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— Gatinho, tu tem certeza que não vai comer mais nada? — Julio perguntou ao entrar no cômodo onde costumava ser seu quarto, na casa de Jussara.

— Tenho, Ju

Julio não estava tão certo daquilo, geralmente Tulio comia igual um passarinho e logo depois já estava com fome.

Por isso, serviu para si um pouco mais da macarronese da mãe, dando algumas colheradas na boca de Tulio, garantindo que seu namorado não fosse desmaiar no meio do caminho até a praia de Copacabana.

Aceitando a comida deliciosa dada em sua boca, Tulio garantia que nada cairia em sua roupa nova, principalmente porque era branca.

— Tu quer refri?

— Não, eu já falei que tô satisfeito — Tulio negou, terminando de mastigar, mas sabendo que em minutos Julio apareceria com um copo de refrigerante na mão.

Adorava como, em pouco menos de um mês morando juntos, Julio já o conhecia nos detalhes.

Era a primeira vez que ia passar o ano novo longe da casa que costumava chamar de sua. Claro que parte de si estava triste com o rumo que as coisas tomaram, mas a alegria de ter ganhado uma nova família era superior à tristeza.

Passariam a virada de ano na praia, assistindo à queima de fogos que costumava ver na televisão. Seria uma experiência e tanto.

Com a cidade fervorosa para o ano novo, Tulio e a família de Julio foram mais cedo para pegar o metrô mais vazio.

Os olhos de Tulio observavam cada mínimo detalhe de tudo o que poderia capturar, parecia que estava descobrindo realmente o que era o Rio de Janeiro.

Quando conseguiram chegar até onde estava alcançável, onde poderiam ver com folga os fogos, forraram o chão com toalhas grandes e se sentaram para esperar.

Perto dali, algum artista famoso fazia seu show, mas existiam também pessoas com caixas de som, fazendo a experiência auditiva ser um grande mingau de Brasil.

Julio puxou o namorado para sentar entre suas pernas, deixando o ruivo livre para se recostar sobre seu tronco o quanto quisesse.

Jussara estava sentada em sua cadeira de praia, bebendo sua cerveja e aproveitando momentos com o marido.

A mulher havia trabalhado em sua casa por anos, mas Tulio nunca havia visto ela realmente sorrindo, relaxada, quase nunca falava sobre o marido.

Julio ofereceu à Tulio um pouco da caipirinha que bebia e o ruivo deu um pequeno gole.

— Não quero beber muito hoje, não quero esquecer de nada — explicou ao devolver o copo para o namorado.

— Tu não vai esquecer, sabe por que?

— Hum?

— Porque isso aqui já vai virar uma lei nas tuas viradas de ano. Vamos vir passar aqui muitas vezes, até você enjoar ou até eu ter dinheiro suficiente para passarmos ali — Julio apontou para o prédio do outro lado da rua. Copacabana Palace.

Julio deu uma risadinha, negando com a cabeça.

— Você não vai gostar de passar o ano novo lá

— Tu não vai me dizer que aquele lugar é chato, vai? — Julio perguntou incrédulo.

— É um lugar grande, tem bastante coisa, mas não tem… — Tulio procurou palavras —... felicidade. As pessoas são contidas, a música é sem graça, a vista é linda e a comida é uma delícia

— Dois pontos positivos e dois negativos

— Te garanto que tem muito mais pontos negativos

— E onde eu te levo pra passar o Réveillon, quando eu for rico?

ALGO PARECIDO 2Onde histórias criam vida. Descubra agora