XXIX - Sentimentos de Inverno

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I. Desespero

Contemplo o horizonte.
Acomodo-me sob a sombra de um tarumã.
Preparo-me para pintar memórias, porém apenas consigo vislumbrar um arco-íris desvanecido, tingido de cinza.
O inverno chegou.

II. Tormento

Ela semeava botões de pecado, tentando inutilmente desafiar os preconceitos do mundo,
Afirmando aos quatro ventos,
que em seu ser havia mais do que curvas, seios, carne e coração...

Mas, quando o inverno chegava, ela arrancava as flores com ignorância, furando seus dedos nos espinhos maduros... 
Como criança mimada, que chora pela negligência com que suas palavras são acolhidas...
Sem rumo, ela volta.
Volta para o início, seu armário de sonhos.

III. Afeto

Abdico de meus próprios sonhos. Desconsidero minhas feridas abertas.
Perdoo atos impensados que me abrem abismos profundos no peito,
Para que a estrela-luz, meu amor, possa sonhar e viver seus sentimentos de inverno.

IV. Infortúnio (O mau presságio...)

Pássaros entoam melodias jubilosas,
letras doces que disfarçam o odor do sangue.
Falsidade impregnada no ninho, medos fingidos, apunhalando pelas costas.
A hipocrisia chora suas canções-lamúrias, mas meus gritos de socorro são sempre silenciados.
Prisioneira desta gaiola de inconsistência, a fome me corrói aos poucos, sinto a presença do perecimento.
Entretanto, não posso externar meu pesar, pois se eles me dão abrigo. Por que eu deveria ser infeliz?
Eu sorrio.

O verão ainda vai chegar.

🦋

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