Me and The Devil

I

O que seria do ser humano sem suas vontades? Sem o desejo, a ganância e os atos considerados pecado que os levam mentir e enganar os outros e a si mesmos?

Como viveria um ser humano que não tem culpa alguma? Pecado algum? Já que, de acordo com alguns, um simples pensamento ou ato curioso pode levar a alma a uma eternidade de tortura e sofrimento.

"Impossível,  a não ser que a pessoa viva sem contato com o mundo e outras pessoas"

Oh sim, e assim vivia Cora, uma jovem de dezoito anos que morava num capo com sua família formada apenas por três pessoas. Era tratada como uma joia preciosa e sensível por ser a única filha do casal, que agia com superproteção extrema.

Acontece que quanto mais belo e puro algo for, maior é o desejo de corrompe-lo ou prova-lo, e os pais de
Cora sabiam disso.

A menina vivia em uma rotina que seguia desde quando adquiriu tamanho e força o suficiente para cumprir suas tarefas, acordar, cuidar de si, cuidar dos animais e cuidar da casa. Não tinha contato com as pessoas e costumes da cidade, já que quando o carteiro ou  alguém de fora aparecia ela era trancada no quarto, mas como uma boa menina nunca estranhou ou questionou os pais por isso.

Não até seu pai comprar um carro.

Como todos os dias, estava arrumando seu quarto no segundo andar e ouviu um barulho estranho, um barulho alto que nunca ouvira antes. Olhou pela janela e viu um...o que era aquilo?
Desceu as escadas deslisando pelo corrimão (uma das únicas formas de se divertir ali) e correu até onde a máquina estava.

-Bom dia, minha querida! -Disse o pai ao sair do carro.

-Uma coisa nova!

-Sim, é um carro.

-Então assim é um carro? Como funciona? Posso estar ali com você?

-Tenha calma, Cora. Onde está sua mãe?

-Oh meu Deus! Meu Deus! - Exclamou May, mãe da jovem.

-Isso facilitará minha locomoção para o trabalho e outros afazeres na cidade.

-Por que precisa trabalhar mais? Temos tudo o que precisamos.

-E precisamos manter o que temos, certo? Bom, agora posso cumprir minha promessa.

-Promessa? Que promessa?

-Ele prometeu me levar até a cidade quando tivesse uma forma mais rápida de chegar até lá comigo!

-O que?!

-Só por um tempo, enquanto fazemos as compras.

-Não. De jeito nenhum. Não concordo com essa ideia! Ela ficará dentro de casa como sempre!

-Não vai levar mais de meia hora, vamos...não acha que ela merece? Já tem dezoito anos...

-Posso...pensar sobre...mas saibam que não gosto da ideia!

A mulher saiu e Cora comemorou em silêncio com seu pai. A primeira vez em dezoito anos a ver muitas coisas diferentes de uma só vez, o que poderia dar errado?