CAPÍTULO 04 - OS ITALIANOS

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MIKE

Tenho me comportado como o esperado. Alguns dias me esgotando mais que os outros, porém, posso lidar com isso. Minha rotina se resume a acordar às cinco, sair para correr com Alastair e treinarmos defesa pessoal, - descobri que aprendo rápido e sou boa nisso - ler, aprender sobre processos e prazos com Ally, ler mais entre as refeições que eu mesma preparo e aulas com professores de ciências humanas e exatas, arrumar o apartamento e escrever os resumos para o Alexei no fim do dia. Não posso dizer que não estou gostando, apesar do meu cérebro fritar no máximo da sua capacidade e as sextas me causarem uma ansiedade incontrolável, sabendo que Alexei estará lá, autoritário, aguardando que eu leia meu resumo em voz alta, se deliciando dos meus erros gramaticais e sotaque que acaba atrapalhando minha pronúncia, - e o bastardo sempre os leva embora com ele, acredito que para gargalhar da minha tentativa de escrever um resumo coeso. E nunca esqueço o sutiã. Nunca mesmo. Depois de duas semanas me enforçando para ser exemplar, o capeta de terno liberou minha saída para onde eu quiser, claro, com um dos seus capangas na minha cola. Confesso que não sinto vontade alguma de sair sabendo que estou sendo vigiada, optando por descansar nas horas vagas no apartamento, na maioria das vezes na companhia de Alastair que mora em outro lugar, assim como seu chefe, mas prefere ficar comigo. 

Até o dia de hoje, nenhuma menção sobre o meu pai e do que Alexei precisa que eu faça para auxiliá-lo em sua caçada, o que me provoca uma angustia que atormenta e destrói o meu sono. Quando a besta russa vai começar a me usar em seu plano, seja lá qual é? Anseio por isso, apesar de não ter a menor ideia do que me espera nesse processo. Tenho medo de como serei usada e do que me acarretará ao passo que desejo a queda do pai. O que ele pretende fazer com Juan? O ódio de como fala dele me faz crer que o quer morto, não sem antes torturá-lo bem lentamente, arrancando pedacinho por pedacinho. Sou uma pessoa ruim por desejar que o bastardo sofra? Que pague por cada tapa, soco, beijo, toque... Por cada vez que me ensinou como me portar com os clientes, usando a si mesmo de cobaia? Eu tinha uns dez anos quando comecei a entender que o que meu pai fazia comigo era errado. Eu via as outras meninas através da janela do meu quarto com seus pais e sabia que comigo era diferente. Meu pai me olhava com olhos de um homem sedento. Eu era sua bonequinha, como me chamava, sua preciosidade, porque realizava comigo todos os seus desejos mais sombrios, com a certeza de que eu jamais arriscaria minha vida para contar a alguém o quanto eu estava sofrendo e morrendo de vergonha por ser filha de um monstro.

Ele pagará por tudo que fez comigo, nem que para isso eu precise enfrentar o medo de reencontrá-lo. Nem que para destruí-lo, eu destrua a mim mesma e o que restou da minha alma.

...

É domingo à noite e ainda estou processando meu último encontro com Alexei, anteontem. Ele estava distante, a mente nebulosa ao me escutar, olhos de uma constância fria. Parecia indiferente a mim, a tudo ao seu redor, mal suportando me encarar. Fiquei tentada a perguntar se estava tudo bem para não desperdiçar meu tempo com alguém que claramente não queria estar ali. Ele parecia, descontente? Não que ele seja capaz de sentir como um ser humano normal, Alexei não tem nada de normal, tampouco de humano, mas... posso jurar que estava para baixo e depois que partiu, fiquei cismada, até agora estou e me odeio por não parar de pensar nisso.

Alastair está bebendo sua cerveja enquanto assiste a seu time de futebol americano jogar, vestindo a camisa e um boné do Arizona Cardinals, vidrado na televisão de polegadas exageradas. Estou com a cabeça apoiada em sua coxa, deitada de barriga para cima, meus dedos brincando com sua barba cheia. Ele sente cócegas a cada repuxe e resmunga, mas não pede para que eu pare, então continuo até que ele enfia um bocado de pipoca na minha boca e eu engasgo de tanto rir ao jogar o corpo para frente, sentando. Uma lágrima escorre pelo canto do meu olho enquanto mastigo o que sobrou dos milhos estourados.

DISRUPTIVE - Um dark romance de Stephanie HopperOnde histórias criam vida. Descubra agora