• capítulo oito: ele.

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Estar me acostumando com a dor era algo angustiante mas tão real que eu podia sentir, sentir a agonia incorporando em minha pele, a tensão enrijecendo os músculos, a aflição impregnada em cada partícula sanguínea espessa que, de repente, parecia se esvair do meu corpo, mesmo que fosse uma desastrosa metáfora, ainda doía semelhante a sangrar até afogar cada parte da alma e então a matando.

A dor física equivalia a mesma quantidade de exaustão psicológica que acabava com meus neurônios no momento nada funcionais, pois nada passava por minha mente, o vazio ecoava nas paredes do meu cérebro na trave daquela informação qual não conseguia assimilar de maneira alguma, percebendo que eu só não entendia a razão, o fundamento daquilo tudo.

Por que aquele homem refletia tanto ódio atrás dos olhos que eu nem conhecia, sendo que esse ódio era depositado somente em mim agora?

— Eu sabia que ele não conseguiria seguir com essa merda, eu sempre soube o quão fraco ele era, só não conseguia admitir para mim mesmo. – Ele cuspia as palavras com desdém, a saliva escorrendo nos dentes evidentes conforme ele rangia um nos outros, tornando tudo mais grotesco – Vocês acabaram com a vida do meu filho, meu filho! – Berrou, tremendo os ossos do rosto junto com as veias subindo a garganta – Desde o dia que aquela vadia trouxe ele no meio disso tudo.. que merda se passou na cabeça daquela garota em levar um corpo morto na porta da minha casa, nas mãos do meu filho?! E tudo isso.. todo esse sacrifício, você aqui nos meus pés.. tudo por conta dela? Você acha mesmo que ela faria o mesmo por vocês? Depois do que ela fez com a vida do meu garoto, você acha mesmo que ela se arriscaria pela porra dos amiguinhos?

Grunhi engolindo a dor, meu corpo se arrastando como se eu estivesse derretendo, tudo ocasionando ao desastre de estar ali, machucada, angustiada, a mercê do que aquele homem seria capaz de fazer comigo e esse pensamento foi o estopim para a concentração do meu próprio domínio, respirando fundo, secando a garganta, fechando os olhos para que aquela maldita dor fosse embora.

— Que decisão de merda. – Henry resmunga em alto tom com os pés se aproximando – Você não sabe o que é perder tanto.. tudo isso! – Eu não o enxergava, minha cabeça pendia para o chão, o cabelo solto cobria meus arredores e eu me recusava a me mover, mas eu senti que ele apontava para tudo em sua volta – Eu perdi por conta daquela menina! Ou você acha que eu conseguiria manter um negócio com meu filho transtornado após cometer a porra de um crime que ela induziu ele a fazer? Era um corpo morto, a droga de um corpo que ela matou!

Respirar. Eu não podia deixar de concentrar naquela respiração. Não podia o olhar para ele.

— Mas Richy falhou desde o momento que passou a senha pro Thomas.. – Seus passos eram lentos e minuciosos, mas eu ouvia cada um atentamente, principalmente quando eram envolta do meu corpo deitado no chão, o circulando como se quisesse criar uma prisão imaginária -  Você não sabia, não é? Nunca foi um número de celular, não era pra você estar aqui, prestes a morrer.. você, Cecily Gargari, não era parte do nosso plano e sim o tempo todo só foi a porra de um empecilho por meio de um engano idiota. – Grunhia, cada vez mais alto – Eu lembro daquele dia.. lembro que eu pedi para ele salvar a senha daquele freezer no celular porque ele seria o único a saber, ele estava o celular da Hannah também, eu só fui perceber que ele estava digitando no celular dela e não no dele depois dele mandar a mensagem pro Thomas, a sorte daquele moleque é que ele conseguiu esconder isso muito bem de mim, apagando a mensagem minutos depois.. ele iria falar o local em seguida se eu não tivesse ficado com o celular pra mim.. ele estava com tanto medo, tão fraco.

A dor foi embora ou pelo menos eu achava que foi, talvez fosse a raiva consumindo minha sanidade sugando tudo que era de fato lúcido em meu sistema nervoso, mas eu preferia não saber, não com um lunático tão próximo. Mas não o suficiente.

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⏰ Última atualização: Jul 28 ⏰

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afterlife • jake donfort/duskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora