CAPÍTULO 01 - A VITRINE

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Gatilhos: Violência, abuso sexual, drogas e linguagem imprópria.

MIKE

Meus músculos estão rígidos há muito tempo e mesmo assim permaneço de pé, usando apenas uma gargantilha cravejada de brilhantes, seu peso apertando meu pescoço frágil, parada de frente a uma parede espelhada. Meu rosto está pesado coberto por tanta maquiagem que fui forçada a usar por mãos pesadas e impacientes, meus mamilos doloridos por conta do frio desse lugar sombrio que fede a luxúria, nicotina e álcool. Diante do meu reflexo, não vejo nada além de um corpo frágil, um rosto amuado e cadavérico que serve como moldura para o meu olho defeituoso de um branco leitoso, me obrigando a lembrar que sou cega dessa vista desde os sete anos. Estou lutando para não desmoronar, zonza devido ao que me aplicam todos os dias na veia para que não tenha forças para me rebelar e que mantém meus olhos pesados. Sou alguém que está lutando para não se despedaçar. Não vejo quem está do outro lado, nunca, mas sei que faço parte da coleção pessoal de Miguel Hernández, o chefe da maior facção de Porto Rico e como vim parar aqui? Meu pai tinha dívidas que precisavam ser pagas e apesar da minha deficiência, Miguel me aceitou como pagamento depois de muita insistência do meu genitor e cá estou eu, uma parte insignificante do seu harém de belas garotas a sua disposição e de quem mais ele autorizar, a qualquer hora do dia. Não estou presa aqui por escolha. Jamais escolheria salvar meu pai. Jamais.

É tão iluminado aqui que manter os olhos abertos é impossível. Acho que é noite lá fora, mas é só dedução porque não há janelas nesse buraco em que tenho vivido nos últimos dois meses, os dias contabilizados por riscos que faço dentro do armário de madeira que cai aos pedaços com o garfo que recebo junto com a única refeição que me oferecem. Acredito que somos expostas em um horário noturno para que possamos descansar na parte da manhã e porque imagino que esse tipo de sujeira se esconda melhor à luz da lua e não do sol. Estou bonita, mas acho que é essa a intenção dessa porra; expor meus seios duros para esse doente e quem quer que ele esteja interessado em se exibir, e a depilação em dia que ainda me surpreende, porque não estou acordada quando a fazem, na verdade, nunca estou cem por cento desperta e eu, depois de muito lutar contra o domínio desse porco, acabei aceitando, porque é melhor e menos doloroso, em todos os sentidos da palavra. Por mais fodido que soe, prefiro não saber com clareza o que fazem comigo, como fazem e suas motivações. Eu e as outras garotas não nos comunicamos, mas tenho certeza de que elas concordam comigo; é melhor estar dopada a passar os dias consciente nesse inferno.

As marcas espalhadas por meu corpo são a prova do gosto perversos desses senhores amigos do dono desse lugar que chamam de "El escaparate", a vitrine, e ser drogada é uma dávida, porque os estupros viram apenas borrões e quando sou invadida, quase não os sinto, permitindo que façam comigo o que bem entendem até se cansarem. É preferível que a dor dos hematomas e ferimentos não sejam consequência de sexo violento sem consentimento na minha cabeça. Gosto de fantasiar, fingir que caí de uma escada ou me cortei em algum arame tentando pular uma cerca, que quando acordo com o olho roxo, foi uma bola que bateu forte enquanto jogava com os jovens do colégio. Contudo, há dias que não sou dopada, dias que estou em plena consciência, e é sempre quando ele vem aqui. O meu dono, Miguel Hernández. Ele sempre me escolhe. Gosta de saber que estou quase cem porcento sóbria quando me bate e se força dentro de mim. Miguel adora que eu tente fugir, me debater. Reagir contra seus ataques o excita. Ele é um verdadeiro psicopata e se eu pudesse, arrancaria seu coração com minha própria mão e comeria como um animal selvagem.

A morte seria melhor do que ser seu brinquedo sexual.

Essa posição que ocupo está me destruindo lenta e profundamente. Sinto que pequenas partes da minha alma estão sendo arrancadas de mim dia após dia. Permanecer nessa situação está me matando aos poucos, sei disso. Ser posse desse monstro que comanda o cartel é estar sujeita a todo e qualquer tipo de maltrato, abuso e violência, sem que ninguém imponha limites. Posso acabar morrendo em poucos dias, semanas ou meses e se durar anos, já terei perdido o que me resta de sanidade e saúde, a morte viraria símbolo de esperança.

DISRUPTIVE - Um dark romance de Stephanie HopperOnde histórias criam vida. Descubra agora