A vida só pode estar de brincadeira com a minha cara.
– Meu Deus, me desculpa senhora! Porra Sinclair, como você consegue ser tão desastrada?
Uma garota de cabelos loiros surge do mais completo nada e atinge meu rosto com o guarda-chuva que está em suas mãos. Ao perceber tal ato, começa a resmungar enquanto dá batidas em sua própria testa, se auto corrigindo.
Ela está falando de si mesma em terceira pessoa?
– Até tentando ajudar alguém eu faço merda! Me desculpa senhora. Eu estava passando e ao longe vi um vulto preto perto da ponte, até fiquei com medo de passar achando que era um fantasma. Ou pior, a morte querendo me levar. - ela ri de nervoso.
– Mas quando me aproximei percebi que minha hora não tinha chegado ainda, GRAÇAS! E o que eu estava vendo era só uma senhora sem teto. A senhora é gótica?
É, realmente a vida está de sacanagem comigo. Por que no meu momento mais decisivo surge isso? E eu tenho cara de senhora? Ainda por cima mendiga?
Fico a encarando expressando confusão e desaprovação. Nunca iria imaginar que ser confundida com uma moradora de rua iria atrapalhar os meus planos.
Permaneço calada sem saber como reagir.
– Hum, deve ser gótica mesmo. Nem gosta de falar. - ela insiste enquanto continua apoiando o guarda-chuva sob nossas cabeças.
– Caraca, eu nunca tinha visto uma moradora de rua gótica. O quê a senhora faz por aqui? Quero dizer, sei que não possui um lar mas não seria melhor procurar um lugar que não esteja a céu aberto?
Céus, que menina louca. Por que ela está agindo dessa maneira?
Depois de fazer todas essas perguntas ela tenta colocar sua mão nos bolsos de seu casaco, procurando por algo. A observo ficando cada vez sem paciência por estar com dificuldades devido ao guarda-chuva que também está segurando.
– Pode ficar segurando por um instante? - a loira pergunta e ergue a mão me entregando. Eu só aceito e continuo sem falar.
Passou alguns segundos revirando bolso por bolso e parece que finalmente encontrou o que queria.
– Aqui. Não é muita coisa mas é só o que tenho. A garota estende a mão até mim, entregando algumas moedas.
Eu devo ter morrido, ido pro inferno e este está sendo o meu castigo eterno.
Mandaram um demônio loiro para me atormentar?– Você está brincando comigo, né? - eu resolvo falar.
– Brincando? Não, não senhora! Eu realmente só tenho esses trocados. Acabei de voltar de uma festa e sabe como é, o dinheiro voa rapidinho. - ela tenta se explicar enquanto esvazia seus bolsos, mostrando que estavam mesmo vazios.
Ah claro. Pra alguém se comportar assim só poderia estar bêbada mesmo. Era só o que me faltava ter que lidar com uma alcoólatra agora.
– Pare de me chamar de senhora, por acaso está sem enxergar? E outra, eu não preciso dessas moedas porque eu não moro na rua como você está pensando. Na real, parece que você precisa bem mais delas do que eu. - começo a rebater tudo que ela disse.
Ela fica confusa e começa a se aproximar bem perto de mim.
– Ei! O que você está fazendo? - a questiono.
A loira por outro lado nada responde. Percebo o movimento de seus olhos me olhando dos pés a cabeça. Certamente ela está averiguando se sou uma velha ou não.
– PUTA! Digo, PUTS! - ela se atrapalha em sua fala ficando com uma expressão esquisita.
– Você também é uma garota! Mil desculpas, eu não tinha percebido. Mas tudo bem, pode ficar com as moedas e nem precisa me dar o troco! Não há necessidade de ter vergonha por ser sem teto só porque é mais nova!
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Quando a chuva cair novamente - Wenclair
RomanceLá vem a chuva outra vez Caindo na minha cabeça Como uma memória Caindo na minha cabeça como uma nova emoção Eu quero andar ao vento aberto Eu quero falar como os amantes fazem Eu quero mergulhar no seu oceano Está chovendo com você?