Um estabelecimento abandonado.
As paredes descascadas, a madeira apodrecida dos batentes envolvendo as portas de entrada, os galhos crescendo com suas folhas inundando os muros, uma imagem de teor antigo era o que se encontrava no destino do endereço qual Richy berrou beirando o fio de sua própria morte no fogo latente, enfatizando a magnitude de sua informação, como se aquele endereço fosse a chave para todas as portas ainda trancadas daquele caso que parecia não ter solução.
— Não é surpresa.
Dan. Ele resmunga as poucas palavras em um sopro rouco enquanto mantinha o olhar fixo na grande construção em sua frente, pendendo para os lados já que seu próprio peso dependia das muletas que estavam enlaçadas uma em cada braço, abaixo de sua curvatura, um auxílio obrigatório que ele não escondia detestar e tudo aquilo apenas coincidia com sua razão do quão desastroso seria aquela situação onde meus amigos descobriam que eu escondia algo.
O que eu poderia dizer? Eu ao menos poderia julgar Dan, já que nesse exato momento era para meu corpo estar repousando numa cama confortável que iria contribuir na minha recuperação, cessando a dor muscular que insistia em me atingir, por mais que a insistência do meu vigor gritasse mais alto dentro de minha mente. E então, o que eu poderia dizer para eles que os convencessem a me deixar sair do quarto e da vigia de Jessy no meio de todo aquele caos?
E foi assim que chegamos no cenário atual. Eu, Dan e Jessy em frentes á um lugar qual eu nunca havia visto em minha vida, o contrário dos dois que exalavam familiaridade com ele.
— Não é surpresa? – Indaguei, cruzando os braços rente ao peito.
— Cecily, aqui era o restaurante dos Rogers. – A voz apagada de Jessy me esclarece a situação.
Restaurante? De repente, eu me sentia uma intrusa ou uma simples desconhecida, por não conseguir associar nada do que os dois pareciam conhecer e muito, onde nem mesmo palavras eram necessárias para conversarem entre si, os olhares já gritavam um para o outro.
— Antes da Roger's Garage existir o pai de Richy era chefe de cozinha, um dos melhores de Duskwood, era o sonho dele ter esse lugar e que a família seguisse o legado.. Richy odiava o trabalho, atender mesas nunca foi seu forte, mas ele sempre fazia de tudo pra agradar o pai. – Por um segundo quase inexistente ela deixou escapar um riso fraco, um riso que mostrava muito o contrário de alegria, revelava o seu cansaço e angústia. – Um dia eles simplesmente fecharam o lugar, Richy sempre me dizia que era por problemas financeiros, o que na época foi tão estranho porque era o restaurante mais bem visto da cidade e muito bem frequentado, mas, bem.. agora talvez faça um pouco mais de sentido.
— Foi pouco tempo depois do festival, no caso, da morte de Jennifer. – Dan concluiu, cerrando os lábios moldando uma carranca inconfundível. Estava odiando falar sobre aquilo.
De repente algumas ligas de pensamentos tomaram forma dentro de minha mente, se conectando uma com as outras, rápido demais, rapidez que causou os duros nós que representava os furos nas hipóteses que nasceram em meu raciocínio.
— O que isso significa? Richy fez o pai dele fechar o restaurante pelo o que fez? O pai dele sabe o que ele fez? – as perguntas saiam conforme as peças iam se encaixando em suposições sem conclusões, retóricas por não esperar uma resposta concreta.
— Quem sabe? Essa imitação de corvo idiota é capaz de qualquer coisa. – Dan resmunga outra vez, mas muda a postura em questão de poucos segundos ao captar o olhar entristecido de Jessy.
Era recente, até mesmo para mim, imagine para ela que o tinha como um irmão durante tanto tempo. Desde o momento em que soube da verdade, ela não deixou transparecer para mim o quão quebrada estava por dentro, as rachaduras estavam escondidas atrás daquela superfície falsa de valência, mas eu enxergava o vazamento nas linhas tortas, as lágrimas que segurava, os suspiros cansados, o semblante angustiado. Cada detalhe que doía.
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afterlife • jake donfort/duskwood
FanfictionNinguém saberia explicar a vida após a morte, ninguém nunca voltou do solo quente do próprio inferno ou do conforto inebriante das nuvens do céu para dizer em palavras a experiência lúcida e cruel de não ser mais um habitante do mundo tão vil quanto...