CAPÍTULO 05 - O FLAGRANTE

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MIKE

Archie e Alexei me escoltam para fora da lanchonete, não aparentando qualquer sinal de estresse. Eu me jogo no banco do carona, a imagem da língua decepada na mão do Alexei me perturbando, o cheiro de sangue fresco perturba minhas narinas, tanto, tanto sangue. Deslizo para fora do carro antes que Alexei entre, o bolo amargo sobe por minha garganta e coloco para fora a tensão, me escorando na lataria do carro, flashes dessa noite me atormentando e revirando meu estômago sensível. Mãos seguram meu cabelo, Archie está me ajudando enquanto Alexei limpa as suas mãos manchadas de sangue com uma toalha branca, inexpressivo e taciturno.

— Eu assumo daqui. — Ele troca de lugar com o segurança que se afasta em direção à moto.

— Estou bem. — Minto para que solte meu cabelo e então lembro que essa mão estava segurando uma língua morta há minutos atrás e mais fluido sobe, implorando por ser liberado.

— Não, não está. — Rebate sisudo.

— Estou sim. — Ergo meu corpo, reteso os ombros, estufo o peito e rezo para parecer melhor. — Foi só... Foi brutal lá dentro. — Aponto para a lanchonete, mas me refiro ao cassino.

— A vida é brutal.

— Era essa a lição de hoje? Porque eu estou cansada de saber disso. — Abraço a mim mesma não escondendo meu desconforto e irritação, batendo o queixo de frio. É madrugada e o vento gélido tem seus efeito sobre mim.

— A lição foi saber que há momentos em que é preciso se impor respeito, nem que seja através da violência. É matar ou morrer, Mike. Matar ou morrer. — Ele tira o paletó e em um gesto cavalheiro, cobre minhas costas com ele. Aproximo as sobrancelhas, analisando seu ato de bondade que não combina em nada com sua postura indiferente e semblante fechado.

— Dissuasão. — Murmuro, os pontos se interligando enquanto ele aperta a peça com seu cheiro de tabaco e perfume amadeirado sobre mim, o olhar escurecido invadindo o meu surpreso, resultando em um big-bang na minha cabeça. Nos livros que ele me obriga a ler, dissuasão é justamente convencer o outro a tomar uma decisão diferente, no caso, assustar os italianos para que se estivessem pensando em atacar, mudassem de ideia ao relembrar do que Alexei é capaz. Ele nunca sequer cogitou defender minha honra por duas vezes essa noite, não que ainda tenha uma a essa altura. Nikolaev pouco se importa se me ofendem ou deixam de ofender. Puta merda. Ainda bem que eu aprendo rápido. — Você me usou para demonstrar aos italianos quem manda. Sabia que eles ficariam entusiasmados com a minha presença e que falariam alguma merda sobre o meu olho. Estava contando com isso, não é? — E o nível da barra do quanto o detesto segue subindo.

— Sim. — Responde sem soltar o paletó, curvado para frente com a respiração pesada. Passo a língua por meus lábios ressecados, esperando que continue sua explicação, mas ele não o faz. Perco o controle sobre os meus batimentos e sinto meu cérebro derreter acompanhado de pernas trêmulas e inconsistentes . — Precisava vir preparado. — Dou um passo vacilante para trás, colidindo contra o carro e ele não se atreve a me soltar, apertando mais o tecido contra minha pele. — Está aprendendo rápido, Ninfetinha. — O som encorpado e grave da sua voz faz meus pés formigarem de tanto medo, mas não vou desviar o olhar demonstrando o quanto me intimida. Posso até estar a um passo de desmaiar de tão apavorada, contudo, ele não precisa e não vai saber do quanto me abala.

— Sabe, me chamar de ninfetinha não é uma ofensa, Nikolaev. — Um sorrisinho debochado se forma em meus lábios. Nossa proximidade é sufocante, mas eu posso suportar. — Eu sou mesmo. — Sorrio mostrando todos os dentes e sua expressão endurece. — Não está me provocando, eu até gosto. — Dou de ombros, aplaudindo internamente minha performance digna de um Oscar. O problema não é o apelido em si, mas eu odeio o ar de superioridade em sua entonação e portando não suporto quando me chama assim, o que faz meu sangue ferver toda vez.

DISRUPTIVE - Um dark romance de Stephanie HopperOnde histórias criam vida. Descubra agora