Florescendo

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Kageyama faltava aula há quase duas semanas. Não saiu da casa da menina desde que descobriu o real motivo do seu sumiço. Sua mãe, sabendo do estado de Sora, permitiu que o filho ficasse com ela, afinal não sabia o que aconteceria no dia seguinte.

Fizeram de tudo durante esse tempo. Pintaram quadros um do outro, jogaram vôlei e fingiam que tinham uma banda, Sora na guitarra e Tobio no vocal. Mal tinham tempo para pensar na doença, só quando Todoroki tinha que ir para a quimioterapia que o medo perturbava os dois. Os efeitos do tratamento já começava a aparecer, os cabelos avermelhados dela caía cada vez mais, isso era irritante. Sora passava os dias chateada com aquilo, brigando com todos, até mesmo com seu amigo.

- Faz isso. - Ela estava farta de toda a situação. Sua aparência ficava cada vez mais grotesca e doente, não queria se sentir assim.

- Não tenho coragem. - Kageyama segurava uma tesoura na mão. Ele estava atrás da garota que se olhava no espelho do banheiro.

- Faz isso, Kageyama! - A mão do menino tremia. Antes ele odiava aquele tom avermelhado dos cabelos da menina, mas passou a amar. Se sentiria responsável por aquilo para sempre.

- Seu cabelo é lindo, não me peça pra fazer o que eu não quero.

Sora se virou e ficaram só poucos centímetros de distância. Podiam sentir suas respirações que aumentavam a cada segundo. Se algum dos dois se inclinasse juntariam seus lábios sem dificuldade. É isso que você quer, Kageyama, então faz. O moreno se inclinou para frente e tocou seu nariz no dela. Pensou só em largar aquela tesoura idiota e cessar com aquele mínimo espaço que havia entre seus lábios.

- A tesoura... - Todoroki sorriu sem graça e colocou as mãos no peito do menino para afastá-lo.

- Eu corto. - A garota virou e Tobio segurou seu cabelo. As mãos tremiam, mal conseguia fazer aquilo, mas ela confiava nele.

Quando fechou a tesoura pela primeira vez, não conseguiu conter a expressão de dor. Fazia de tudo para não chorar na frente dela, queria ser forte para ela, mostrar que era seguro estar com ele. Sora também tentava ser forte naquele momento. Estavam sozinhos em casa e a ausência de vozes tomava conta do lugar, o som do relógio e da bomba do aquário eram como a trilha sonora do momento, e não era a mais adequada. Cortou todo o comprimento do cabelo e a cada tesourada era como se cortasse seu próprio corpo. Não conseguia mais conter as lágrimas, elas precisavam sair.

- D-desculpa Sora... - Kageyama já não segurava mais os sentimentos dentro de si, a garota também não.

- Tudo bem, Kags... Não é sua culpa. P-pega a máquina, eu faço isso. - Ela se virou e novamente ficaram bem perto um do outro.

- Você tem certeza?

- Absoluta.

Conforme Sora passava a máquina na cabeça, sua mente viaja por todos os momentos que teve com seu cabelo. Quando pintou de vermelho, aos 12 anos, seus pais quase a mataram, mas aprenderam a gostar. Sua autoestima se baseava muitas vezes naquela característica física e marcante da garota, agora não restava nada além de saudade. Terminou seu trabalho ainda sem acreditar no que estava acontecendo. Talvez sua ficha ainda não tivesse caído, ou estivesse em negação, mas naquele exato momento soube que a qualquer hora poderia morrer.

- Você está linda... você é linda. - Kageyama abraçou a cintura dela e colocou sua cabeça no ombro da garota enquanto os dois olhavam no espelho - Você sempre vai ser a menina mais bonita daquele colégio.

- Sério? - Ela riu - Você não gostava de mim há uns três meses atrás.

- Agora eu gosto.

- Que fofo, sempre quis um irmão mais novo.

