VI

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-Cora? Está falando sozinha?

-Mãe? Estava apenas pensando alto.

-Está tudo bem? Não tem esse tipo de costume.

-Fique tranquila. Precisa de mim para alguma coisa?

-Na verdade tenho um presente para você. -Ela tirou um presente de trás das costas.

-O que é? -Cora sentou se com um sorriso.

May entregou uma caixa para a filha, que abriu com cuidado e sorriu ainda mais quando o conteúdo foi revelado

-E um vestido! É lindo!

-Fico feliz que tenha gostado, mas irá usa-lo apenas em ocasiões especiais.

-Isso significa que...

-Sairá mais vezes.

-Não acredito!

-Acredite. Tive uma boa conversa com seu pai e ele me convenceu de cometer uma loucura como essa.

-Obrigada, mãe. Eu juro que não irei decepciona-los.

-Eu seu que não, querida. -May acariciou o rosto da filha e sorriu antes de deixar o quarto e fechar a porta.

-Como é lindo...-Cora se olhava no espelho balançando lentamente a saia do vestido.

-Realmente.

Ao olhar para o canto do quarto pelo espelho viu a figura de um homem com chapéu. Virou-se assustada mas não havia mais nada lá

-Onde você está?!

-Bem aqui...

Cora voltou sua atenção para o espelho outra vez e o reflexo mostrava o homem atrás dela, bem próximo, sendo possível notar a diferença de tamanho entre os dois

-Não se aproxime assim de mim!

-Já disse que não posso toca-la.

-Sabe que não é preciso de toque para deixar alguém desconfortável. Suma! Quero provar meu presente.

-Qual é o problema?

-Não posso me despir com um homem no quarto.

-Não sou mais um homem.

-Mas foi. Sei que está tentando me corromper.

-Te corromper? O que eu ganharia com isso?

-Não sei. Me diga você.

Wendy viu ele sorrir pelo reflexo enquanto inclinava a cabeça para baixo

-Mesmo que eu quisesse te corromper de alguma forma você não teria malícia para cair em tentação.

-Está me chamando de burra?

-Você ao menos sabe como o corpo funciona?

-O meu sim!

-O seu...claro..

-E o que seria necessário além disso?

-Não sabe nada sobre o corpo masculino, sabe?

-Que tipo de pergunta é essa?!

-Como imaginei...

-Cale-se!

-Que raiva toda é essa? Foi apenas uma pergunta.

-Não há nada que eu precise ou queira saber sobre um homem que não seja meu pai!

-Não? Não pretende ter uma vida além dessa? Ter uma família ou..

-E por que eu precisaria homens pra isso?

-Como é?

-Não preciso conhecer esse tipo de coisa para ter uma família.

-Cora...você sabe de onde vem o ser  humano?

-Do amor de duas pessoas.

-Não quero saber de metáforas. Você sabe a verdade?

-Vem do amor!

-Não está errada, mas o amor foi apenas o começo para que estivesse aqui.

-Não vou cair nesse truque, já entendi que sua intenção é fazer eu achar que estou sendo enganada por meus pais.

-Você está. Foi manipulada do momento em que nasceu até aqui.

-Me deixe em paz! Saia! -Cora jogou um sapato no espelho, que foi despedaçado fazendo um som alto.

Passos rápidos foram ouvidos na escada que levava ao quarto da jovem e seu pai abriu a porta acompanhado de May, que estava assustada e com os olhos arregalados

-Cora?! O que houve?! Que barulho foi esse?!

-Mãe...pai..

-O que foi que aconteceu?!

-Eu só...nada. Não foi nada. Vi um bicho e acabei me assustando, só isso.

-Que tipo de bicho? Você não é de se assustar com animais.

-Ele estava me incomodando. Me incomodando muito.

-Tem algo acontecendo? Tem agido de maneira estranha ultimamente, falando sozinha e...

-Um amigo imaginário!

-O que?

-Tenho um amigo imaginário.

-Amigo imaginário? Que ideia é essa? -May cruzou os braços.

-Não tenho amigos, então...dei um jeito de resolver o problema.

-Você tem a mim e seu pai! Não acredito que depois de tanto tempo começou com bobagens como essa. Por que não conversa com os animais, como antes?

-Conversar com os animais? Acha melhor eu conversar com animais e achar que vão me responder ao falar sozinha?

-Acalme-se mocinha, não pense que pode falar assim comigo!

-E por que não? Não sou mais apenas uma mocinha! Não vão mais me manipular!

Simon entrou na frente de sua esposa com uma expressão séria no rosto e se aproximou lentamente da filha

-Manipular? Onde aprendeu essa palavra?

Ela permaneceu em silêncio e deu um passo para trás

-Responda! Quem te ensinou o significado disso?!

-Ninguém! Apenas li em um livro e...

-Não minta para mim. Todos os livros que tem fui eu quem te dei, e sei que não tem nada disso pois li um por um antes de estar em suas mãos!

-Cora...saiu de casa enquanto estávamos fora?

-O que?! Não! Eu nunca faria isso!

-Para onde foi? O que disse sobre nossa família? Contou sobre nossas vidas para alguém?!

-Não! Eu já disse que não!

-Já falei para não mentir! -Simon rangeu os dentes e acertou a filha com a parte traseira da mão.

Cora sentiu a dor de um tapa pela primeira vez e esfregou sua bochecha com as mãos, com os olhos cheios de lágrimas e um olhar de espanto em seu rosto

-Vai seguir nossas regras e viver como mandado. Minha filha não será uma vadia pecadora, entendeu bem? 

Me and The Devil Onde histórias criam vida. Descubra agora