Visão

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  A noite era preenchida por trovões e relâmpagos, chovia muito e ventava mais. Kageyama se encontrava no topo de um penhasco. Mal conseguia se mover diante daquela tempestade e sua visão estava ruim, mas sabiam que não estava sozinho. Na beira do precipício tinha uma mulher alta com cabelos avermelhados, Sora. Por que ela estava ali? Quase se jogando, prestes a morrer. Não podia deixar que aquilo acontecesse, correu o mais rápido que pôde até a garota, garantindo que não caísse. Mas era tarde demais. Quando finalmente alcançou Todoroki, ela já se encontrava no ar, caindo em câmera lenta até chão.

- SORA! - Tobio gritou com todas as suas forças, como se aquilo trouxesse ela de volta.

  Podia ouvir aquele grito ecoar em sua cabeça. A chuva se intensificou molhando todo seu corpo e embaçando cada vez mais sua visão. O som do trovão fez com que ele desse um pulo e conseguiu acordar. Não passava de um pesadelo horrível, mas não se sentia aliviado. Era como se um mau presságio, a sensação de uma desgraça.

  Colocou a mão na testa e sentiu todo o suor, então era dali que vinha a sensação da chuva. Por sorte, Sora estava dormindo na outra cama com uma expressão tranquila, mas seu nariz era coberto por sangue. Kageyama sabia que tinha algum problema, aquilo não parecia certo. A cor vibrante de sua pele estava diferente, mais pálida e branca. Ele levantou e foi até a garota verificar seu estado. Por dentro ela parecia estar nos céus, mas por fora seu corpo mostrava o real estado em que se encontrava.

- Sora... - Ele falou baixinho e a balançou levemente. Tinha a impressão de que ela desmontaria se mexesse muito forte.

  Todoroki abriu os olhos lentamente e procurou o dono daquela voz que tanto ecoava em sua cabeça. Era Kageyama que a chamava. Se tivesse forças o bastante, com certeza mandaria o garoto pastar e deixá-la em paz, mas com a garganta e a boca secas era impossível que suas tentativas dessem certo.

- Que horas são? - Sora virou para o lado oposto e cobriu seu rosto com o cobertor, não queria acordar.

- Hmm... 4:56 da manhã. - Caralho. Ele não fazia ideia das horas.

- Que merda, Tobio! por que veio encher o saco? - Ela realmente não tinha percebido a gravidade do seu problema. Era a segunda vez em menos de um dia que seu nariz escorria.

- Seu n-nariz. Está com sangue.

- Ai... - Ela passou a mão - Que porra...

  Sora levantou e correu para o banheiro do quarto. O moreno estava desesperado, nunca tinha passado por nada antes, nem visto alguém desse jeito. Suas mãos tremiam, igual quando seu maior pesadelo está bem na sua frente e você precisa encará-lo. Só que dessa vez era real. Não sabia se chamava suas mães ou um médico, o que poderia fazer naquele momento? Ele não escondia a preocupação e o medo que sentia e Todoroki percebeu.

- Ta tudo bem, Tobio. Fica calmo. - Tinha visto ele daquele jeito só uma vez na vida, quando seu pai foi preso por bater em sua mãe.

  A garota se aproximou dele e o abraçou para confortá-lo. Kageyama parecia uma criança indefesa que precisava de cuidado, foi isso que Sora fez. Não entendia o motivo, mas ele morria de medo de sangue.

- Calma, não precisa ficar nervoso. E-eu to me sentindo ótima, é só o frio. Isso é normal. - Não era, nunca aconteceu antes tinha certeza de que alguma coisa estava errada. Assim que chegasse em casa, trataria de ir para o hospital ver qual o problema, afinal já tinha idade para dirigir e sua mãe passava o dia no trabalho.

  Iria garantir que tudo estivesse certo, não tinha com o que se preocupar, nunca tinha. As coisas iam bem, era somente um mal estar comum.

(...)

  Os quatros já haviam voltado para casa. A semana passou rápido e os episódios de sangramento não aconteceram mais nenhum dia. Resolveu esquecer o hospital, afinal se sentia melhor e mais disposta, pra que se preocupar?

  Tobio e Sora conversavam bem pouco na escola, apenas o essencial. Yuto tinha ciúmes da relação dos dois, mas Kageyama só queria saber da colega de classe de Todoroki, a Keiko. Nunca via as duas conversando, acreditava que nem se gostavam, mas via na mais velha uma oportunidade de chegar na garota que era afim. Às vezes passavam o intervalo juntos e Sora contando o que sabia sobre a colega.

  O desconhecido se tornou algo agradável para ambos. Não era mais estranho e desconfortável, pelo contrário, adoravam a companhia um do outro. Alguns dias compartilhavam os fones e passavam horas escutando Taylor Swift, outros dividiam Iogurte e Tobio até chegou a tentar ensinar Sora a manusear uma bola, ela era horrível nisso.

  Passaram semanas assim, convivendo plenamente e se abrindo, contando desde os sonhos até os maiores medos. Porém o relacionamento de Sora e Yuto não andava bem, brigavam o dia inteiro por causa do ciúmes doentio do garoto; se separaram alguns dias depois. E Kageyama? Bom, ele começou a achar Keiko sem graça, sua pele era pálida demais, seus cabelos não tinham cor e seus olhos eram vazios, ela era vazia por dentro. Nada comparado a Sora que continha a cor mais linda e vibrante que já tinha visto, os cabelos como fogo que se não tivesse cuidado machucaria, e olhos profundos, cheios de personalidade. Podia dizer que se apaixonava cada dia mais por ela e não tinha certeza se era recíproco, desejava que sim.

  Compartilhavam amizades. Todoroki conheceu Hinata Shōyō, um garotinho pequeno e extrovertido que era o melhor amigo de Tobio, que também conheceu Yuu, vocalista da banda da escola e uma irmã para Sora. Se divertiam por horas, aqueles quatro sozinhos só com as ideias inusitadas que tinham e um sonho que compartilhavam: ter sucesso. Os dois garotos queriam entrar na carreira do esporte depois da escola e as duas almejavam por uma banda de sucesso. Objetivos parecidos, medos similares e uma vontade inebriante de aproveitar a vida ao máximo.

- A vida podia ser infinita. - Kageyama e Sora estavam sentados no pátio da escola, apenas os dois compartilhando o lanche.

- Não teria graça. - Ela olhou para o garoto ao lado que desmanchou o sorriso na hora.

- Seu nariz. Não viu isso ainda? - Tobio parecia bravo pela negligência dela.

- Tinha parado... merda. - Limpou rapidamente o local, mas não parava de sangrar - Que saco, o que é essa bosta?

- Vou ligar pra sua mãe e ela vai te levar no hospital.

  Não conseguiu responder, ele já tinha saído para pedir ao diretor que ligasse para a mãe. Tinha evitado ao máximo que sua mãe se envolvesse, achava que era independente o suficiente para cuidar da sua própria vida, mas não era. Era quase uma adolescente de 17 anos, não uma adulta de 35. Chegaria aos 40? Não sabia, ninguém sabe até quando vai viver. Tem gente que só existe, não vive. Existir é corpo, não mente. Viver é tornar as experiências uma coisa única, cada caminho escolhido abre portas. Não tem um final certo ou errado, apenas tem um final. Mais tarde, sua mãe foi buscá-la e a levou para o hospital. Não negaria seu medo, estava apavorada. Se fosse algo grava, não sabia como reagir, então torcia para que fosse apenas algo idiota.

  E passou dias, semanas no hospital, apenas esperando o motivo de todo caos. O resultado não foi o melhor, nem perto disso.
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  Não tenho o que dizer kkkkkk

  Espero que estejam gostando <3

Rugido do Céu | Kageyama TobioOnde histórias criam vida. Descubra agora