-Cora? Está falando sozinha?
-Mãe? Estava apenas pensando alto.
-Está tudo bem? Não tem esse tipo de costume.
-Fique tranquila. Precisa de mim para alguma coisa?
-Na verdade tenho um presente para você. -Ela tirou um presente de trás das costas.
-O que é? -Cora sentou se com um sorriso.
May entregou uma caixa para a filha, que abriu com cuidado e sorriu ainda mais quando o conteúdo foi revelado
-E um vestido! É lindo!
-Fico feliz que tenha gostado, mas irá usa-lo apenas em ocasiões especiais.
-Isso significa que...
-Sairá mais vezes.
-Não acredito!
-Acredite. Tive uma boa conversa com seu pai e ele me convenceu de cometer uma loucura como essa.
-Obrigada, mãe. Eu juro que não irei decepciona-los.
-Eu seu que não, querida. -May acariciou o rosto da filha e sorriu antes de deixar o quarto e fechar a porta.
-Como é lindo...-Cora se olhava no espelho balançando lentamente a saia do vestido.
-Realmente.
Ao olhar para o canto do quarto pelo espelho viu a figura de um homem com chapéu. Virou-se assustada mas não havia mais nada lá
-Onde você está?!
-Bem aqui...
Cora voltou sua atenção para o espelho outra vez e o reflexo mostrava o homem atrás dela, bem próximo, sendo possível notar a diferença de tamanho entre os dois
-Não se aproxime assim de mim!
-Já disse que não posso toca-la.
-Sabe que não é preciso de toque para deixar alguém desconfortável. Suma! Quero provar meu presente.
-Qual é o problema?
-Não posso me despir com um homem no quarto.
-Não sou mais um homem.
-Mas foi. Sei que está tentando me corromper.
-Te corromper? O que eu ganharia com isso?
-Não sei. Me diga você.
Wendy viu ele sorrir pelo reflexo enquanto inclinava a cabeça para baixo
-Mesmo que eu quisesse te corromper de alguma forma você não teria malícia para cair em tentação.
-Está me chamando de burra?
-Você ao menos sabe como o corpo funciona?
-O meu sim!
-O seu...claro..
-E o que seria necessário além disso?
-Não sabe nada sobre o corpo masculino, sabe?
-Que tipo de pergunta é essa?!
-Como imaginei...
-Cale-se!
-Que raiva toda é essa? Foi apenas uma pergunta.
-Não há nada que eu precise ou queira saber sobre um homem que não seja meu pai!
-Não? Não pretende ter uma vida além dessa? Ter uma família ou..
-E por que eu precisaria homens pra isso?
-Como é?
-Não preciso conhecer esse tipo de coisa para ter uma família.
-Cora...você sabe de onde vem o ser humano?
-Do amor de duas pessoas.
-Não quero saber de metáforas. Você sabe a verdade?
-Vem do amor!
-Não está errada, mas o amor foi apenas o começo para que estivesse aqui.
-Não vou cair nesse truque, já entendi que sua intenção é fazer eu achar que estou sendo enganada por meus pais.
-Você está. Foi manipulada do momento em que nasceu até aqui.
-Me deixe em paz! Saia! -Cora jogou um sapato no espelho, que foi despedaçado fazendo um som alto.
Passos rápidos foram ouvidos na escada que levava ao quarto da jovem e seu pai abriu a porta acompanhado de May, que estava assustada e com os olhos arregalados
-Cora?! O que houve?! Que barulho foi esse?!
-Mãe...pai..
-O que foi que aconteceu?!
-Eu só...nada. Não foi nada. Vi um bicho e acabei me assustando, só isso.
-Que tipo de bicho? Você não é de se assustar com animais.
-Ele estava me incomodando. Me incomodando muito.
-Tem algo acontecendo? Tem agido de maneira estranha ultimamente, falando sozinha e...
-Um amigo imaginário!
-O que?
-Tenho um amigo imaginário.
-Amigo imaginário? Que ideia é essa? -May cruzou os braços.
-Não tenho amigos, então...dei um jeito de resolver o problema.
-Você tem a mim e seu pai! Não acredito que depois de tanto tempo começou com bobagens como essa. Por que não conversa com os animais, como antes?
-Conversar com os animais? Acha melhor eu conversar com animais e achar que vão me responder ao falar sozinha?
-Acalme-se mocinha, não pense que pode falar assim comigo!
-E por que não? Não sou mais apenas uma mocinha! Não vão mais me manipular!
Simon entrou na frente de sua esposa com uma expressão séria no rosto e se aproximou lentamente da filha
-Manipular? Onde aprendeu essa palavra?
Ela permaneceu em silêncio e deu um passo para trás
-Responda! Quem te ensinou o significado disso?!
-Ninguém! Apenas li em um livro e...
-Não minta para mim. Todos os livros que tem fui eu quem te dei, e sei que não tem nada disso pois li um por um antes de estar em suas mãos!
-Cora...saiu de casa enquanto estávamos fora?
-O que?! Não! Eu nunca faria isso!
-Para onde foi? O que disse sobre nossa família? Contou sobre nossas vidas para alguém?!
-Não! Eu já disse que não!
-Já falei para não mentir! -Simon rangeu os dentes e acertou a filha com a parte traseira da mão.
Cora sentiu a dor de um tapa pela primeira vez e esfregou sua bochecha com as mãos, com os olhos cheios de lágrimas e um olhar de espanto em seu rosto
-Vai seguir nossas regras e viver como mandado. Minha filha não será uma vadia pecadora, entendeu bem?

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Me and The Devil
Mystery / ThrillerO amor costuma ser interpretado como algo puro, que muda e leva alegria ao coração das pessoas. Mas o que acontece se um obsessor se apaixonar por uma humana?