra perspectiva. A jovem, escondida entre as sombras, se virou e foi-se embora com os seus cabelos negros a esvoaçar pelo vento naquela noite fria.

Ascensão De Ethel: Caminhantes do Ontem Onde histórias criam vida. Descubra agora