CAPÍTULO 03 - DE JOELHOS

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MIKE

Sentada na cadeira de frente para o atroz de traços sedutores, masco meu chiclete aumentando a intensidade e velocidade, o barulho do assassinato ecoando pela biblioteca silenciosa, me esforçando para dissipar o nervosismo a fim de que não me ache tão fraca, por mais que meu pé balançando ritmicamente esteja me traindo. Nikolaev está recostado na beira da mesa diante de mim, braços cruzados ao observar meus movimentos feito uma águia faminta.

— Cuspa. — Ele estende o braço ao dar dois passos firmes para frente, parando a mão coberta por tatuagens a poucos milímetros dos meus lábios. Faço o que ordena contragosto, ciente de que posso afundar sem um porto seguro. — Devo uma conversa a você. — Conclui ao voltar para seu lugar depois de jogar o chiclete fora em uma lixeira. Estou olhando fixamente para ele, por mais que minha real vontade seja correr daqui.

— Acredito que eu não tenha sua simpatia por razões óbvias e sinceramente, não preciso dela. Entenda que você estava disponível e eu a quis. — Expira entediado. — Não está correndo os mesmo perigos aqui do que naquela espelunca, o que não é o mesmo de dizer que não está correndo perigo algum, por isso Mason e Archie revezarão entre si e serão seus motoristas e guarda-costas. — O semblante impassível se mantém em seu rosto e meus lábios entreabertos são a minha resposta a tudo o que despeja em meu colo. — Esse apartamento está sendo monitorado por câmeras em cada canto dele, inclusive nos banheiros. É para sua segurança, portanto não me encare como se eu fosse o monstro dos seus piores pesadelos.

— Eu não... — Seguro minha língua, interrompendo minha defesa, porque ele tem razão, observo-o como se fosse exatamente isso e sua rispidez me faz metralhá-lo com os olhos, ela corrobora a armadura de uma criatura impassível e assombrosa.

— Preciso que estude e exijo resultados positivos. A cada tarefa que você completar com êxito, poderá sair com Mason ou Archie. Todas as portas possuem alarmes, então, não tente fugir entre uma lição e outra, nós a alcançaremos antes de pensar em colocar os dois pés para fora. — Não posso esquecer do meu lugar de apenas uma possessão. Ele deixa isso claro e meu rosto deve estar vermelho, porque sinto meu sangue subir, acumulando-se nele.

— Por que preciso estudar, senhor? — Minha voz é um sussurro quase inaudível. É estranho chamá-lo de senhor quando está na casa dos trinta e poucos, exalando beleza e uma tez bronzeada invejável.

— Porque passou da hora de Alastair ter uma assistente, o que a torna indiretamente minha assistente e eu não quero uma assistente burra. — Explica irritadiço, o mau humor revirando meu estômago vazio. — Você quer continuar ignorante sobre as coisas? — Meneio a cabeça em negação e seus lábios se esticam em um sorriso traiçoeiro. — Então, Mike, estude. — Ei, esse apelido não soa bem em seus lábios, babaca!

— Deveria contratar alguém qualificado e experiente. — Resmungo carrancuda, me arrependendo na mesma hora ao receber uma arqueada de sobrancelhas.

— Como é?

— Nada, senhor. Só me questiono o porquê de não contratar uma pessoa da forma convencional. — Talvez esteja sendo insolente, mas, que se foda. Preciso de respostas e vou atrás de consegui-las, aproveitando que Alexei está tão solícito.

— Forma convencional? — Seu riso cínico me causa asco, mas o encaro insípida. — Sou um negociante de armas em ascensão, dono de uma empresa de consultoria em negócios de armas, espera que eu receba currículos? — Cruza os braços, travando sua mandíbula ao me fuzilar com os olhos. — Escolho a dedo quem trabalha comigo, Mikaela. E eu escolhi você.

Essa é a maneira sofisticada de se autodenominar traficante de armas? Já ouvi falar sobre eles, a escória do submundo. São perversos, sanguinários e implacáveis. Seres humanos sem alma que fazem o que é necessário para lucrarem, nem que isso signifique a morte de inocentes. Meu coração trepida ao cair em mim de onde vim parar e que ele espera que eu trabalhe para ele, o que me torna parte de sua rede. De vítima inocente, explorada e maltratada, à criminosa, não que eu seja uma santa, longe disso, mas fazer parte de um esquema desse calibre pode trazer consequências desastrosas para minha vidinha de merda.

DISRUPTIVE - Um dark romance de Stephanie HopperOnde histórias criam vida. Descubra agora