IX

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-O que?

-Por que não o leva para conhecer o gramado enquanto conversamos?

-Mas...não há nada além de árvores e...

-Tenho certeza de que são árvores encantadoras. -Dom levantou-se e caminhou até a porta, abriu e esperou que cora fosse primeiro em sinal de cavalheirismo.

Ao lado de fora, nenhum som além das folhas balançadas pelo vento

O silêncio era um tanto constrangedor e mesmo assim nenhum dos dois parecia capaz de interrompe-lo

-Vocês vieram de muito longe?

-Poucas horas de carro.

-Legal...bom, esse é o gramado.

-Tanto espaço vazio.

-Não é só um espaço vazio, é um belo gramado.

-Seria mais útil depois de algumas construções, não acha? Tem espaço suficiente para mais uma casa ou até mesmo algo que de lucro.

-Por acaso têm interesse em nossa terra?

-Nenhum.

-Pois parece.

Dom riu e colocou as mãos no bolso depois de ajeitar as mangas da camisa

-Foi apenas uma sugestão.

-Eu sugiro que não diga coisas sem pensar.

-O que foi? Te irritei apenas por falar do gramado?

-Aqui é o único lugar onde posso me sentir livre. Não quero que ideias como a sua tire esse espaço de mim.

-Ouvi dizer que foi criada sem contato com quase todas as coisas do mundo, é verdade?

-E por que quer saber?

-Para ser sincero, não acho que seja verdade. Você seria mais ingênua e talvez até mais calma.

-Não me conhece, não pode dizer o que sou ou deixo de ser.

-Se fosse ingênua como quer que eu ache que é, não teria se arrumado tanto apenas para cumprimentar as visitas.

-O que quer dizer com isso?

Dom deu alguns passos se aproximando de Cora colocando os braços atrás das costas

-Se arrumou com intenção de passar uma boa impressão.

-Por acaso comeu algum cogumelo enquanto andávamos?

-Não estou julgando você, de forma alguma. Está realmente encantadora, querida.

-O que?! Não diga isso outra vez!

-Olha só, está com vergonha...

-É você quem deveria ter vergonha por  falar coisas assim sem nem me conhecer!

-É você quem não me conhece, Cora. Ouço falar de você há meses.

As folhas se agitaram com mais agressividade quando por um momento o vento soprou com força empurrando Dom três passos para longe de Cora

Ela olhou envolta estranhando aquele aumento repentino de vento e entendeu o que poderia estar acontecendo ao olhar para sua janela

Lá estava ele com seu chapéu preto, mas dessa vez era possível ver o brilho de seu olhar frio observando com descontentamento a interação entre os dois

-O que foi? O que está olhando?

-Não interessa.

-Não seja rude comigo. Vai gostar do que está para acontecer.

-Não vou gostar de nada que esteja relacionado a você!

-Nao importa o que tem a dizer, fará o que lhe for mandado.

Dom olhou a garota por alguns segundos antes de virar-se e voltar para perto da casa, onde seus pais e os de Cora conversavam sorrindo e se despedindo

-Pretendem ir agora?

-Sim. Precisamos comunicar mais alguns convidados, certo?

-Oh sim, é uma pena. Cora é doce ao se comunicar, é uma pena que nossa conversa tenha durado pouco.

-Fico feliz que tenha gostado da nossa menina. Ela tem tido atitudes fora do comum e acredito ser falta de interações como essa.

-Claro, Simon, é por isso que estamos aqui.

Cora os observava de braços cruzados enquanto via o carro sair ainda sem muita velocidade pela estrada ainda dentro de sua propriedade. Dom, no banco de trás, acenava sorrindo

Assim que teve certeza de que não voltariam mais correu para dentro de casa, onde May e Simon recolhiam as louças usadas conversando. O homem, ao olhar para a filha, suspirou observando-a pensando em como poderia falar o que estava em sua mente

-Parecem felizes, qual é a boa notícia?

-Fomos convidados para um jantar, eles nos convidaram.

-Nunca nos levou com você a um jantar de negócios.

-Não é um jantar de negócios. É apenas algo entre amigos, um jantar em família.

-Mas não são nossa família.

-Idependente do motivo que você acha que precisa ter para comparecer à um jantar, fomos convidados e estaremos presente.

-Dom disse que passaram horas na estrada.

-Tenho certeza de que não foram mais de duas horas.

-O que tem de tão especial num lugar tão longe?

Simon deixou os objetos na pia e se aproximou, tocando sua testa na dela e colocando as duas mãos gentilmente nas bochechas da filha

-Cora, agi de forma incomum com você ao ser agressivo e rude, peço desculpas. Estou arrependido de machuca-la e farei meu melhor para que isso não se repita, mas, por favor,  não dificulte as coisas.

Me and The Devil Onde histórias criam vida. Descubra agora