CÁPITULO 2

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Em cima de um pequeno banco de três pernas, que balançava ao menor movimento, Rodrick instalava um chuveiro. Enquanto ligava os fios, tentava lembrar o sonho que teve, buscando entender o que era a sensação de angústia que estava sentindo. "Será que desliguei a energia?" Pensou. "Já tomei no peito o sopro elétrico de um dragão do ar, esse choquinho nem vai se comparar".

Era isso. O sonho era sobre os tempos de aventura. Seu coração acelerou só de lembrar da batalha contra o dragão. O misto de medo e adrenalina. Ele quis sentir a sensação de novo, mas lembrou que quase morreu nessa batalha. Não apenas ele.

A campainha da casa tocou. Sentiu um calafrio, se descuidou e deixou o conector de fios de cerâmica cair. O banco quase cedeu sob o peso dele. Não era supersticioso, mas sentiu como se fosse o suspiro de Nerall, sinais da chamada do destino.

Ouviu Lia, sua esposa, atender a porta e a voz de seu velho amigo, Thamior. Fazia tempo que ele não visitava. Foi recebê-lo só de shorts, nem se importou de vestir uma camisa e foi ver seu amigo. Rodrick era alto e musculoso, cabelo e barba curta, com alguns fios brancos começando a aparecer.

Encontrou o amigo já sentado na mesa. Era um elfo, cabelos loiros e longos, orelhas pontudas, rosto longo e fino. Como sempre, estava carregando um laptop e um tablet, ambos grimórios de mago. Para alguém com mais de 300 anos, até que estava acostumado com a tecnologia. Sem virar a cabeça na direção, usando apenas a visão periférica, o elfo cumprimentou Rodrick. "Ainda com essa arrogância, só para se exibir. Só não mando ver se eu to na esquina, porque provavelmente conseguiria".

Lia serviu uma caneca de café para cada. Sua gravidez era evidente, era jovem e bonita, tinha cabelos ruivos, usava uma blusa que deixava suas costas à mostra, toda preenchida por tatuagens de símbolos arcanos. As costas de ambas as mãos também tinham simbologia arcana tatuada.

— O que andam fazendo? — perguntou Thamior. "Só faltou perguntar como está o tempo. Ele devia ter terminado as pesquisas arcanas e ficado entediado".

— Ajudando no templo, curando um pouco, abençoando o que dá. Arranjando qualquer desculpa para usar magia — disse com uma risada contagiante. Por ser clériga de Titane, deusa da magia, cinema e artes, ela deveria sempre realizar alguma façanha mágica ou perderia a benção da deusa.

— Falando nisso, você pode... — Rodrick hesitou, era evidente que estava procurando a melhor forma de falar — consertar uma peça que deixei cair? — Sua esposa só balançou a cabeça. Ele tinha outra, era só uma desculpa para ajudar Lia a usar magia. Ela andava reclamando sobre como estava sendo difícil cumprir essa exigência da deusa.

— Se for simples eu ajudo — disse Thamior tirando um tablet — Tenho uma magia para concertos preparada. — Rodrick não conseguiu pensar em nenhuma desculpa para não ter que consertar.

Foram até o banheiro e juntaram os pedaços da peça. Thamior segurava o tablet com a esquerda, fazia gestos precisos e delicados enquanto pronunciava um encantamento. Um brilho branco emanou do tablet em direção a peça quebrada, unindo-a.

A magia usada era de nível baixo, considerada de aprendiz. Os vários pedaços se moveram sozinho e foram se unindo, porém, ficou algumas rachaduras, a magia só unia, não criava material. Por não passar confiança, preferiram deixar que Lia preparasse e usasse algo que tornasse inteiro, no dia seguinte. "Quem mandou se oferecer? Quis consertar, só para mostrar que podia. Ele deve estar se remoendo por não ter conseguido resolver".

Enquanto guardava a peça no seu quarto de ferramentas. Thamior virou a cabeça para olhar os equipamentos de batalha. Rodrick sabia que essa olhada foi de propósito, para que também reparasse. "Agora tem que virar para enxergar? Foi maldade isso".

O Ritual na BrumaOnde histórias criam vida. Descubra agora