- irmão mais novo... - Kageyama falou baixo e soltou a menina, se afastando em seguida. Odiava aquela ideia de Sora, por que irmão?

- O que foi? Não dá pra você ser mais velho quando nasceu um ano depois. - Tobio estava com a cara fechada, mas não de raiva. Era algo que Sora não conseguia distinguir, sentia apenas a intensidade daquele sentimento.

- Quer fazer alguma coisa? - Sora concordou e saíram do banheiro, que viria ser o pior lugar para ambos.

Todoroki era uma menina muito forte, todos sabiam disso, Kageyama principalmente. Cresceu com ela e só a viu chorar uma vez, quando seus pais se separaram, mas fez aquilo em segredo. Tobio acidentalmente entrou no banheiro de sua casa enquanto a menina estava lá, não eram próximos, mas sentou-se ao lado dela e os dois ficaram em silêncio, assim que conversavam. Eles não entendiam a dor do outro, mas tinham uma ideia, afinal ambos não possuíam o pai presente, só as mães. Nunca pararam para pensar o quanto eram parecido, viam somente suas grandes diferenças e tomavam aquilo como verdade.

Eu quero te proteger, quero ser seu para sempre. Aquilo rodava sua cabeça desde o dia em que resolveram se aproximar, mas além disso, também pensava na morte, em perder a garota que mexeu com seus sentimentos mais profundos. Precisava de fé, por mais que não fosse religioso e fosse difícil. Tinha que ser mais forte que ela, para mostrar que conseguia ser o príncipe que ela merecia.

Os dois estavam no sofá, cada um em um canto. Isso incomodava muito Kageyama; ele precisava ficar mais perto dela, apenas segurar sua mão era o suficiente. Ele se moveu devagar, hesitante, até que suas mãos se encontraram. O toque suave e reconfortante de Sora fez com que ele sentisse uma onda de tranquilidade. Ao olhar nos olhos dela, Kageyama percebeu que não estava sozinho na sua confusão; ela também parecia compartilhar dos mesmos sentimentos intensos.

A proximidade física trouxe uma conexão emocional que ele nunca havia experimentado antes. Sentiu seu coração bater mais forte, não de ansiedade, mas de uma estranha e nova sensação de pertencimento. Ele se aproximou ainda mais, até que seus ombros se tocaram, e Sora não recuou. Em vez disso, ela apertou suavemente sua mão, sinalizando que também precisava daquele contato. A presença dela fazia com que todos os seus medos e dúvidas se dissipassem, substituídos por uma calma profunda. Kageyama percebeu que, ali, naquele simples momento de intimidade, ele encontrava a coragem para enfrentar qualquer coisa, contanto que ela estivesse ao seu lado. Ela era seu combustível, tinha experimentado muito mais da vida quando estavam juntos do que quando eram apenas duas crianças desconhecidas.

A garota colocou a cabeça no ombro dele e entrelaçou seus dedos. Por mais que tivesse fugido no banheiro, agora não queria mais fazer isso. Não tinha noção do quanto Kageyama fazia bem para ela e o garoto sempre estava lá com ela, mesmo sem dizer uma palavra. Os corações batiam em ritmos similares, transbordavam carinho. Cada batida parecia sincronizar suas almas, unindo-os em um laço invisível mas inquebrável. Sora se sentia segura ao lado dele, como se todos os seus medos pudessem desaparecer. Kageyama, por sua vez, encontrava na presença dela uma paz que nunca havia conhecido. Eles não precisavam de palavras; o silêncio confortável entre eles dizia tudo o que era necessário. No fundo, ambos sabiam que haviam encontrado algo especial um no outro, algo que não estavam dispostos a deixar escapar.

Eu não vou te deixar escapar.
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Ai gente fala sério, tenho nem o que falar kkkkk

Espero que estejam gostando

Rugido do Céu | Kageyama TobioOnde histórias criam vida. Descubra agora