Olá, Sammy

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A obsessão não nasce do nada. Ela cresce como uma planta bem regada, alimentada por momentos aparentemente inofensivos. Pelo menos, foi assim que aconteceu com Olivia Bowen. Ela tinha nove anos quando notou que era diferente das outras crianças. Enquanto os colegas brincavam de forma despreocupada, ela estava sempre atenta aos detalhes mais sombrios ao seu redor. Ela sabia que não era normal ter tantos pensamentos ruins na sua idade.

Aos dez, teve que visitar sua primeira psicóloga. O incidente que levou a isso foi perturbador: ela havia ameaçado uma de suas colegas de classe por ter pego seu material favorito. A ameaça não foi uma simples repreensão infantil; Olivia olhou friamente nos olhos da outra menina e, com uma voz baixa e maldosa, prometeu machucá-la seriamente se não devolvesse o que era seu. O que ela não sabia, é que a professora havia visto tudo.

Sua mãe, obviamente, ficou sabendo, preocupada e assustada, achava que a filha podia ter problemas profundos com seus sentimentos. Afinal, não era normal uma criança ameaçar outra com tanta convicção. As primeiras sessões com a psicóloga revelaram pouco, pois ela era esperta o suficiente para mascarar seus verdadeiros pensamentos. Mas cada sessão seguinte, mês indo e mês voltando, virou um exercício de controle e manipulação para ela. Passou entender que a chave para evitar problemas maiores era parecer normal, ser a criança que todos esperavam que ela fosse, nem tudo o que pensava ou sentia deveria ser compartilhado. Aprendeu a falar sobre sentimentos comuns e, até a senti-los. A inventar histórias de arrependimento e a fingir uma compreensão que as vezes não existia.

As outras crianças choravam ou se mostravam arrependidas quando chamadas atenção, ela sentia uma calma inquietante. A raiva fervia sob a superfície, mas era a sensação de não saberem o que realmente se passava na cabeça dela que a satisfazia.

Mas Olivia não era de toda ruim. Ela tinha sentimentos reais, e era assim que sabia que não era tão má. Por mais que soubesse que ainda não tivesse chegado ao seu limite, ela reconhecia que era capaz de amor e afeto. Ela amava a mãe, o irmão, e até tinha simpatia pelo padrasto. Também tinha carinho pelos amigos, por mais que a irritassem as vezes. A situação com seu pai, no entanto, era outra. Ele tinha deixado sua mãe e ela quando tinha apenas sete anos.

Se lembrava vividamente do dia em que ele se foi. A confusão, o choro da mãe, a sensação de traição. Seu pai havia sido a primeira pessoa a quebrar sua confiança, a ensinar que o amor podia ser doloroso e impermanente. Ele simplesmente havia ido embora, como se não tivesse uma filha, e isso doía profundamente em seu interior. Embora ela tivesse superado a ausência dele ao longo dos anos — Pelo menos, ela fingia que sim. Já que sua criança interior ainda clamava por respostas e por um amor que nunca voltou.

Sua mãe nunca deu explicações claras, apenas dizia que ele tinha se cansado da vida de família feliz. Mas ela não era burra; sabia que algo tinha acontecido naquele dia, algo que foi cuidadosamente omitido dela. Talvez fosse por isso que Olivia se agarrava tão ferozmente às suas obsessões, tentando preencher o vazio deixado por seu pai.

Talvez. Era difícil de saber.

A mulher que a tinha colocado no mundo, fez tudo o que podia para criá-la sozinha até conhecer seu padrasto, com quem teve outro filho. Ela apreciava o esforço, a dedicação. Seu irmão mais novo, Adam, era uma das poucas pessoas que conseguia arrancar um sorriso sincero dela. Ele era inocente, cheio de vida, e isso fazia com que ela tivesse um instinto protetor em relação a ele. Já seu padrasto, embora não fosse alguém de quem ela se sentisse muito próxima, também não era um alvo de seu desprezo. Ele tratava sua mãe bem e cuidava da família, e isso era suficiente.

Olivia era um equilíbrio estranho. Nem totalmente boa, nem totalmente ruim.

Existia um território cinzento onde habitavam suas obsessões e seus afetos. Ela conseguia sentir um carinho profundo e também nutrir uma necessidade absurda de controle sobre aqueles que escolhia como sua presa.

𝗗𝗜𝗩𝗜𝗡𝗘 𝗟𝗢𝗩𝗘; 𝗦𝗔𝗠 𝗖𝗔𝗥𝗣𝗘𝗡𝗧𝗘𝗥Onde histórias criam vida. Descubra agora