II

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-Qual é o problema? Ela não pode ficar trancada aqui para sempre.

-É muito perigoso! Sabe do que estou falando! E se ela se interessar por algo mundano?! O que faremos?

-E o que fará quando não estiver mais aqui? Hm? Vamos deixar a pobre garota apodrecer dentro de um quarto? Ela irá e pronto, está decidido.

-Não tem vergonha de entrega-la ao pecado com tanta facilidade?

-Pecado? May, vamos apenas fazer compras.

-Pois eu vou junto.

Pouco tempo depois os três saíram de casa, Cora vestia um vestido que cobria seus braços, pescoço e pés, deixando apenas seu rosto livre.

A jovem passou o caminho todo sem tirar os olhos da janela, vendo as casas coloridas e pessoas andando juntas pelas ruas.

Mulheres bem vestidas desfilavam pela calçada sorrindo para os homens de terno e chapéu, assim como seu pai se vestia ao ir trabalhar.

-Chegamos. -Simon, pai de Cora, disse abrindo a porta do carro para a esposa e filha saírem.

-Vamos, não quero demorar.

A família entrou no armazém e o pai sorria ao ver a alegria da filha ao descobrir como funciona um lugar como aquele, observando o comportamento de outras pessoas e aproveitando cada detalhe

-Cora! Fique perto de mim! Não toque em nada.

-May, posso conversar com você por um momento?

-Quando estiver em casa.

-Agora! -O homem puxou a esposa para um corredor um pouco mais afastado.

-Onde será que esses dois vão?

Cora virou-se e deu de cara com algo, ou melhor, alguém. Um homem alto de chapéu, chapéu esse grande o suficiente para que seu rosto não pudesse ser visto. Exalava um cheiro forte mas não ruim, algo semelhante a um chá usado para tratar de suas doenças

-Oh! Peço desculpas por isso, não acontecerá novamente.

Disse enquanto saía de cabeça baixa, mas não houve resposta, ele apenas a seguiu com os olhos até ela sumir de seu campo de visão.

-Onde estavam? Por que me deixaram sozinha?

-Estava apenas conversando com sua mãe enquanto você explorava as frutas que ainda não conhecia.

-Podemos nos retirar? Quase esbarrei em um homem e...

-Esbarrou em um homem?!

-Bem...sim, mas pedi desculpas e...

-Vamos agora. -May segurou o braço da filha e foi para o carro sem nem esperar o marido.

-Mãe, qual é o problema? Aconteceu alguma coisa?

-O que esse homem disse? Ele tocou em você? Conversou com ele?

-Não, está tudo bem. Ele ao menos considerou meu pedido de desculpa.

-Isso foi uma péssima ideia! Veja o que aconteceu! Não quero você interagindo com homens, não são confiáveis!

-O que? Mas e o papai?

-Seu pai é diferente, ele é conhecido. Não fale com estranhos, ouviu bem?!

-Sim senhora...ouvi...

-Me desculpe, querida...só faço o que posso para te proteger desse mundo cheio de pecados e coisas que nos afastam da perfeição.

-Eu sou perfeita?

-Sim meu amor, você é a mulher mais perfeita desse lugar.

Assim que Simon colocou as coisas no carro, seguiram o caminho de volta para o campo. Novamente, Cora estava tão distraída que não pôde notar o homem de chapéu parado na entrada do armazém, observando o carro até onde foi possível

Me and The Devil Onde histórias criam vida. Descubra agora