• capítulo cinco: verdade.

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Desistência sempre foi um sentimento contrário da minha índole, tudo que um dia eu absorvi para refletir em minha personalidade, todo o aprendizado, em nenhum momento me vi desejando desistir daquilo que eu já tinha traçado para mim mesma e aquele momento era um perfeito exemplo do quão desgovernada eu conseguiria ser tendo uma forte dose de determinação enquanto me deixava ser guiada por aquele aspecto imune a renúncias.

A escuridão engolia meu corpo me transformando refém do que ela escondia, o qual não enxergava e muito menos sentia, mas o temor era presente como fogo ardente machucando meu estômago, lhe puxando, revirando do avesso, tentando tira-lo para fora.

A umidade da caverna transpirava em minha pele, uma imitação grotesca de suor que impregnava nos poros e me fazia estremecer sob uma sensação gelada, quase mórbida, porém nada impedia meus pés de continuar se movendo até a luz amarelada que iluminava a entrada direita de uma curva estreita, um caminho solene qual resolvi traçar.

Estava tudo ali. Tudo. Cada foto, cada prova, cada ameaça. Tudo aos meus pés, nas paredes, em todos os lugares onde meus olhos conseguiam alcançar, principalmente na mesa enferrujada que descascava a tintura antiga sob diversos papeis e fotos de Hannah vivendo seu cotidiano.

Caminhando.

Almoçando em um restaurante local.

Conversando com pessoas na rua.

Escrevendo em um caderno, dentro do seu quarto.

Tudo perfeitamente fotografado de uma vasta distância.

Toques sonoros repetitivos ecoaram pelas paredes daquilo que parecia uma caverna, as grandes rochas compondo todos os cantos fechados auxiliavam na dilatação do som que meu celular emitia sem cessar e então foi assim que descobri que, de alguma forma, havia sinal para meu aparelho dentro daquele específico espaço.

— Lily, eu estou bem! Mas eu achei.. – a adrenalina tomava conta do meu corpo conforme eu andava para frente, pisando em fotos, olhando para cada prova, todas aquelas que antes estavam na casa de Michael Hanson, mas a forma como Lily me cortou em grande desespero fez esse mesmo sentimento morrer no exato segundo na boca de meu estômago.

— Cecy, você precisa sair daí agora, o Homem sem Rosto mentiu pra você! A Hannah não está aí, por favor, vai embora! – ela mal respirava, as palavras quase não tiveram espaço entre uma e outra, simplesmente falou e agiu conforme seu medo comandava. Ela estava morrendo de medo, eu sentia.

— Ela está! Lily, eu encontrei todas as provas que estavam na casa do Michael, está tudo aqui na frente dos meus olhos nesse exato momento, eu estou mais perto da Hannah do que nunca! É só questão de tempo até – e novamente tive minha fala cortada pelo medo insistente.

— O Jake está aí também.

A forma como tudo ao redor simplesmente congelava quando o nome dele era dito não importasse qual boca proferia é simplesmente inacreditável, até mesmo para mim, era como se eu nunca fosse me acostumar com a forma que meu corpo e mente reagia com sua presença, seus efeitos inebriantes estariam pregados em mim eternamente e eu sabia disso.

Eu não respondi, eu apenas não consegui.

— Ele encontrou uma cela vazia junto com o casaco de Hannah que ela usava no dia que desapareceu.. ela não está mais na mina.

E eu soube disso no momento que o ríspido e seco som de clique assobiou em meus ouvidos enquanto arranhava minhas costas, a escalando para enforcar meu pescoço com o temor de ter uma arma carregada e apontada diretamente para ela, o "clique" insinuando o quão próximo estava e sua prontidão para me enlaçar com a morte, então a dor dilacerante percorreu em minhas entranhas, sugou todo resquício de valentia e me secou em pele morta, porque eu sentia isso.

afterlife • jake donfort/duskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora