CAPÍTULO 02 - DOCE LAR

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MIKE

Estou sentada em um banco de um branco desbotado, fincado no meio do jardim. Hoje estou mais calma do que nos dias anteriores, observando o farfalhar das folhas, mas a desintoxicação tem sido como reviver o terror de estar presa em uma casa em chamas. Enfrento a cada dia um incêndio novo e mais abrasivo. A clínica de reabilitação não é o pior lugar do mundo, aqui sou respeitada e tratada bem pelos profissionais que estão se certificando de que eu fique limpa depois de tantos dias sendo drogada na Vitrine, as crises de abstinência cada vez menores depois de duas semanas sofridas. Só de lembrar, calafrios percorrem meu corpo e uma angustia se instala em meu peito.

Alastair me visita todos os dias, evitando tocar no assunto " Alexei Nikolaev", aquele que me detém em seu inventário como a porra de um Porsche. Nojento. Já me perguntei milhares de vezes o que espera de mim. Ele me quer sóbria para aguentar tudo que passarei em suas mãos? Psicopata desgraçado. Alastair não deixa claro o que seu chefe quer de mim e isso tem tirado o meu sono. Apesar do seu tamanho, o cara deve ter uns dois metros e é parrudo como um deus nórdico, não me assusta com sua presença e as tatuagens à mostra em seus antebraços. Seu olhar de olhos azuis profundos é doce e complacente, quase como se odiasse seu amigo por estar me submetendo a tudo isso, o cabelo loiro com uma mecha teimosa sempre caindo por seu olho. Ele é atraente, na casa dos quarenta, ou talvez seja sua simpatia que me faz enxergá-lo assim. Não, ele definitivamente é um homem bonito, uma beleza crua, reflexo dos seus traços nada delicados.

Descobriram um DIU dentro de mim assim que cheguei e fizeram exames para investigarem uma possível DST. Por sorte, não contraí uma. Optei por permanecer com o contraceptivo, não que eu sequer cogite ter relações, mas é melhor prevenir, pois não sei o que esperar do tal Alexei e engravidar de um homem desses não está na minha pequena lista de sonhos a serem conquistados.

Aperto os olhos ao ter meu peito preenchido com uma forte agonia, respiro fundo e suplico a mim mesma para que tenha força para aguentar. Sinto-me renovada com as substâncias fora da corrente sanguínea, porém não é fácil me manter sã, porque de repente, em um piscar de olhos, a falta de algo que nem mesma sei fala mais alto. Permaneço mais alguns minutos sentada, inspirando e expirando de olhos fechados, quando o silêncio é interrompido e meu nome paira no ar.

— Olá, Alastair. Bom dia. — Sorrio em sua direção ao iniciar a conversa em inglês, coçando meu braço para espantar a ansiedade. Não frequentei a escola, mas aprendi tanto o espanhol quanto o inglês em casa com a ajuda da minha madrasta, parceira de crime do meu pai em seu pequeno negócio de exploração sexual, porque tinham planos de me transformar em uma garota de programa de luxo no futuro e lucrarem muito mais comigo.

— Bom dia, Nighean. — É assim que ele tem me chamado desde que saímos da Vitrine e não faço ideia do significado, só que soa bem em seus lábios e definitivamente não é inglês.

Gosto dele. Não é como os outros homens que já passaram na minha vida. Sinto que posso confiar em sua presença, que não estou correndo riscos perto dele. Vejo nos seus olhos que não me enxerga como mulher e na maneira como me trata de que para ele sou apenas uma menininha fodida de quem ele quer cuidar. Sua voz é sempre terna e calma, parecendo que ele está se esforçando para não me deixar com medo dele. Alastair é um homem bom, o que não faz sentido algum, porque seu amigo, esse sim eu sei que deve ser o próprio capeta para ter negócios com Miguel.

— Está me xingando há dias. — Implico, torcendo o nariz ao fingir irritação.

— Ah, não é um xingamento. É só uma palavra de uma língua antiga que aprendi com meus pais. — Seus olhos brilham, os raios do sol iluminando-os. Sua barba está crescida hoje e por isso, está mais viril que o de costume.

DISRUPTIVE - Um dark romance de Stephanie HopperOnde histórias criam vida. Descubra agora