O Ritual na Bruma

Capítulo 7

Não demorou muito para Brian descobrir o que aconteceu com Arita. Sem ele o que fez não parecia ter sentido. Era o único amigo que tinha sobrado no mundo. Agora estava sozinho.

Vários jornais ficaram a semana toda rodeando a escola e reportando o que aconteceu. Pelo menos a escola pagou o velório, que a família preferiu manter simples. As notícias não citavam as ações de Brian e Lia, era comum não enaltecer ações de aventureiros. Outra prática adotada pelos jornais, era evitar ao máximo citar a influência dos deuses, por isso a explicação de Lia foi mais precisa:

— Assim como as pessoas, os deuses não são totalmente bons ou maus, pelo menos a maioria. — Lia explicava — Titane abençoa tanto quem usa a magia para o bem ou mal, Faes ajuda os heróis inteligentes e ágeis do mesmo jeito que os espalhadores de mentiras, Jivana é a deusa da vida, mas também é responsável pela morte.

"O rapaz, — continuou Lia — estava sob a influência de uma deusa. Hartseer é, atualmente, a deusa do desespero, medo e tristeza. Mas nem sempre foi assim, antes ela era a deusa do povo Eerste, também da música, duelo e outras coisas. Na época, era conhecida como Godin. Reza a lenda que todas as raças humanóides racionais surgiram desse povo e de seu país. Ela era a única dos grandes deuses que vivia sempre entre nós. Não tendo um plano próprio. — vendo que Brian não entendeu, ela explicou — plano é uma espécie de dimensão. Cada deus vive na sua própria.

"Só que o país de seu povo, Koninkryk, foi o primeiro lugar onde a Bruma surgiu. Grande parte do povo Eerste foi destruído. O resto que estava espalhado pelo mundo, perdeu o seu lar. Pouco depois, devido a dor e tristeza, ela se tornou Hartseer. Ela não é uma deusa que as pessoas escolhem seguir, ela que decide seus seguidores. Para isso ela amplia os medos e outros sentimentos ruins até o ponto de só sobrar o desespero. Os clérigos dela espalham a mesma dor que ela sente. O bom é que o rapaz foi impedido no começo, se continuasse ele poderia se tornar um clérigo ou algoz."

O velório foi simples, a escola e a cidade pagaram por tudo. Estava presente a família de Arita, alguns professores, o diretor e Brian com sua família. Arita era sociável, mas não costumava criar amizades. Enquanto o caixão descia, Brian pensou "Então Arita morreu só porque uma deusa está triste?". Quando estava para ir embora, reparou que Rodrick e Thamior também estavam lá, bem afastados.

Brian convenceu seus pais de que deveria faltar às aulas, mas depois de três dias não deu certo e teve que ir para escola. Foi para o banheiro e raspou novamente a cabeça, agora que estava mais acostumado, parou de se cortar tanto. Sentou no fundo, próximo a parede, mas não adiantava, todos olhavam para ele.

No intervalo, escolheu o local mais isolado que conseguiu pensar, sentou no chão com as costas na parede. "Não falta muito, logo eu formo. E ai...". Queria voltar para sua casa e ficar deitado, não tinha vontade de fazer mais nada. Parou até de assistir séries e jogar. Mesmo sentindo o olhar de todo mundo, nunca se sentiu tão invisível e só.

— Não te vi na aula da Lia hoje — disse Anna. — ela perguntou de você. Como você tá? Essa é Aurora. — ela deu apenas uma aceno de cabeça, era visível que estava desconfortável de estar ali.

Anna sentou do lado dele, Aurora olhou ao redor e sentou na frente dele, ajudando o rapaz a permanecer escondido.

— Eu sinto muito pelo Liam — disse Aurora — fiz alguns trabalhos com ele. Era um cara muito engraçado, mas fechado. Teve uma vez que tava todo mundo conversando, eu disse um negócio, mas ninguém deu bola, mudaram de assunto, sabe? Mas aí ele retomou, só para eu não me sentir excluída. Parece bobo, só que foi muito importante. Até hoje eu penso que fazendo pouca coisa, a gente consegue fazer a vida dos outros melhor.