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— Tô me sentindo um cachorro — Julio reclamou puxando um pouco a gravata borboleta impecável.

— Para de puxar, você vai desarrumar tudo — Juliana bateu no ombro do irmão, exibindo a barriga grande de sete meses de gravidez — Rafael, para de correr! — ela segurou a criança que acabara de passar por ela — Se você não parar agora, vou deixar você de castigo com o tio Julio

— Ei! — Julio franziu a testa — Não me prontifiquei a ficar com ninguém

— Você e ele vão ficar de castigo, expliquei melhor?

Julio revirou os olhos e mostrou a língua, fazendo o sobrinho rir.

— Chata

— Para de fazer essas coisas na frente do Rafael, não dá exemplo. É assim que você quer que seus filhos sejam?

— Claro que não

— Ainda bem que eles vão ter o Tulio como pai, porque se depender de você…

— Juliana, mais uma vez, fica caladinha que da criação dos meus filhos cuido eu, ta? — Julio revirou os olhos pela milésima vez.

O mais engraçado de tudo é que não tinham filhos e não planejavam ter por enquanto. O único que podiam chamar de filho era o gato laranja chamado Diego que encontraram abandonado e agora cuidavam.

Julio detestava gravata e paletó. Detestava concertos musicais.

Mesmo após dois anos da formatura de Tulio na faculdade de música e Julio ter ido em incontáveis apresentações, ainda detestava aquela pompa. Mas por Tulio, iria em todas as apresentações, todos os saraus e exposições sobre música.

Não tinha a sensibilidade para sentar e apreciar o conjunto de instrumentos que se apoderavam do espaço e faziam da esfera um novo universo.

Mas sentava em uma das cadeiras antigas de algum teatro e passava a hora inteira olhando apenas para uma pessoa. E aí tudo fazia sentido.

Não sabia o que era música da mesma forma que a maioria dos amantes que iam ao teatro apreciar, mas, para ele, Tulio era a música. E isso era mais do que suficiente.

Se lembrou de como Tulio estava ansioso, uma pilha de nervos. Afinal, era sua primeira apresentação oficial como músico da Orquestra Sinfonica Brasileira.

Enquanto Julio esperava impaciente pelo passar da hora, um carro se aproxima deles e o preto se prontifica em abrir a porta para a mãe sair.

Leo, marido da irmã, havia ido buscar Jussara e também iria levar embora o filho, Rafael, que estava mais empenhado em correr na calçada do teatro do que qualquer outra coisa.

— Achei que fosse me atrasar

— Ainda faltam 15 minutos — Julio tranquilizou a mulher, conferindo em seu relógio.

— E como ele ta?

— Nervoso, né? Não sei porque. Ele é, de longe, o melhor dos violinistas dali

Jussara deu risada.

— Já disse isso pra ele?

— Um milhão de vezes, mas quem disse que ele acredita? — Tulio deu de ombros.

Observou o sobrinho entrar no carro do pai, resmungando pois queria ficar para correr mais.

Juliana alisou a barriga enquanto acenava para o filho até que o carro estivesse distante o suficiente.

— Vamo entrar? Não quero me atrasar — Julio apontou para o teatro atrás de si.

— Ta muito ansioso pra quem detesta concerto — Juliana provocou.

ALGO PARECIDO 2Onde histórias criam vida. Descubra agora